Faculdade de Medicina da UFRGS

1988- Carta de Alvarino da Fontoura Marques

Caro colega Dr. Nicanor Letti.
Tenho lido, com interesse crescente, a Historia do Centro Acadêmico Sarmento Leite, que vem escrevendo no "Jornal da Amrigs". Como testemunha de muitos fatos, no periodo entre 1931 e 1937, considero-me com o direito de meter o bedelho no assunto. Ate a data da fundação da Universidade do Rio Grande do Sul, pelo Governador Flores da Cunha, o Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina tinha uma vida muito ativa, sobretudo, muito independente, porem sem vinculos oficiais. Os estatutos da nova Universidade concediam participação do corpo discente na direção da instituição mediante um lugar reservado ao representante dos estudantes, no Conselho Universitário. Para isso, as eleições de Centro Academico passaram a ser presididas pelo Diretor da Faculdade. Eu era, naquele tempo, representante de serie no Centro e candidato a sua presidência. A eleição foi muito disputada tanto que a perdi apenas por um voto para meu contendor e colega Gernot Wiltgen. Culpado fui eu mesmo porque votei em outro candidato por escrúpulo em votar em mim mesmo. Caso tivesse votado em mim próprio, o resultado seria um empate, e o Prof. Guerra Blessmann. que presidia a assembleia dos estudantes, teria dado seu voto de Minerva em meu favor, por ser eu o candidato mais antigo como estudante, era doutorando, enquanto Gernot era quarto anista. Tive de consolar-me com a vice-presidencia. Fui também representante da Medicina na FEUPA, junto com outros colegas: Jose Mariano da Rocha e Celso Papaleo. Havia campos opostos na FEUPA (Federação dos Estudantes da Universidade de Porto Alegre), um de centro-direita e outro de esquerda. Os primeiros tinham maioria formada pelas Faculdades de Economia e Belas Artes, alem de outros representantes, quase todos de orientação católica (Naquele tempo a juventude universitaria católica - JUC- tinha muita força). Na medicina, Mariano da Rocha era da facção centro-direita e conseguiu se eleger para a presidência da entidade, Papaleo e eu ficamos ao lado da minoria. Logo no inicio dos trabalhos, surgiu uma questão fundamental, a representação dos estudantes junto ao Conselho Universitario. Mesmo sem uma única manifestação oficial nesse sentido , resolvemos que o presidente da FEUPA comparecesse as sessões do Conselho Universitário, embora sem convite formal da direção da Universidade. A parada era dura porque o presidente do Conselho Universitário era o Magnifico Reitor André da Rocha, um dos últimos abencerragens do autoritarismo borgista, naqueles anos de ventos renovadores pós-revolução de 30. Quando viu o estudante dentro do recinto da sessão, perguntou-lhe secamente que desejava. O jovem declinou enfaticamente sua condição de representante do Corpo Discente da Universidade. Pura e simplesmente foi convidado a retirar-se, o que foi constrangido a fazer por não receber o apoio de nenhum dos conselheiros presentes. Assim começava a participação do corpo discente nos destinos da recem fundada Universidade do Rio Grande do Sul. Houve muitas outras lutas que estivemos empenhados, destacando-se a da preservação da Casa do Estudante - constantemente ameaçada por falta de recursose da defesa dos estudantes universitários vitimas de perseguições politicas. Naquela epoca, as atividades de esquerda estavam em confronto com os movimentos fascistas muito em evidencia. O integralismo tomava conta do pais, havia estudantes de camisa verde ate entre os residentes da Casa do Estudante; pelotões de "ballile" exercitavam-se no terraço da Italica Domus, bem defronte a Santa Casa, onde estudavamos; e os estudantes dos colegios alemãs vestiam o uniforme caqui da Juventude Hitlerista. O governo do General Flores, embora de fundo liberal, dava as suas prendidinhas e espancadinhas em estudantes comunistas. Um dos casos que lembro, foi o do nosso colega Adolfo Pffeifer Kkrebs que foi preso arbitrariamente e recolhido a Casa de Correção, por ser tesoureiro do Socorro Vermelho, entidade assistencial fundada pelo PC. O nosso grupo de esquerda, a minoria tinha a maior dificuldade em obter qualquer decisão da FEUPA. Valiamo-nos de prolongar indefinidamente as sessões, ate que nossos adversarios, menos crentes, abandonassem a sala e nos permitissem momentânea superioridade de votos, para desagrado do Sr. Presidente Mariano da Rocha, que era o líder da facção centro-direitista, sob orientação da JUC. Alem das atividades politicas a FEUPA era muito ativa no meios socio-recreativos e esportivos. Como havia bons atletas no meio universitario e não conrassem com recursos. fizemos um convénio com o Esporte Clube Americano, que resultou no Americano-Universitario. Um projeto elaborado por mim, para construção de uma Casa do Estudante com a contribuição de cada municipio do Estado, não foi levado adiante. A ideia era pretenciosa e supunha um estabelecimento de grandes proporções capaz de abrigar todos os estudantes necessitados, provenientes da capital e do interior. As proporções megalomegalicas do projeto e a decisão memoravel do Sr. Lelo de Almeida em doar um predio inteiro de apartamentos para a Casa do Estudante, em memoria de seu filho único, o advogado Aparicio Cora de Almeida, tragicamente desaparecido, ocorreram para meu projeto morrer na casca. Sãs estas as passagens que se conservaram em minha memoria, depois de 50 anos. Registro-as aqui como subsidio modesto ao teu magnifico trabalho. Vom os melhores augúrios, abraça-te cordialmente. Dr. Alvarino Fontoura Marque - Nicanor Letti

Um gaúcho anti-nazista

Odilon Crossetti, faleceu ha alguns anos, realizou muitas coisas na vida e aposentou-se como funcionario da Assembleia. Faleceu com 71 anos. Escreveu o livro: "Mais forte foi o meu destino", Editora Globo, 1949. É a única obra que analisou e retratou a nazificação de parte da descendencia alemã no RGS apos a ascenção de Hitler em 1933. Erico Verissimo afirmou "ser a melhor análise psico-cultural da transformação de pacatos colonos, professores e pequenos comerciantes e muitos pastores da Igreja Evangelica, em nazistas fanaticos". Teve o tino especial de adaptar a situação da pequena vila de "Não-me -Toque" e mostrar o universo do que aconteceu em todo o Estado. Apresentou a verdade, os fatos relatados são verdadeiros, e a vivencia e o sofrimento de muitas comunidades que se engalfinharam. Criou, de fatos veridicos, uma obra de roteiro acabado para filmagem ou novelização. Seu livro relata pela primeira vez os esforços da Interventoria do Cel. Cordeiro de Farias, sob inspiração do Dr. Coelho de Souza, para desnazificar e nacionalizar as escolas alemãs no RGS. cujo executor policial foi o cel. Aurelio Py. A luta fraturou a colonia alemã: a Igreja evangelica dividiu-se, o Colegio Sinodal de São Leopoldo foi fechado, na Turner Bund (Sogipa), apos luta politica interna, os nazistas foram derrotados, e o caso da Bomboniere Jahm foi triste e policial, seu proprietario por não ser nazista, foi boicotado e suicidou-se. Ademais, para ironia da historia, a policia gaucha recolheu inumeros suspeitos de atividades nazi em "campos de concentração em Santa Rosa, São Jeronimo e Gravatai. E havia a "Schwartze Front" anti-nazista, de onde Aurelio Py recrutou seu principal informante Erwino Amschak. Entretanto foi descrevendo o que acontecia numa pequena vila, onde conviveu com sua irmã, professora, os sentimentos e ambições afloram e todos sabem tudo e de todos. Odilon Crosstti dissecou o movimento nazista que envolveu "Não-Me-Toque, desde a professora alemã, e sua irmã Godiva que foi nomeada diretora da escola para ensinar em portugues e desnazificar os alunos. Descreve os problemas familiares surgidos da decisão do governo estadual. Pois a pequena vila havia se tornado nazista sob pressão dos evangelicos e de um medico, benquisto pela população, mas era fanatico do hitlerismo.. O livro foi dedicado aos seus amigos de Passo Fundo: Mucio de Castro, Mauricio Sirotsky sob., Jose Lamaison Porto, e Ervino Quadros. Apesar de todos estes fatos, passado o tempo, existe hoje um museu onde estão as figuras e pouco do movimento ralatado. Não Me Toque é hoje um municipio progressista. Ao lado dos fatos do livro de Odilon Crossetti, contou-me o Dr. Carlos Hunsche que o grupo nazista rio-grandense tinham a idéia de criar um paiz na sul-américa formado pela união do Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, antecipando-se ao atual Mercosul. Os ideologos eram todos brasileiros mas estavam estudando na Alemanha. Eram Fritz Sudhaus e Gottfried Dohms. O Dr. Karl Heinrich Hunsche foi assistente -jornalista do Ministro do Interior Joseph Goebels, e transmitia em ondas curtas, um programa radiofonico chamado "salada mista" era escutado por toda a colonia alemã e italiana, nas terças-feiras, à noite. Estas idéias foram discutidas na Alemanha em 1937, em Beuneckenstein no "Deutschebrasilia nischer Arbeitskreis". Nesse encontro escolheram Blumenau para ser a capital, com população de origem alemã e sua proximidade da costa atlântica. Dr. Nicanor Letti



A primeira entidade médica do RGS.

Um grupo de medicos reuniu-se em 13 de setembro de 1892, ha 117 anos, numa saleta da Santa Casa de Misericordia e fundaram a Sociedade de Medicina de Porto Alegre, ficando a diretoria assim constituida: Presidente: Rodrigo de Azambuja Villa Nova, primeiro secretario: Olinto de Oliveira, segundo secretario: Jose Carlos Ferreira, tesoureiro: Carlos Nabuco e arquivista: Victor de Britto. Os estatutos previam o habito salutar da renovação periodica dos dirigentes por eleições, garantiu o progresso devido a competividade que sempre caracterizou os ambientes medico-profissionais. Do ventre da pequena agremiação foram geradas todas as demais entidades e associações de classe da cidade e do Estado: a Faculdade de Medicina, o sindicato médico e, apos a Revolução de 1930, os professores da Faculdade estiveram com Getúlio e praticamente redigiram o Decreto numero 20931 (11/o1/31) , ainda em vigor regulamentando o exercicio da profissão médica, segundo provas documentais existentes no arquivo pessoal do prof. Guerra Blessmann. Em 1892 a cidade de Porto Alegre, incluia os municipios de Guaiba e Barra do Ribeiro, tinha mais ou menos 75.000 habitantes, pelas pesquisas reallizadas, clinicavam os seguintes médicos: Adolfo Jossetti, Jorge Fayet, Dioclecio Pereira da Silva, Sebastião Leão, Victor de Britto, Oscar Noronha, Saturnino Thomaz de Aquino, Augusto Alvarez da Cunha, Jose Barnardino Bittencourt, Protasio Alves, Ricardo Machado, Alberto Campos Velho, Israel Rodrigues Barcellos, Luiz Masson. Rodolfo Masson, Emilio Gomes, Joaquim Pedro Soares, Diogo Martins Ferraz, Francisco Freire de Figueiredo, João Dias Campos, Francisco Freire de Figueiredo, João Dias Campos, Francisco Carvalho Freitas, Ramiro Barcellos, Tristão de Oliveira Torres, Eduardo Sarmento Leite da Fonseca. Olinto de Oliveira, Angelo Dourado, Carlos Nabuco, Jose Carlos Ferreira e Rodrigo de Azambuja Villa Nova. A Sociedade manteve-se até 1951, quando Paulo Tibiriça e Bruno Marsiaj da Sociedade de Cirurgia aprovaram a fusão, criando meses apos a Associação Medica do Rio Grande do Sul - AMRIGS. As atuais divergencias da Classe médica com o socialismo previdenciario, os problemas universitarios e o assalariamento dos medicos, são um nada face a luta dificil que os colegas tiveram e souberam enfrentar contra a liberdade profissional, praticada no Estado por dispositivo constitucional. Revive-las é sentir o destino de luta da profissão e como disse Paulo Bisol: "a historia mesmo dormindo, fala, mas deve contar sempre o que houve e não o que se ouve" Nicanor Letti. site: nicanor.letti@terra.com

1928-Posse de Vargas no salão Nobre

A posse de Getulio Vargas , governador do Rio Grande do Sul em 25 de janeiro de 1928 foi inedita. Realizou-se no Salão Nobre da Faculdade de Medicina e Pharmacia de Porto Alegre. Não conseguimos saber a razão da escolha. A luta contra a liberdade profissional prevista na constituição castilhista, era a principal exigencia da classe médica, nunca atendida por Borges de Medeiros. O Rio Grande foi durante 35 anos o principal destino de inúmeros charlatães europeus. O Sindicato Médico nasceu para combater essa situação. Cremos na atuação do higienista Dr. Belisario Penna, admirado por Vargas pelo trabalho no combate da malária endemica no litoral norte gaucho. Tendo dizimados as populações das colonias de São Pedro e São Paulo, junto a Torres, formadas de imigrantes. Conseguiram a vinda da Fundação Rockfeller para aplicação dos antimalaricos e conseguiram sua extinção. Vargas desejava a paz com a classe medica e anular a posição borgista de respeitar a liberdade profissional da constituição de 1891, escrita por Julio de Castilhos de filosofia positivista. Getulio, apos assumir desceu a noite e foi assistir uma reunião da Sociedade de Medicina, sendo recebido num ato de apoio aos medicos. E, em 1932, como presidente decretou a regulamentação da profissão médica, decreto-lei ate hoje em vigor. O decreto fechava a Faculdade Medico-Cirurgica, faculdade borgista, fundada em 1915, com prédio proprio no Alto da Bronze, onde mais tarde funcionou a Auditoria Militar do RGS. Ademais criou a Banco do Rio Grande, e mandou repassar todos os creditos da Viação-Ferrea e do Banco Pelotense para o recem fundado do Estado. Atraiu o principal funcionario do Pelotense e montou a famosa Assembleia Geral onde foi decidida a encampação do Banco Pelotense. Costumava receber pessoas de Pelotas pedindo sobre o Pelotense. Ele não ouvia, pois estava sempre lembrando a morte do seu sogro, gerente do Pelotense em São Borja, quando não seguindo uma orientação do Banco, suicidou-se. Vargas estava em Uruguaina trabalhando como advogado. Foi a São Borja, acompanhou a abertura do cofre do Banco, e afirmou que a familha tinha creditos para levantar as dividas do sogro. Nas inumeras publicações sobre Vargas esquecem do episodio do suicidio do sogro. Em 1929 Vargas viaja para as colonias italianas e inaugura uma ponte sobre o rio das Antas e em Antonio Prado aparece numa fotografia junto com o intendente municipal e outras pessoas. Nicanor Letti

Diversas - Faculdade de Medicina da UFRGS

Definições de Transgressão Sexual feitas pela Justiça Americana no Processo Clinton. (publicadas no L'Espresso. revista italiana. Traduzidas por Nicanor Letti. - 1998.
Transgressão sexual - 1- É o contato com os orgãos sexuais , o anus, o pubis, o seio, a parte interna das coxas de uma pessoa com a intenção de provocar excitação ou gratificar o instinto sexual.
2. O contato entre qualquer parte de uma pessoa, propria ou objeto e os orgãos genitais ou o anus de outra pessoa.
3. O contato entre os orgãos genitais ou o anus de uma pessoa e qualquer parte do corpo de outra pessoa.
4. O que é contato? - Tocar intencionalmente ou diretamente ou atraves das vestes.
Aforismo de Hipócrates: "A vida é breve, a arte é longa, a ocasião é fugaz , a experiencia é falaz, e o juizo é dificil."

Acontecimentos na Fac. de Medicina em 1917 - O professor Olinto de Oliveira, um dos fundadores da Faculdade paraninfo da primeira turma de formandos em 1904, pediu oficialmente a transferencia para a cadeira de Clinica Médica, pois seu titular Dr. Ricardo Masson pedira demissão. E tambem teve uma polemica pelo Jornal A Federação com o eng. Farias Santos, lider dos positivistas. O professsor Gonçalves Vianna era genro do Olinto de Oliveira, e afirmou que a ida para o Rio era devido a paixão de uma filha pelo estudante de medicina - Raul Pilla. No Rio ela casou com outro, e o Pilla manteve-se solteirão. Depois da morte do marido o Pilla casou com ela, ja com idade avançada.

O Olfato no Rio Grande do Sul

Os médicos sabem "que a liberdade mais apreciada pelo homem é a do nariz". Esta assertiva é valida para os problemas obstrutivos que impedem o transito da corrente aérea como tambem para o conteudo olfativo de que esta impregnada. O olfato e sua problemática estimulativa no Rio Grande do Sul apresentam interesse historico e cientifico. Os epitélios neurossensoriais dos orgãos dos sentidos adaptam-se com facilidade aos estimulos continuos e dificilmente aos intermitentes. Todos os efluvios fetidos, infernalizando as populações, tem e tiveram emitencia deste tipo, dai sua importancia. A intermitencia não permite a habituação, e ocasiona em cada aparecimento do efluvio odorifico a reação nauseante, e o comportamento no sentido de libertar o nariz da fonte fetida. Historicamene o estudo das emanações indesejaveis permitem analisar a evolução industrial do RGS. e ser mais um parametro para avaliar a economia. Na época do aproveitamento do couro do século dezoito escrevia Azara e John Muller: "que a vacaria embora fosse um esporte para os gauchos era coisa brutal", apos retiradas os couros, como a carne não era aproveitada as carcaças biodegravam-se naturalmente. Nas areas circunvizinhas da matança ninguem se aproximava por longo tempo, face ao intenso cheiro da desintegração proteica. Muitos conflitos foram ocasionados naquela epoca devido a estas atividades dos campeadores, e era uma caracteristica da area pastoril, o encontro, em um ponto e outro, do mau cheiro das carneadas brutais. A concepção de nosso embrião olfativo mal cheiroso começou com o inicio do aproveitamento do gado. A putrefação natural das carcaças e das visceras empestavam o ambiente durante muitos meses. Geralmente esta atividade era realizada junto aos rios e distante das habitações, onde os couros podiam ser lavados e estaqueados. Desde 1780 uma nova etapa fundamental para a economia desenvolveu-se com a produção intensa de efluvios fetidos: as charqueadas.
O salgamento da carne verde e sua secagem no sol, ocasionaram uma prospera industrialização no Estado e nas Republicas do Prata. O charque era a proteina básica e barata para alimentar os escravos no século dezenove, e o principal produto exportado pelo RGS. A maioria das cidades do sul e de todo Estado giraram da atividade das charqueadas. Estas industrias eram fontes de terrivel mau cheiro que perturbava a vida dos habitantes e de muito queixume junto as autoridades. Saint-Hilaire no dia 14 de setembro de 1820, afirmou ao passar pela cidade de Rio Grande, "apesar de ter cessado ha meses a matança nas charqueadas, sentia-se ainda nos arredores um forte cheiro, pode-se fazer ideia como seria na epoca das matanças. No ano de 1830 havia mais de 10 charqueadas nos limites urbanos na cidade de Pelotas. Desde a Tablada onde se negociava o gado ate os confins da cidade sentia-se cheiro intenso que em página magnifica Alcides Maya descreve: "Ao cheiro corrupto da sangueira coalhada, aos charcos, da courama nas estacas, das guampas em acervo dos estrabos, dos ventres decompostos, o gado à distancia voluteava em sobresalto instintivo, nauseado e aflito a mugir".O mesmo Saint-Hilaire ao subir o Jacui em 14 de maio de 1820, passando pela estancia do Curral Alto, escreveu sobre a charqueada ali existente: "a fase da matança havia terminado ha muito tempo, contudo a carne no chão e as visceras do gado, putrefatas, espalhavam forte mau cheiro" Em inumeros povoados gauchos, junto aos seus vilamentos funcionaram durante o século dezenove e parte do vinte grandes charqueadas. Nicolau Dreys, viajante europeu do seculo dezenove, descreveu todo o trabalho de uma charqueada e anota esta pagina curiosa "o certo é que, fora da estação da matança, uma charqueada não tem nada que repugne a vista, e sempre dizemos de estabelecimento bem administrado, nada se acha que ofenda ao olfato, não dizemos de um sibarita, mas de qualquer homem não prevenido nem efeminado". Este viajante fora prevenido sobre o cheiro que sentiria. e chamou de efeminados os que não suportavam o cheiro de uma charqueada. Em 1858, Roberto Avé-Lallement viajando pelo sul do Estado, descreve as margens do rio Pelotas; "Nas ribanceiras estendem-se estabelecimetos de carater verdadeiramente romantico, a certos respeitos, mas, o outro lado, realmente repugnante. Em toda a região ha um cheiro horrivel de carniça. Por mais aprazivel que seja o porto de Pelotas; por mais longas e retas e em parte bonitas ruas que tenha a cidade a um quarto de milha acima, neste matadouro extingue-se qualquer impressão de graça e limpeza, em toda a parte cheira mal". Em 1914, Juvenal Dias da Costa, proprietario do "Saladeiro da Serra" em Santa Maria, face as reclamações de toda a cidade contra o cheiro que sua Industria exalava, na época das matanças, solicitou uma opinião ao Dr.Astrogildo de Azevedo de como solucionar o problema. O médico estudou a situação e achando que o cheiro advinha do liquido que estravasava dos couros, das graxeiras, e dos subprodutos ao serem lavados, sugeriu que cavassem um grande poço, coberto, onde as aguas servidas se infiltrariam. O proprietario apresentou esta ideia para ser analisada pelo eng. Gustave Vauthier, diretor da Viação Férrea, ao Intendente Municipal e ao Dr. Jose Mariano da Rocha. Este último entretanto, declarou "que seria um poço typhico que iria infecionar toda a charqueada e a cidade e era preferivel não fazer nada".Mais adiante declarou "o cheiro faz mal ao nariz, mas não faz mal a saude". A verdade é que o saladeiro perturbou por mutos anos a vida pacata daquela cidade, sendo motivo de intensa polemica das paginas dos jornais, envolvendo todos os aspectos do problema, mas não conseguimos apurar como foi solucionado. Em 1869 uma firma de Pelotas ganhava um premio pelo fabrico de sabões, banha e sebo. Industrias emitentes de fumaças com cheiro de gordura queimada e muito desagradavel. Vitor Valpirio, jovem escritor pelotense, em 1874 e 75, conhecia o trabalho nas charqueadas, descreve em dois contos; "Pai Felipe" e "A Filha do Capataz" todo o ambiente daquelas industrias com suas olencias caracteristicas. Pedro Wayne na décade de 30 vivendo junto as charqueadas de Bagé, escreveu a obra classica sobre este assssnto e assim inicia a novela."Luiz nunca tinha entrado numa charqueada. Sabia apenas que era um lugar onde os passageiros dos trens baixavam apressadamente as janelas por causa do fétido insuportavel. Parecia que havia no ar, dissolvidas em amoniaco todas as catingas que existem, tão penetrantes e nauseabundas emanações exalavam". Finalmente foi implantada em nosso Estado a Fabrica de Celulose, famosa "Boregard" que imitia uma fumaça com cheiro tipico e conforme o vento ela se espraiava por toda a capital do Estado. Era o gas sulfidrico, depois de muitas reclamações foram colocados filtros adequados e resolveu o problema. Os neuro-fisiologistas demonstraram as relações intimas existentes no cerebro dos mamiferos principalmente do homem das partes perceptivas e integrativas do olfato e do lobulo limbico, tambem denominado cerebro visceral, cujo disfuncionamento origina as molestias psicossomaticas. A literatura sempre refletiu a problemática do homem e do seu ambiente. No Rio Grande do Sul atraves da sua historia o cheiro foi uma constante e sempre refletiu as etapas do processo industrial. Reynaldo Moura é o "poeta do olfato dos gauchos, descreve em suas novelas e poesias com admiraveel sensibilidade as emanações olfativas. Ao orvalho chama-o de suor: O suor azul da madrugada, torna mais lúcido o perfume dos jardins, na neblina rosada ha estrelas que parecem derramar sobre a terra umida a ternura de uma agonia aromal. No poeminha do cimento armado, usa esta imagem: "há um cheiro morno de velocidade". Tudo para o poeta tem olfato e sua vivencia voluptuosa manifesta-se em torno da percepção olfativa. Fala no "cheiro da messe, na sensação aromal da vida esparsa e do cheiro de polen. Ao interrogar a vida, perguntando: o que somos? utiliza exemplos onde sua olfação manifesta-se como atividade central de suas funções gnosicas: Por que os junquilhos, tem cheiro de carne após o banho e o feno morto nos depositos tem exalações perturbadoras não permanecem sempre acesos como as fogueiras subterraneas da vida?
A intensa vibratibilidade poetica ele a manifesta atraves do olfato e não utiliza a visão cromática como a maioria dos poetas: Os teus cabelos distantes das minhas mãos tinham o perfume dos anjos em revoada. Ao descrever o corpo de Nora, quasi nua, uma meia nudez obscena, cheiro cinico de sexo apos o banho, tudo isso agora é o meu mundo. Na novela "Um rosto noturno", utiliza o cheiro para acionar as funções mnésticas da sua cortex cerebral: no momento não pensei, mas agora procuro fixar este instante, penso nesta relação entre o cheiro e o passado, a memória olfativa, o que a mesma me sugere. sentido na sua unidade, à boca do frasco, cada perfume possui individualidade propria, nitidamente delimitada e inumana, dissociada de qualquer forma de vida. Mas sentido através da pessoa que o usa, é como um prolongamento carnal da personalidade, participada emanação de cada um. Psicoanaliticamente esta emanação pode ser coletivizada, o cheiro da industria de celulose, que intermitentemente impregna nosso ambiente inalatório, se superpõe a personalidade do estrangeiro que veio explorar nossa riqueza e poluir nossos ares. Trouxe o progresso e a destruição espoliativa, dai a solidariedade coletiva de repudio. A multidão assim a sente diz Reynaldo Moura: Depois os homens aglomerados se dilataram em multidão numa curiosidade mórbida, como um formigueiro humano. Havia no ar um cheiro de pó e suor. No "Romance do Rio Grande" usa esta expressão: "um cheiro de mulher e de vida noturna de infima classe" ou "um cheiro de sujeira humana, um cheiro de miséria entrava-me denso e gorduroso, pelas narinas. Era também o cheiro da vida que se esvai e se derramava, liquida, elo exterior de si mesmo. Na porta do meu apartamento ainda parei, escutando. Dera a volta com a chave yale.e, pela porta entreaberta estava sentindo meu proprio cheiro, o cheiro dos meus charutos, dos meus livros, do meu refugio particular, que se escapava la de dentro e vinha me receber na porta. E mais adiante; devia ter nas roupas, pelo corpo adquirido pelo contagio o cheiro imundo de fermentação humana. Suas recordações da infancia são relembradas atravez do olfato como se fossem uma aura epileptica substituindo novamente a visão cromática pela descrição do olfato das coisas."cheiro de cavalo misturado ao ar cru e vivo dos campos entardecendo" ou quando ia a fazenda, redescobria a realidade do Rio Grande. O seu cheiro, os seus silencios de solidão, o seu verde em tropel,os seus mugidos, a galopada de sua respiração infinita. A relação fisiologica intima entre o olfato e a gustação ele analisa quando descreve um velho politico gaucho: "a cuia de mate na mão, o charuto cheiroso entre os dedos e a boca". No "Romance no Riogrande", ao possuir Elzita em pleno campo, ele é epilepticamente todo olfato: "o cheiro de Elzita era o mesmo do capim pisado e do vento do campo, enquanto nos,nos cavalgavanos como dois animais, entre exclamações que pareciam curtas gargalhadas de desespero. Era isso, era bem isso o amor. Esse gostar do cheiro, esse querer estar para sempre perto, essa confusão das vidas ondulando. Cheirava meus dedos quase adormecendo. E sentia como era intima a relação entre esse profundo odor carnal e a voz escura de Elzita e seus cabelos negros e o moreno macio de sua pele". Nas manifestações limbicas do homem o cheiro desagradevel aciona nossos mecanismos agressivos, enquanto que os odores agradaveis nos trazem paz e harmonia. No decorrer de nossa evolução econômica sempre estiveram presentes as emanações fetidas de uma ou outra maneira, ao lado da beleza de nossas paisagens. Talvez isto tenha influenciado o comportamento dos nossos habitantes que são ardentes na pugna e gentis com seus semelhantes.

Carta sobre Ramiro Fortes Barcellos

Urge uma decisão sobre Ramiro Fortes Barcellos. Tua cartinha deixou-me inquieto. Tomei vôo. Tomei o vulto. Tomei o pulso. Tomei o pé. E tomei às de villadiogos! É verdade. Montei a cronologia da sua vida. mais de 70 itens. Cada um poderia ser um livrão. Descobri toda sua infancia, no interior de Cachoeira do sul, onde bebeu as historias do Tio Lauterio, instersticio gauchesco do Antonio Chimango. Daí em diante seria "Ab hoc et Ab hac" (discurso incoerente).
Pois resumindo itens. Ramiro esteve em Paris visitando Pasteur, descobridor da causa bacteriana das doenças. Sepultou o positivismo. Não acreditavam nas bactérias e perseguiam os crentes. A posição de Ramiro é um misterio nesta questão, só lendo seus editoriais na " A Federação", Talvez conseguisse explica-lo. Visitou na França o famoso cirurgião Lister, um dos grandes do seculo dezenove usava cloroformio e eter nas suas operações. E a posição de Ramiro um segredo a desvendar. Foi provedor eleito da Santa Casa, numa eleição , entre os membros do Conselho da Instituição, briguenta, pública, entre a maçonaria e o catolicismo. Em plena epoca da Questão Religiosa com a Monarquia, no final do Segundo Imperio. Na Constituição Republicana de 1891, como deputado federal, discutiu acerbamente com Ruy Barbosa sobre assuntos financeiros. Em relação aos indios defendia a posição do General Julio Argentino Rocca, duas vezes presidente (1893-1914), esmagou os indios da Patagonia e colocou na região ubérrima criadores de gado vacum e ovinos. Ramiro renunciou a senatoria em 1906 e foi regenciar as grandes obras do capitalista americano Percival Farqhuar, ganhara as concorrencias sob a batuta do Ministro de Obras Lauro Muller. Farqhuar foi considerado "the last interprenner of South American". Construiu a Madeira-Mamoré, e os portos de Rio Grande, e Porto Alegre e sua grande obra a ferrovia São Paulo-Rio Grande. A ferrovia atravessou á area contestada entre SC e Pr. foi um dos fatores desencadeantes da Guerra do Contestado, face as retiradas do exército e
retomada a luta várias vezes. O americano conseguira no contrato a concessão de 12 kms de cada lado para colonização. Ele não a fez. Montou uma enorme serraria, a maior do mundo, em Tres Barras, no Paraná, no meio dos pinheirais, e importou todo o maquinario frances Petit-Tissot, para desdobrar em tábuas. Os caboclos chamavam as máquinas de "petiça", pela fonia da pronuncia . Ramiro tambem gerenciou a grande pedreira em Morro Redondo no municipio de Pelotas, onde montaram uma pequena ferrovia para transportar as enormes pedras, construindo os molhes. Aumentando a correnteza e afundando o canal. E a barra perdeu o querer. Borges soube de algumas irregularidades em sua gerencia e chamava-o de ambicioso e rebelde ou coisas semelhantes. E, em 1912 Ramiro queria novamente ser candidato a senador, mas Borges e Pinheiro Machado vetaram. A vingança de Ramiro foi escrever o "Antonio Chimango", poemeto campestre, em 1915. Mas um grande capitulo de sua vida foi o compadrio entre Venancio Aires, emigrado paulista em Santo Angelo, cunhado de Pinheiro Machado de São Luis e os Castilhos de Cruz Alta. Foram os troncos paulistas, do inicio tropeiros, mas formados em Direito e advogaram e politicaram no RGS. Esta é uma história pouco contada. Venancio diretor da "A Federaçã0". Ramiro ainda se destacou escrevendo os famosos "trioles" e outras prosas. Com a fartura de documentação , ler e classifica-la. A gaja da biblioteca aterrou na mesa as enormes encardenações dos jornais antigos. Impertigou-se. Olhou-me em look à f......, Fiquei terso. Retirando-se. Altaneira e impertigada. Entendi o trabalho. Imagine se voltarei.

Clima e doenças respiratorias

As cronicas e livros escritos pelos Verissimos (pai e filho), descrevem muito bem o fator ventos e umidade no desencadear doenças respiratorias ao dizer no "Tempo e o Vento"- naquele corredor la em cima do casarão, o vento frio e umido encanado no inverno, mataram nossos ancestrais de pneumonia. A infecção respiratoria de 15 de abril à 15 setembro é a grande causa, pois o "vento minuano sujo" sopra do sul e penetra pelas frestas das casas e é portador de umidade à noite de 100%. Nestes meses de inverno é necessário fechar bem as janelas dos quartos de dormir, pois uma fresta de 15 cms, de uma janela, iguala a umidade do quarto com o exterior em torno de 2 horas. Meia janela aberta a umidade " quarto-exterior" igualam-se. A umidade fria altera o ciclo nasal e a mucosa começa a se proteger produzindo neuropeptidios que causam obstrução e secreção nasal e traqueobronquica. A mucosa nasal muda o ciclo e torna-se hiperreativa e se infecta com facilidade. séculos as "donas Ciças" descrevem este fenomeno. Somente ha poucos anos foram explicados pelos neuropeptidios e da ação da capsaisina que identifica o relógio biológico sensitivo da mucosa. Os Verissimos tem o vento na alma. Erico subordinou ao Tempo e ao Vento os fatos históricos do nosso meridião. Ao talento de Erico e do filho agradecem de ter romanceado seus padecimentos os gripados, alergicos, asmáticos e bronquiticos pela descrição das manias dos seus algozes o clima e seus ventos úmidos. No RGS Erico é o poeta dos ventos. Reynaldo Moura o poeta do olfato e Marcelo Gama dos sonhos e insonias.

A historia do Dr. João Afonso Josetti

Foi médico ilustre. Perfila-se ao lado dos grandes cirurgiões inovadores, corajosos e sábios do Rio Grande do Sul e do Brasil. Nasceu em Cuiabá em 11.12.1860. Seu pai de origem italiana era médico do Corpo de Saúde do Exercito. Após os preparatorios naquele estado, matriculou-se na Fac. Medicina do Rio de Janeiro em 1879. Doutorou-se em 1885, com tese brilhante. N0 ano seguinte foi designado para a Junta Militar do Rio Grande do Sul, criada no mesmo ano pelo Império. Em 1889, trabalhava como cirurugião da quinta Enfermaria da Santa Casa. Tornou-se logo destacado pela cirurgia abdominal, dominava a assepsia cirúrgica, problema fundamental para a época. Foi um grande obstetra Tendo realizado inúmeros partos. O mundo médico atentou-se pela técnica perfeita e pioneira, da execução das cesareanas com sucesso para a mãe e o nascituro, sem a retirada do útero. Foi o primeiro a faze-la em Porto Alegre. Josetti condenava a retirada do útero. Miguel Couto, anos depois, ao sauda-lo na posse de membro da Academia Brasileira de Medicina, declarou ter sido Josetti o primeiro a fazer cesareana com resultado integro mãe-feto na América do Sul. Mas a grande preocupação de Josetti era com a tuberculose. Viajou para a Alemanha em 1891, estagiando no serviço do Dr. Robert Koch, o descobridor da bacilo causador da doença. Estudou histologia, clínica e autópsias de doentes com tísica, junto com o famoso medico. Acompanhou no Instituto Frederico Guilherme de Berlim, um curso para jovens médicos militares alemães sobre tuberculose ministrado por Koch. Com o auxilio do Embaixador do Brasil, o Barão de Ubá, conseguiu vaga no curso. Era vedado a presença de médicos franceses, ingleses, poloneses e russos. No curso Koch mostrou seu material histológico e de autópsias, sendo considerado o melhor e mais adiantado na ciência sobre o assunto. Esteve em Breslau e conheceu longas explicações sobre os avanços na assepsia cirúgica e conheceu os primeiros cilindros duplos, para esterelização de instrumentos e roupas, aquecidos a gás. Viajou em seguida para varias cidades alemães suiças, visitando casas de saúde. Trouxe da Alemanha material cirúrgico especializado. Ao voltar da viagem, comprou uma enorme chácara na Floresta e construiu um hospital, em madeira, mas com sala de cirurgia, sistemas de esterilização, maternidade e um dispensário para tuberculosos isolado do restante do hospital, o primeiro a ser feito no Rio Grande do Sul. Foi chamada de Casa de Saúde Bela Vista. O bairro até hoje tem este nome. No ano de 1906, o terreno e o Hospital foi adquirido pelo Exército onde foi instalado o Hospital Militar de Porto Alegre. Na inauguração do primeiro pavilhão construído em 1942 com a presença do Presidente da Republica Getúlio Vargas. O sucesso de Josetti, não foram apenas as 92 cesareanas realizadas com êxito, mas foi também pioneiro a realizar a gasserectomia na América do Sul. Extração do ganglio Gasser, situado na base do cérebro, necessitando abertura do cranio. Desenhou instrumentos fabricados em aço por um ourives. Com resultado excelente e sem sequelas. Para tanto treinou em cadáveres a técnica de Klauser, que assistira em Altona, na Alemanha. Elyseu Pagliola conhecia este fato. Josetti foi condecorado pelo Congresso Nacional, junto com o Dr. Chapot Prévost, da Faculdade do Rio de Janeiro por ter realizado a primeira cirurgia de xipofagos no Brasil. Mencionamos também as cirurgias de fibromas uterinos, com técnica perfeita. E foi um excelente professor da Faculdade de Medicina, mas demitiu-se do cargo dedicando-se ao Hospital Casa Bella Vista, onde recebia estudantes que acompanhavam seu trabalho. Não sabemos a data do seu falecimento.

O Coronel Falcão

A cortina que envolvia a personalidade de Aureliano de Figueiredo Pinto foi descerrada no "Coronel Falcão" e seu ego lá esta cheio e completo. Encontramos um estancieiro anti-estancia, um politico anti-politica, um chefe anti-chefia e um administrador anti-administração.
A simplicidade das comunidades interioranas , com seus dramas economico-sociais, descreve-as com riqueza e conhecimento. Como médico ao apalpar um ventre em busca de alguma patologia recondita. Disseca a alma do politico local, amarrada, mutilada e serviente ao poder central. O massacre do mandonismo do coronel do interior "encalacrado" no Pelotense ou no Provincia, ele o demonstra clara e plenamente, na crise do preço do gado, apos a Primeira Guerra Mundial uma das causas economicas da Revolução de 1923. Desmentindo "in limine" alguns historiadores, que flanam argumentos no sentido de provar que 23 teve somente causas politicas. Castilhos e Borges eram homens da pecuária, mas não tinham apoio dos pecuaristas. A evolução politica, no inicio subserviente, ridicula, como na visita ao Chefe na Capital, transborda apos para a ação social, firme e resoluta, ao descrever a retirada da estancia, da peonada fraterna de muitos anos, devido ter sido hipotecada. Encontramos o homen por inteiro em sua obra sem recorrer a outras fontes. O cvoronel estancieiro transforma-se pelo embate economico, pela vivencia com a sofrida ralé, em m coronel social. As causas da favelização do homen dio canpo, iniciada na época ocasionando o acotovelamento desta massa ao redor das cidades, foram analisadas topografica e descritivamente por Aureliano. A identificação de seu descalabro economico coma polulação inerme é que o diferencia de Cyro Nartins, com seu "João Guedes", enquanto este se mantem a destancia , Aureliano vive, sofre e chafurda com o povo. Sua vitoria psiquica, sua simplicidade franciscana, espraia-se na riqueza vocabular, acompanhando o peão que irá se petebetizar no suburbio da cidade. A corticalização de suas sensações é uma façanha inedita em todo o livro, humaniza des a "chinoca" do Barroso até a figura do hoteleiro chamando os politicos de "bobaiões. Ou sua paixão. Fui rolando no abismo daqueles olhos verdes como um pedaço de cortiça, levado pela correnteza. Aureliano é o Dionélio Machado rural que estava faltando em nossa literatura. Na vivencia do drama campeiro consegue parar e pensar, e limpando a area das soluções rocambulescas, conclue racionalizando; "só agora tenho a visão nitida de quantas felicidades a quantos seres humanos poderão advir da subdivisão do meu estado pastoril. E eu até agora a encalacrar-me, a amar , a politicar como um paspalhão". A auto-analise fria e realistica permite a saida social. Enquanto que o oligarca portugues ou os barões do segundo império, enriqueciam pela força do braço escravo, apresentando ao mundo e ao seu Deus, a Casas Santas para a ralé, o estancieiro consciente via a solução na divisão da terra. Na zona colonial do estado não encontramos Santas Casas de nossas cidades da fronteira, locais de depósito dos trabalhadores exaustos e das esmolas do patriciado rural. Até hoje estes hospitais refletem a imagem obsoleta de uma caridade custosa e obsoleta mas era e é o alisio refrescante da riqueza rural. É fundamental para nossa sociologia historica o reconhecimento que Aureliano realiza, como homem de formação universitaria e humanistica integral, da divisão da terra, pois sua obra foi escrita ha mais de 5o anos. As cassandras talvez novamente afirmar que a peeonada não possui e nem possuia "know how" para serem proprietarios. A vberdade é que o pastoreio é diferente do amanho. Desde que os filhos de Loyola ensinaram o fundamental no trato com o gado, o gaucho é o operario ideal no cuidado dos animais. Antigamente manejava a creolina e a faca na cura da "bicheira", como hoje obedeceria ao veterinario , saberia inseminar com pericia e compraria os remedios modernos. Como Aureliano demonstra nunca lhe foi dada a oportunidade de ser proprietário no sentido lato do termo. A ujltima luta pela terra no RGS foi a de Sepe Tiaraju, pois os indios foram conscientizados pelos jesuitas da posse da mesma. Ha muitos anos queria conhecer o verdadeiro nome de Jorge Penna, que na "Provincia de São Pedro. (5:61-66,1946), escreveu: "Memorias economo-politicas do coronel Pedro Bueno". Vejo agora que Pedro Bueno e o Coronel Falcão são a mesma pessoa e Jorge Penna é o pseudonimo de Aureliano.
Este trabalho é uma sintese perfeita da relaçãoo banco-charqueador-frigorifico estrangeiro contra os fazendeeiros.Confirma Aureliano o papel do bancario junto ao atravessador: pelos gerentes os charqueadores sabem quais os fazendeiros estaqueados nas conta-correntes. Então carga nos encalacrados. Adquirindo os gados por uma miseria, estão abertos os preços da safra. E todos tem que sobmeter-se ao formidavel truste. E o charqueador a engordar. Rapidas fortunas de milhares de contos de reis. O fazendeiro, o pequeno produtor a perder dos seus rodeios e de suas pessoas, graxa, sebo, copuro, cabelo e miudos. A peonagem das trtropas e dos saladeiros tem resuzidas suas diarias, porque o boi baixou. Justamente quando o industrial do esta fazendo ouoro do suro alheio. Mais tarde . Alcebiades de Oliveira ao descrever o esplendor e aqueda da Banco Pelotense, com a frieza dos numeros e das estatisticas, coonfirma as observações de Aureliano F. Pinto. Pela profundidade dda analise sociologica, oela riqueza neologistica, pela sintese freuddiana dos personagens, simbolizada no orneio do "Meritissimo" o Coronel Falcão de Aureliano é uma bomba literaria da decada no Rio Grande do Sul e, talvez do Brasil" no dizer de Jose H Darcanal.

Sinais da Carotidinia

1. Dor intensa no pescoço, principalmente junto a bifurcação das caróticas.
2. Irradiação da dor para a base da lingua e para a região amigdaliana
3. Irradiação para o ouvido
4. Agravamento da dor pela deglutição ou pelos movimentos cervicais.
5. Febre baixa.
6.queixas de quentura na face com flushing no mesmo lado.
7. bifurcação carotidia palpavel,pulsatil, dolorosa.
8, Sedimentação elevada.

Dez regras para falar na televisão

O autor ensina que na Tv deve-se seguir as regras, da retórica classica: falar com simplicidade,
ser voce mesmo, ou não imite ninguem, mas não deve se construir num "personagem, dizer as coisas claramente. Os principios basicos da cultura ocidental são cinco."inventio, dispositio, elocutio, actio e memoria" Inventio é encontrar o que dizer, dispositio é organizar aquilo que se pensa. Oralidade é a cultura da Tv. Os dez principios basicos de como se comportar na Tv:
1. nunca olhar para a telecamara
2. falar de maneira simples e clara
3. Não falar mais que meio minuto sobre cada assunto
4. Não contar historietas e não aventurar-se sobre conceitos
5. Não faça gestos a Tv enfatiza por si mesma
6. De a impressão que voce sabe escutar
7. Aprenda a administrar o silencio.
8. Nunca franzir a testa
9. evite acavalar principalmente as pernas.
10. Quando tiver de olhar o interlocutor faça-o não mais que dez segundos.

senes - Senado - A casa dos velhos

Denominam o senado de casa de velhos. Etimologicamente senado deriva de senes-velho. A Igreja tem o presbitero, é o mais velho, mas o mais sábio. A mocidade despreza os velhos, no ano 2015 eles serão 25% da população.Não consomem como a atual "giovenezza". Proclamam "quem não consome não existe" ou "consumo Ergo sum". Os velhos consumirão milhões e milhões de comprimidos de Viagra ou de outros nomes com a mesma função, mas muito mais aperfeiçoados. Os casamentos de velhos, realizados na vida, com mulheres jovens, triplicarão. Recordo o provébio vêneto "um pai mantém sete filhos, sete filhos não mantém um pai". Ou o gaúcho "avô fazendeiro, pai capataz, neto peão". Os italianos dizem que os moços vulgares tem três S-: sexo, sol e espaghetti".Na velhice terão três is: insuportáveis, impotentes e infelizes". Mas os velhos querem mesmo é "sol, pizza e mandollini".

Leis da migração epitelial do timpano

1. A epiderme da membrana timpanica não prolifera ao acaso. Ela migra da margem ou polo anterior para a parede posterior do canal auditivo, e continua depois ao longo do canal levando junto os vasos e nervos sensitivos. Explica porque incisões do timpano na infancia não aparecem como cicatrizes na vida adulta.
2. Na membrana flácida superior, a epiderme migra e se espalha para a parede do canal. Um goticula de nanquim no centro da pars flacida, rompe-se em pequenos fragmentos que se movem radialmente a partir do ponto original. A pars flacida não tem função auditiva e regula a pressão da caixa timpânica.
3. A proliferação da epiderme , quando estudada junto ao processo curto do martelo (não confundir com o longo), processa-se em ondas mas na direção superior do canal e na parte posterior.
4. Estas ondas de proliferação da pele timpanica não é uniforme, mas é mais rápida ma porção postero-superior e inferior.
5. Nunca se obsevou proliferação da pele do canal na direção do timpano. Isto contraia uma afirmação frequente que a pele do canal é que prolifera e provoca colesteatoma nas perfurações timpanicas posteriores
6. Esta é a importância da pele da membrana e não a do conduto.

O melhor trabalho de ORLseculo XX

Na historia do desenvolvimento da ORL brasileira não podemos esquecer o trabalho da década de 1950, escrito pelo professor Geraldo de Sá. da Universidade Federal de Pernambuco, trata-se da "Analise Fonetica da Lingua Portuguesa falada no Brasil e sua aplicação à Logoaudiometria".
Escrito em St.Louis,MO.USA. junho de 1952. É uma analise multidisciplinar, sobre linguistica, acentuação, pronuncia tipica das varias regiões do Brasil. Este tipo de trabalho é peculiar para cada lingua. Tivemos a grande ventura de termos nossas troqueias, escolhidos a dedo e de maneira cientifica, antes do funcionamento dos cursos de Fonoaudiologia. Portanto a audiologianacional, tinha desde 1952, listas de palavras foneticamente balanceadas e monossilabos mais usados para analise quantitativa do entendimento auditivo. Considero o melhor e mais útil traballho realizado no Brasil no seculo. Viabilizou os testes fonológicos no Brasil, e igualou-os cientificamente com os melhores centros de audiologia. Deu-se um grande salto com o trabalho. No meu entendimento pelo seu ineditismo, alcance pratico deve ser considerado o melhor do século.

A gravata Grená - O Banco Pelotense

O General Flores da Cunha, Interventor Federal no Estado, trajando terno castanho, sapatos de pelica inglesa, com polainas brancas, chapeu panamá um pouco à banda e uma belissima gravata grená, desembarcou em Pelotas no dia 12 de maio de 1931, a caminho do Rio de Janeiro e declarou a imprensa: O governo não quer nem pretende locupletar-se à sombra da encampação do Banco Pelotense, se acharem o reerguimento uma tarefa exequivel, estimarei que o transformem em realidade, isso, porem, desde que possam cercar o reerguimento de maximas garantias, para não parecer uma fantasia perigosa. O ambiente em Pelotas era tenso e os acontecimentos sucediam-se em avalanche, estavam decidindo o destino de um estabelecimento criado, mantido e expandido com capital e espirito genuinamente gaucho. O Banco Pelotense era orgulho da fina-flor dos pecuaristas e charqueadores do nosso meridião, da pequena classe media urbana que era acionista minoritaria e dos donos das casas de negócio da colonização ítalo-alemã. Fundado em 5 de fevereiro de 1906 com capital de 3 mil contos de reis, aos 20 anos de existencia, possuia a melhor e maior rede de filiais do sul do Brasil. Mantinha casas no Rio de Janeiro, São Paulo e acabara de adquirir um banco no Espirito Santo. O Sr. Joaquim Luiz Osório,falando na Assembleia Geral que decidiu pela encampação, explicava as causas do desastre: os vicios de origem, a politica expansionista a partir de 1919, o financiamento de empresas, e a mobilização de capital. Na assembleia surgiram duas propostas: a do reerguimento com moratória de 10 anos, apresentada pelo gerente da filial de Novo Hamburgo Sr. João Schmidt, e avaliava o débito do Banco em 33 mil contos de reis, dos quais o Estado do Rio Grande do Sul era credor de 15 mil; da outra era portador o Sr.Francisco Antunes Maciel Jr. representante do Estado que propunha a encampação do Pelotense pelo recem-criado Banco do Rio Grande do Sul, assumindo todos os débitos e a liquidação dos direitos dos acionistas. Em 18.05.1931 o Sr. Francisco Simões Lopes, pede a nomeação de uma comissão para estudar as propostas. Ficou composta dos Srs. Carlos Maximiliano, Bruno Lima, Gonçalo Marinho, Joaquim Luiz Osório, Bertholdo Maia, Augusto Simões Lopes, Alvaro Martins, Octacilio Ribas, Olavo Alves, João Schimidt e Victor Bertucci (que representava os credores da Serra). Essa comissão votou pela encampação , com votos contrários dos Srs. Joaquim Luiz Osório, Betholdo Maia e João Schmidt. No dia seguinte 19.05.1931 a Assembleia Geral dos acionistas decidiu a favor da encampação com 2347 votos que representavam 47904 contos de reis, e a do reerguimento do Banco teve 1,235 votos representando 11700 contos de reis, dignamente defendida pelas familias Assumpção e Osório, em conjunto os maiores acionistas do Banco. Satisfeito, no dia seguinte 26.o5.1931, já em Porto Alegre, analisando a decisão da Assembleia Geral do Pelotense,declarou o Sr Antunes Maciel: Os bancos tem de ser como a mulher de Cesar. Referia-se ao descredito publico em que megulhara ha varios anos e os boatos da quebra e as diversas corridas dos depositantes desde 1926. O trauma social em Pelotas era grande e até hoje os pelotenses purgam a perda de compustura do seu belissimo Banco, a tradição comercial que vinha desde Antonio Gonçalves Chaves com as "Memória Economo-Politicas", e do cerebro economico da Revolução Farroupilha Domingos Jose de Almeida. O Banco Pelotense e a formosa Yolanda Pereira, que havia sido sido eleita a mais bela mulher do Universo eram na epoca o cartão postal da cidade: dai a dor social da classe rica e média que a peneira do tempo ainda não conseguiu discriminar e detectar em todas as suas causas. No polimento dos acontecimentos e da historia economica riograndense, o enxame de politicos que preparou e executou a Revolução de Trinta foi envolvida no episódio. Oswaldo Aranha confessou mais tarde "que o caso do Pelotense foi um cochilo da revolução".A atividade e a organização do Banco foram um bazar permanente, onde se refletiu a realidade economica da area pampiana. Sempre agiu como um braço economico do governo estadual e se mantinha "bajo el ala del sombrero" do todo poderoso e pergaminhado Presidente Dr. A.A.Borges de Medeiros. O Estado sempre manteve grandes depositos no Banco e sua diretoria era amiga e aliada politica do governo. Como o deserto é uma anemia da natureza,o Banco Pelotense sempre representou a pecuaria anemica com subproduto, o charque, de má qualidade com preço e mercado sempre incerto, mas continuava construindo belas sedes nas cidades fronteiriças e mantinha escritorios nas areas coloniais, onde se produzia e operava com lucratividade e pouco luxo. Em determinado momento, a diretoria mandou que se transformassem em promissórias os debitos em conta corrente dos fazendeiros e charqueadores. Decorridos os prazos, face à crise economica acasionada pela primeira Guerra Mundial (1914-1918), o banco tinha a dispor de mais de cem mil reses financiadas a 120 e 150 mil/reis e que estavam valendo 60 ou 70. O colapso foi violento, mas o governo do estado ajudou-o e salvou-o. Os técnicos do Banco agiam como goma elástica de uma sociedade complacente com o pecuarismo, mas de repente secou e se tornou quebradiça. A situação precária era comentada desde o clube dos Caçadores até as porteiras das estancias. Os fazendeiroos que conseguiram liquidar seus débitos no Pelotense assistiam e ouviam os boatos de quebra, rindo, como o fariam ao ver a queda do cavalo da princesa inglesa. O boato era patologico. Na zona colonial, o Pelotense conseguira convencer os colonos a depositarem seus pequenos lucros. Venciam a desconfiança que tinham trazido de suas comunidades européias. O depósito e crédito bancário na região colonial, eram como chita e riscado alguns gostam, outros não. As casas de negocios precederam as capelas como unidades gregárias dos colonos, onde encontravam e discutiam tudo o que acontecia. Geralmente era o comerciante que construia as capelas e nos dias de festas e nos domingos mantinham abertos seus negocios. Nestes pontos originaram novos municipios 20 30 anos depois. Eram tambem paradas de onibus, e logo surgiriam as bodegas onde jogavam cartas e bebiam, principalmente vinho colonial. Entre os colonos haviam grupos mais intelectualizados, que criaram grupos maçonicos e somente quando os capuchinhos vieram da Europa, organizaram estes novos locais e lançaram jornais e contos como "Naneto Pipeta" e outros. Todo o episódio da encampação do Pelotense prende-se a um momento analitico da economia gaucha ligado ao preço do gado e a precaria industria do charque. Sofreu desde o século anterior a concorrencia dos saladeiros do Rio da Prata que comerciavam um produto de qualidade melhor e de menor custo, acrescida ate o ano de 1916 pelo problema da Barra de Rio Grande, que economicamente sempre teve "querer", apesar da famosa frase de efeito de Silveira Martins. Borges em 1917, verificando que o Uruguai exportava desde 1913, mais carne frigorificada que charque. Forçou o Banco Pelotense investir 2 mil contos de reis na Cia. Frigorífica do Rio Grande, que fracassou. Este investimento foi o inicio da entrada no Estado das companhias internacionais. O frigorifico foi vendido ao grupo Westhey Brothers que junto com o Anglo e o Swift, viriam alguns anos mais tarde monopolizar toda a exportação da carne. Lindolfo Collor, editorialista do jornal " A Federação" tentou explicar todo esta alteração que trouxe um grande prejuizo ao Pelotense . Desde então o Banco voava como falena aflita e irrequieta em torno de uma luz o governo estadual. O coronel Alberto Rosa , seu diretor, não deixava de realizar sua viagem anual de férias ao Rio de Janeiro, onde no "vaudeville" carioca passeava e demonstrava a prosperidade do Banco. Faleceu em uma destas viagens e sua sucessão na Diretoria desencadeou uma crise interna que se arrastou até sua encampação. No ano de 1930, em plena efervescencia do preparo da Revolução de 30, desencadeada em outubro, apos a crise de 1929 com os charquedores abarrotados e sem mercado, financiadas pelo Pelotense, o Dr. Pedro Luiz Osório (o médico), viajou até a fazenda Irapuá, onde morava Borges de Medeiros, e pediu ajuda. Mas o presidente do estado era Getulio Vargas. Borges manda um bilhete incisivo mas educado a Vargas, pedindo ajuda ao Pelotense. Os episodios da vida de Vargas de 1915 a 1920 não foram até hoje esclarecidos pelos inúmeros biografos. Foi a epoca, de advogado na fronteira, e casou com uma filha do Sr. Antonio Sarmanho, gerente do Pelotense em são Borja. Num gesto desesperado suicidou-se. Havia anormalidades na escrita do Banco provocadas por um funcionário. E a Diretoria de Pelotas, mandara transformar os débitos existentes em conta corrente fossem transformados em promissórias. Apos o suicidio a familia Vargas retirou seus depositos do Pelotense. O Sr. Alcebiades de Oliveira em carta ao Banco relatou: O dr.Getulio Vargas deu-me noticias de que, não obstante os prejuizos, o ativo cobriria o passivo. Nove anos depois destes episodios, o Dr. Pedro luz Osório venceu a arraia miuda que pululava no Palácio preparando a revolução, e viu Vargas ser visitado pelo Gen.Gil de Almeida, comandante do Exercito, em conversa calma e risonha. O militar foi preso no primeiro dia da revolta. Este comportamento maquiavelico de Getulio e não descrito pelos historiadores. Creio ter sido o fato mais importante do sucesso da Revolução de 30, sentado em seu gabinete neutralizava o comandante do Exercito no sul, embora muitos Osvaldo Aranha e Flores da Cunha, duvidavam do seu comportamento. Mas Vargas seguia os comportamentos de Pinheiro Machado. Ouvi,ouvir...atacar no momento certo. Vargas fundara O Banco do Rio Grande do Sul, em duas salas da Secretaria da Fazenda, e seu diretor era Alcebiades de Oliveira, ultimo diretor do Pelotense. Vargas estava muito bem informado da situação dos problemas em Pelotas, mandou retirar de imediato 45 mil contos de reis da Viação Ferrea e os depositou no novo Banco do Estado. E refutou todos os argumentos do portador do bilhete de Borges de Medeiros. Tudo o que era do Pelotense passou para a Banco do Estado do RGS. Estes fatos demonstram 20 ou 30 anos apos ja eram assimilados por Vargas, simbolizados pela doutrina positivista na execução correta dos orçamentos. O General Flores da Cunha, de volta de sua viagem ao Rio em 1931, apos ler as decisões da Assembleia Geral do Pelotense e as informações de Antunes Maciel, profetizou: "Agora temos um banco que ajudara o desenvolvimento do Estado, mas cuidado: o risco que corre o pau, corre o machado". Estava enfeitado com sua inconfundivel gravata grená.

O Guarda-Louça Gaucho

No Departamento de História de uma Universidade americana em 1974, um estagiário comentava a influencia positivista sobre Getúlio Vargas e das fontes bibliográficas que citava havia uma cronica famosa de Sergio Jockymann, "Uma sombra nas ruas" publicada apos o suicidio daquele Presidente. Como Vila Velha , primeiro e segundo volume, estão fazendo bulha fui ler os tais como dizia Mario de Andrade. São crônicas jornalisticas, ao estilo do meu tempo, mas dissecam num corte vertical a formação e integração de uma área riograndense rica de conteudo sociologico e antropologico. Palmeira e Cruz Alta, onde o jovem escritor adolescente sofreu as primeiras inundações dos corpos cavernosos e levantou o olhar para a vida que o cercava, são o resultado de um cruzamento etnologico sui generis. Encontraram-se naquelas paragens os descendentes dos tropeiros sorocabanos com olfato telúrico se tornaram estancieiros, os indios missioneiros aguçados pelos padres espanhois e os imigrantes italo-germanicos que estavam ocupando as terras devolutas e portavam um know-how adiatadissimo para a época no amanho da terra. Estes elementos atraves dos conflitos pela posse da terra, na politica pelo dominio da Intendencia, e no ranger aconchegante e coordenado das camas de ferro, geraram uma população mesclada e altiva que de 1910 a 1940 transformaram economicamente o Alto-Uruguai. A sociogenese destes fatos é a fição de Sergio Jockymann que não se preocupa com o friso das calças como fazia Alcides Maya, como o heroismo pampiano de Roque Callage ou com a filosofia galponiana de Darcy Azambuja. Lança-se direto ao estudo da hierarquização do mandonismo coronelista dos donos da terra infiltrados pelo trabalho e ascensão do elemento da colonia que lhe roia as entranhas partindo do mato. Era a época que a politica se fazia à rabo-de-tatú. "A mancha de campos naturais da área moldou um tipo de homem especial, pastoril e guerreiro, em que o peão é um soldado natural de cavalaria e o fazendeiro um caudilo em potencial" como afirma Mozart Pereira Soares. Ao lado dos primeiros com Athanagildo Pinto Martins, do cel. Romão Luciano de Souza (Bicaco), Serafim de Moura Reis e Valzumiro Dutra, encontramos o elemento imigrante com os nomes de Westphalen, Fetter, Kraft e outros. Dos onze distritos de Palmeira: Campo Novo, Nonohay, Goyo-en, Faxinal da Guarita tinham grande população indígena existia Neu Wurtemberg, reduto da colonização alemã e Irai com suas águas do Mel, hoje novos municipíos. Palmeira é um modelo político onde o tripé conservador: coronel, delegado, padre sempre venceram as eleições. O entrechoque desta fauna humana, suas misérias e suas dependencias. é a atração das cronicas de Jockymann. A pandega politica gerou na área dois tipos de caudilhos: na mata e nos ervais o "caudilho a pé" com Leonel Rocha dominando os caminhos das grandes florestas, e na região pampiana o "caudilho a cavalo" de topete garibaldino, cuja figura máxima foi Valzumiro Dutra. Era a epoca do Café Central, do Club Comercial, do viajante mentiroso e fofogueiro, da india benzedeira, do Ford de Bigode, do querozene Jacaré, da roda de bilhar, da casa da Zoé e do Padre Afonso. Erico Verissimo individualiza atuação dos seus personagens e os conduz às culminancias da politica nacional, tendo como figura de proa a José Gomes Pinheiro Nachado, provando que os politicos gauchos verticalizaram-se no Pais de maneira notavel, enquanto que o Banco Pelotense, uma organização economica riograndense, nasceu, esplendorou e morreu no fim do governo Borges de Medeiros e no Inicio de Vargas no Piratini. Jockymann permanece na cozinha no máximo acompanha o coronel até Porto Alegre faz uma visitinha ao Clube dos Caçadores, enquanto espera a audiência, sempre solene, para receber ordens, e não alçar outros voos. De maneira magnifica compreende a filosofia da Carta Positivista no comando da politica rio-grandense e a burocratização do coronel intendente. Solucionador por excelencia das picuinhas locais e que só organizará e utilizará forças a mando do poder estadual. O contrário acontecia em outras areas do território nacional, onde os coroneis agiam e mantinham força armada própria e independente, como o demonstra Victor Nunes Leal no seu "Coronelismo, Enxada e Voto". Na cronica de Jockymann sente-se outra obra notavel da politica riograndense da ápoca, criando a Comissão de Terras e Colonização (Estabelecida em Palmeira 1917), distribuia a terra e emitia os títulos de propriedade. Esta politica inspirada no ideário positivista transformou proletários europeus em pequenos proprietários no Rio Grande do Sul, o contrário do que acontecia com o mesmo elemento humano nas fazendas de São Paulo. Daí o esteio politico que o Partido Republicano Riograndense sempre teve na colonia alemã e italiana. Não escapa ao ficcionista o aspecto burlesco e deletério que ocasionou a liberdade profissional, sob a égida da doutrina positivista, proliferando em todo estado o charlatanismo, principalmente médico por elementos espertos vindos da Italia e Alemanha. Vila Velha é um Guarda-louça gaucho onde encontramos a vagem recem-colhida, o tomate, o chucrute, o doce de abóbora, a polenta, o charque, o lombinho de porco e a feijoada. Na prateleira do meio esta a analise da perda de compustura dos subalternos do coronel da vila até o frigir dos ovos das conversas de campanario de milhares de seres que nasceram, vivenciaram e morreram na agua morna de uma vida de inexpressiveis favores aos donos da terra e da ascensão artesal dos descendentes dos imigrantes europeus. É sociologia fina com cheiro das campinas e das matas infindas que ornavam o Alto Uruguai.

Anatomia moderna da Mucosa Nasal

A mucosa nasal é atapetada por um epitélio pseudoestratificado colunar apoiando-se sobre uma membrana basal que a separa das estruturas da submucosa. Sobre a primeira linha do epitelio existe um liquido que mantem úmida a mucosa, sobre ele encontram-se as particulas respiradas
que são deglutidas. O outro epitélio tambem contem liquidos e cilios que propulcionam o muco,
em forma de ondas bem determinadas, e é onde as glandulas mucosas e serosas depoem suas secreções, formando um gel, que permite a limpeza correta das secreções. Quatro tipos de celulas na loja epitelial: a) células colunares epiteliais b) celulas não ciliadas colunares epiteliais,
c) celulas globosas d) celulas basais. Estas células como as glandulas da submucosa secretam glicoproteinas e as lançam na superficie epitelial. Elas tem microvilosidades, que são progeções imoveis e aumentam a area da superficie e contribuem para a hidratação (umidificação do ar). Este sistema com seus cilios á a barreira inicial de defesa do aparelho respiratorio. Seus problemas patologicos provocam os conhecidos sindrome dos cilios imoveis, Kartagener e outros. Abaixo das celulas basais esta a submucosa riquissimas em glandulas, de tres tipos:
mucosas, seromucosas e serosas. Nas seromucosas a parte central é formada por celulas mucosas, enquanto que as celulas envolvem aquelas em forma de crescente. As glicoproteinas mucosas localizam-se histoquimicamente nas glandulas do mesmo nome. Enquanto as lisozimas
lactoferrinas, e a endopeptidase neutral (inibidora da SP) e a IgA secretora estão nas glandulas
serosas. O sistema intersticial contem linfocitos, fibroplastos e mastocitos. Existem 150linfocitos/mm3 na membrana basal. Dois terços são CD4 e CD8. A população de CD4 e CD8 não se modifica nas crises alérgicas. Ha 10 celulas/mastocitos por mm. na membrana basal, muitas são do tipo MC/TC que contem triptase e quimase, os mastócitos estão localizados na proximidade das terminações nervosas sensoriais e autonomas e dos vasos suaguineos com sua formação terminal de microcirculação. O numero total de mastocitos é aproximada de 7000 por/mm3 na membrana basal e de 50 por/mm3 na area epitelial. Os mastocitos epiteliais são do tipo MCT, o numero deles aumenta nas crises alérgicas.. As únicas celulas da mucosa nasal que se ligam a fração Fc da IgE são os mastócitos. O nariz é o local mais vascularizado do corpo humano, seu fluxo total por cm3/tecido excede aos dos musculos, cérebro e figado. Na superficie epitelial da mucosa é de 42 ml/100 grs/min. O que é altissimo. Ele alimenta as glandulas que contem fenestrações na membrana basal similar a dos glomérulos renais. Esta construções anatomica facilita a rapida extravasão do fluido atraves das paredes vasculares, fornecendo a
umidificação adequada ao ar inspirado. Este sistema extremamente adensado nos cornetos contem musculatura lisa que é controlado pelo sistema autonomo, transformando-se num complexo tecido erétil que produz normalmente o ciclo nasal e suas flutuações e as obstruções
quando alterados seus mecanismos de controle. O ritmo do ciclo é ultradiano, várias vezes nas
24 hs. Pacientes que apresentam mastocitose podem ter até 40 mil/mastocito/mm3. Geralmente eles tem enxaquecas devida a produção de histamina. Selye- o descobridor e divulgador do Stress, chamava os mastocitos de protetores do organismo ele é "um kit de emergencia, recentemente foi denominado de "microprocessador" que ajuda a manter a homeostase do organismo. Tudo esta alterado nos alérgicos. Outro aspecto da mucosa alérgica é dos cornetos pallidos deve-se a grande quantidade de eosinófilos degranulados, este aspecto só é revertido pelos corticoides. O mecanismo mucociliar constitui um dos dispositivos mais sutis e atuantes do organismo. Desta maneira uma película de muco é continuamente deslocada como uma esteira para a hipofaringe onde é deglutida. Os batimentos ciliares são bifasicos, a um rapido movimento para frente segue-se um lento para tras. Embora a muco sobrenadante cosntitua um gel, ha uma camada adjacente em fase de sol, o que permite frequencias de 1.300
batimentos por minuto e deslocamentos de 13.5 mm/minuto . Todo o tracto respiratorio é revestido por epitelio mucociliar, com exceção dos alveolos, bronquiolos, corda vocais, epiglote e orofaringe.






A Nocicepção

Desde a descrição gasseriana do gânglio do trigemeo, não existia uma explicação aceitaveel sobre seu tamanho. Ramon y Cajal denominou-o de ganglio-glandula. Surgiam, nos seus estudos histológicos grande quantidade de celulas com corpusculos corados. Hoje sabe-se ser o grande intermediario quimico da sensibilidade geral da cabeça e pescoço e do fenômeno da nocicepção. A grande função do ganglio de Gasser é produzir e estocar substancias neuropeptidicas circulando pelos nervos sensitivos e acumulando-se junto as terminações, aguardando os estimulos especificos para serem degranuladas nas fendas sinapticas. Nocicepção é o conjunto de funções fisiologicas permitindo ao organismo detectar, perceber e reagir a estimulações potencialmente nocivas, o exemplo tipico é a percepção pela mucosa nasal das modificações da umidade do ambiente, ou da presença de restos ácaros, induzindo a reação por nocicepção. Pelo mesmo mecanismo é regulado o ciclo nasal. Estes estímulos viajam de volta, antidromicamente, no mesmo nervo sensitivo, produzidos na fenda sináptica pois liberam substancia P e outros neuropeptidios antes de informarem o hipotalamo. É o mecanismo do espirro e da coceira alérgica. O hipotalamo recebendo a nocicepção aciona os sistemas pelos nervos motores. Este sistema é um dos relogios biologicos do organismo. Existem nociceptores em todo o corpo, principalmente na pele, nos orgãos ocos e nas membranas envolventes das cavidades toracica e
abdominal, nas meninges e na bolsa escrotal. Na hiperreatividade bronquica tres sistemas controlam o tonus da musculatura bronquica: 1.o sistema motor colinérgico (parassimpatico constritor). cuja mediação é realizada pela acetilcolina nas fendas sinapticas, e age sobre os receptores muscarinicos M3 da musculatura lisa bronquica. 2. o sistema autonomo motor adrenérgico (simpatico bronco-dilatador), cujo mediador é a adrenalina e age sobre os receptores B2 da musculatura lisa bronquica. 3. O sistema sensitivo (não adrenergico nem colinergico) denominado pela sigla NANC, é formado pelas terminações sensitivas das fibras C, cuja ação é mediada por inumeros neuropeptidios originando: a) Broncoconstrição; SP, Neurocinina B, Peptidio gene-relacionado a calcitonina (CGPP). Os produtores de bronco-dilatação são: VPP (peptidio vaso intestinal e NO (oxido nitrico). Tambem acionam a cascata do acido araquidonico prodduzindo prostaglandinas e leucotrienos. Nicanor Letti

Bases Fisiológicas das Septorrinoplastias

Autor(es):
Monserrat Viladiu J. M

"A liberdade do nariz é uma das liberdades mais apreciadas pelo homem"Escat.
O nariz é um tubo complicado e fisiològicamente ativo. Como em todo o tubo as características da coluna aérea que circula por seu interior vêm condicionadas pela forma, qualidade de suas paredes e aberturas. Insistimos em assinalar a importâmcia de tôdas suas paredes, assim como as aberturas situadas nas extremidades. No nariz as paredes e a septação central tem um papel importante, as vêzes decisivo do primeiro ao último momento do ciclo respiratório. No curso das intervenções septorrinoplasticas não fazemos outra coisa, senão modificar a forma, orientação, dimensões e relações dos elementos anatômicos, sendo evidente portanto, que no ato cirúrgico incindimos sôbre fisiologia respiratória. Quando um fluído circula por um tubo devem ser consideradas dois tipos de pressões: primeiro, a estática que o fluído exerce sôbre as paredes do tubo, pode ser negativa ou positiva. Segundo, a mecânica, a diferença existente entre a pressão em uma secção do tubo e da secção situada imediatamente adiante ou atrás. Estas diferenças de pressão ou dinâmica é o que impele o fluído a mover-se no sentido da pressão maior para a menor. Em um tubo ideal de paredes paralelas no qual não existisse fricção um volume constante se deslocaria ao longo do mesmo a velocidade constante, caso não variassem a temperatura, a densidade etc. A pressão estática seria a mesma em todo o tubo e a pressão diferencial entre secções situadas a igual distância seria também invariável. O nariz não se assemelha a êste ideal. Vejamos, portanto, que leis físicas, podem nos ajudar a compreender o funcionamento nasal. Em um tubo de secções variáveis podemos aplicar a lei de Bernoulli: P+1/2 ao v2 = Ca = coeficiente do densidade, v = velocidade do fluído, C = constante, P = a pressão estática e a expressão 1/2 a . v2 é a pressão aerodinâmica. Deduzimos que a soma das pressões estáticas e dinâmicas é uma constante e que quando aumenta a pressão dinâmica, diminui a estática. Quando as partículas se movem na direção do eixo do tubo (face as diferenças de pressão), exercem menos pressão sobre as paredes do mesmo. O que em têrmos matemáticos equivale a que quando aumenta a velocidade (v) diminui a pressão estática (P) para um volume de passagem constante.Se um volume determinado em um tubo sem fricção passa de uma parte mais larga e outra mais estreita, a velocidade aumenta embora a pressão estática diminue este raciocínio é válido para o nariz onde as secções de passagem são sempre diferentes. Isto é válido principalmente para a estreitamento vestibular onde a diminuição da pressão estática pelo aumento da velocidade colapsa a válvula. Normalmente isto não sucede graças a ação dos músculos da asa nasal. No estudo aerodinâmico devemos lembrar a fricção como elemento na produção do turbulências, inclusive em um tubo de paredes lisas, pois são produzidas pelo aumento de velocidade acima de determinado valor. A passagem de um fluído por um tubo pode ser em regime laminar ou turbulento. O regime depende da velocidade de passagem. Vejamos o que sucede em um regime laminar. O tubo sendo redondo, as partículas do fluído apresentam velocidade máxima no eixo do mesmo, para decrescer a medida que se aproximam das paredes. Assim a maneira de lâminas ou capas de partículas paralelas ao eixo do tubo. Cada capa apresenta uma velocidade própria, sendo nula ou pequena na capa que contacta com as paredes e máxima na que corresponde ao eixo. A velocidade de cada lâmina é dada pela equação seguinte: VR = 2v (1- 22/R2)na qual : VR=velocidade de uma lâmina a distância r do eixo, R é o raio do tubo e v a velocidade média. Vemos que a velocidade nas distintas lâminas é proporcional a velocidade média. A pressão diferencial entre dois pontos se mede em um tubo com fricção pela lei de Poisseuille: dj / dl = c . V/R4 onde: dj / dj é a pressão entre dois pontos, que é proporcional ao volume v e inversamente proporcional a quarta potência do raio do tubo. Podemos considerar no nariz a pressão diferencial aumentará muito se o raio da secção aerodinâmica diminue um pouco. Se aumenta o volume aumentará também a pressão diferencial, mas em relação muito menor que a diminuição do raio. Estas leis aplicadas ao nariz, nos permitem verificar que na passagem do ar de uma parte larga para uma mais estreita, a queda de pressão estática é a soma da queda produzida pela fricção ou a queda que se produz pelo aumento da velocidade, como se deduz pela lei de Bernouilli. Na prática podemos dizer que basta ressecar as vezes um pequeno obstáculo nasal para que o benefício obtido seja muito considerável, tal como demonstrado na clínica. No nariz durante esfôrço, o fluxo de ar torna-se turbulento devido ao aumento de velocidade. Neste regime a velocidade de passagem de cada lâmina de partículas no tubo ideal não é constante, inclusive podendo mudar de direção o deslocamento das capas aéreas aparecendo redemoinhos. A expressão desta nova situação é a seguinte, segundo a lei de Venturi: dj / dl = - c V 1,75/ R 4,75 As diferenças de pressão estão em proporção ao volume de passagem (V) e ao raio (R). Mas neste caso esta proporção está em relação com a potência 1,75 do volume e a 4,75 do raio. O regime de descarga, portanto, no fluxo turbulento determina um aumento muito maior, em relação quadrática, às diferenças de pressão. A expressão que relaciona o fluído, o raio do tubo e a velocidade de passagem é chamado número de Reynolds. Podemos dizer que um regime será turbulento ou laminar segundo seu número de Reynolds. Para ser obtido na seguinte fórmula: na qual Re = número de Reynolds, Ve = viscosidade cinética, V - volume, e R o raio do tubo. Tonndorf encontrou no nariz um valor de Reynolds igual a 1.160. Isto quer dizer que quando a relação que acabamos de expor é superior a 1.160 o regime é turbulento, quando é inferior é laminar. O número de Reynolds na respiração de repouso está ao redor de 1000. É teòricamente possível que se aumente a velocidade sem se chegar ao Reynolds crítico, se aumenta também o raio. Isto tem valor na clínica uma vez que a válvula é um obstáculo móvel e que dentro de certos limites pode atuar condicionando o aumento de volume. Face a escassa margem que existe entre o Reynolds de respiração de repouso e o Reynolds crítico de 1.160 podemos deduzir que as turbulências podem estar presentes em um nariz normal - Segundo Spoor podemos afirmar que a aspiração e a expulsão de um fluído através de um tubo modifica as pressões a que êste tubo está submetido. A pressão diferencial no nariz guarda distintas relações com o volume de descarga: linear, durante o regime laminar em respiração de repouso em relação com a potência, 1,75 no regime turbulento e em relação quadrática no momento da aspiração e expulsão do ar. Durante o ato da respiração existe uma diferença de pressão entre o exterior e o rinofaringe. Se esta diferença não existisse não haveria nenhum movimento de ar no interior do nariz. Devemos lembrar, entretanto, que a diferença de pressão entre o vestíbulo e a coana nasal é a soma algébrica das múltiplas diferenças de pressão entre os planos de secção da corrente aérea num determinado momento. Os valores são muito similares e a importância clínica que devemos guardar é nos estreitamentos nasais a diferença de pressão entre um lado e outro do obstáculo é muito maior que nas zonas alargadas. Débito nasal é o volume que passa pelo nariz na unidade de tempo. Durante todo o ciclo as diferenças de pressão entre o exterior e a rinofaringe são variáveis. Negativas durante a inspiração, tornam-se positivas durante, a expiração, desenhando uma curva sinusoidal com valores que se modificam a cada momento, o mesmo acontece com o débito. No estudo da ventilação nasal em relação com as deformidades, os parâmetros que devem ser levados em conta são: 1.º) as diferenças de pressão, 2.º) o volume de passagem ou o débito a cada momento de diferença de pressão. Êstes dois parâmetros estão em função da forma e dimensões do tubo nasal. Os autores consideram o valor de 250 ml/s como débito normal para uma fossa nasal. O trajeto da corrente aérea tanto inspiratória e expiratória segue, ao longo do meato inferior. Outras autores afirmam que passaria pelo meato média e adjacências. Danziger em 1896, demonstrou a importância das aberturas no trajeto da corrente aérea. Afirma ainda êste autor que o caminho estaria condicionado pelos seguintes aspectos: abóbada da fossa ou teto nasal e pelo fato que as coanas são maiores que o vestíbulo nasal. As experiências de Unik e Vou Dishoeck não permitem conclusões adequadas, êles usam caixas e fazem aberturas horizontais e verticais e as conclusões se assemelham. É importante considerar como Proetz que o orifício posterior é o dôbro do anterior. Os estudos dêste autor com papéis de tornassol e com fumaça de tabaco demonstraram que o ar expirado ao penetrar nas coanas choca-se com a cauda, do corneto inferior fato que dirige a corrente para cima. Ao chegar na zona do corneto médio, êste se divide em duas colunas: uma segue o trajeto intrameatal e a outra passa entre os cornetos médio e superior do septo. Ao chegar no ático interno do vestíbulo ou estreito vestibular a corrente divide-se novamente. Uma parte sai para o exterior e a outra se dirige até a parte posterior, formando um redemoinho que passa pelo interior da fossa e se junta ao nível da cauda dos cornetos com a corrente principal que entra pelas coanas. Dêste fato podemos retirar as seguintes conclusões clínicas: 1) uma hipertrofia da cauda do corneto dará uma insuficiência nasal mais marcada na expiração. 2) parte do ar expirado se mantém dentro da fossa o qual se mistura com o inspirado, facilitando o acondicionamento dêste último. 3) a corrente expiratória é a que fundamentalmente determina a olfação 4) O ar que penetra nos seios paranasais é o expirado. A olfação, portanto, será muito mais dificultada por alteração dos cornetos que por desvios septais. Cottle chama atenção que a direção da corrente aérea pode ter outras repercussões. A zona do ático nasal, muito rica em reflexos, pode ser traumatizada por ação de uma corrente aérea excessiva e ser causa de cefaléias, corizas, etc. As explorações realizadas em condições patológicas demonstram que quando existe uma estenose de válvula, a corrente aérea principal corre pelo assoalho da fossa. A corrente aérea se lamina em forma de coluna de ar de 1 e 2 mm: de largura e se acha na parte mais alta da fossa nasal. As dificuldades respiratórias que atingem os pacientes com rinite atrófica são devidas a turbulências e não a incapacidade da mucosa de sentir a corrente aérea. Quando a parte alta do nariz esta obstruida então o paciente ou respira pela bôca ou pela parte mais baixa do nariz. Nestas últimas condições o volume de ar passa forçado até a faringe. Se aumenta muito a velocidade, ou diminui o trajeto intranasal, o ar chega a faringo sêco ou frio e cheio de particulas, produzindo-se então transtornos como crostas, edemas, infecções etc. Os obstáculos fisiológicos que se colocam na passagem do ar pelas fossas nasais foram chamados por Cottle de "bafles" ou resistências fisiológicas. Os principais são: 1) A zona formada pelo extremo proximal da parte medial. 2). A extremidade externa da asa nasal. 3) A borda caudal do septo cartilaginoso. 4) A cabeça do corneto inferior. 5) O tubérculo de Corneille ou do septo. 6) A válvula e o fundo de saco do vestíbulo nasal. O vestíbulo dirige a corrente aérea de fora para dentro. A coluna de ar se projeta seguindo um ângulo de 20 graus até a válvula, passando pela mesma sem grandes turbulências. Aí o ar bate no septo na zona do tubérculo que, por sua disposição em forma de fuso, pode modificar a direção da corrente que toma orientação paralela ao plano sagital que o conduz até as coanas. O fundo de saco neste nível pode produzir turbulências. De todo os "bafles" os mais importantes são aquêles constituídos pela válvula e pelo fundo de saco. Desde Mink (1933) ficou demonstrado que a válvula atua como regulador da velocidade do entrada do ar, ou seja do volume, já que está em função da velocidade. Na debitorinomanometria ao aumentar as pressões diferenciais aumenta também o volume de ar por segundo. Comprovou-se que a zona da válvula e do estreito vestíbulo fossal funciona como um sistema do ajuste e adaptação convergente-divergente. Para Taptas o vestíbulo e os elementos do estreito vestíbulo-fossal fazem aumentar o débito duas vêzes e meia mais que se o nariz fôssc todo êle um tubo de paredes paralelas. Os cornetos são considerados como um obstáculo a passagem da corrente aérea. Von Dishoeck crê que a ação dos cornetos depende da amplitude das fossas. Se estas são normalmente amplas, a totalidade da resistência é devida as válvulas. Se as fossas são mais estreitas que o normal, é quando intervem os cornetos que terão papel maior ou menor segundo seja a dimensão transversal da fossa. A superfície do estreito vestibular varia de 20 a 40 mm2. As dimensões das fossas, que tem forma de corredor, mais largas na parte inferior que na superior. As dimensões transversais podem chegar até 3 cm o sua altura a 4 cm. Isto fornece uma secção para o trajeto aéreo de alguns centímetros quadrados. A secção hidráulica no vestíbulo está em tôrno de 13 mm2, enquanto que nas fossas está ao redor de 80 mm2. Compreendemos assim o pouco valor que tem os cornetos como obstáculo à passagem do ar nas fossas nasais largas ou normais. Masing acha que os cornetos atuam corrigindo a direção da corrente de ar e fazendo possível a resistência de colunas aéreas. O problema clínico que jogam as resistências nasais está intimamente ligado ao fisiologismo dos cornetos e de suas variações cíclicas. Para Guillén, Cottle, e outros autores é a válvula que regula a passagem de ar, uma vez que é a abertura menor de todo o trajeto nasal. Os autores descrevem um ciclo nos cornetos de turgecência o de retração, Heetderks achou êste ciclo em 80% dos pacientes examinados. A principal finalidade dêste jôgo é o condicionamento de ar inspirado em umidade e temperatura adequadas. Os 75% de saturação de umidade se realiza na cavidade nasal, o ar frio e úmido produz dilatação dos cornetos. No ar seco e quente os cornetos se dilatam menos. Êste ciclo varia individualmente sendo mais ativo nos adolescentes. A mucosa nasal tem extraordinária sensibilidade às mudanças das condições climáticas. O campo pulmonar só consegue realizar a hematose com o ar saturado de umidade, isto é a 100%. Entretanto, a umidade absoluta é a quantidade de água que existe em um meio, a relativa é a quantidade de vapor que o impregna, em relação ao seu grau de saturação. O calor favorece a evaporação, em meios frios a umidade absoluta será baixa com valores normais de relativa. No nariz a umidificação do ar alcança 77% enquanto que na traquéia sòmente 15%. Nos indivíduos com rinite atrófica estas cifras caem para 45% a 60% no nariz. É duvidosa a ação glandular sôbre a umificação do ar. A outra função da mucosa nasal é aquecer o ar. A mucosa nasal é muito mais resistente ao frio que a dessecação (a 30% de umidade a mucosa morre, enquanto que a 0° de temperatura com umidade normal a, mucosa se recupera). Porchet e Baumgartner dão as seguintes cifras, quando se inspira ar a 18 - 21.º, na hipofaringe êle chega a 32 e 33.º e na traquéia a 34 e 35.º. O nariz portanto é o grande responsável pelo aquecimento, enquanto que na traquéia sòmente aumenta dois graus. Ao respirar pela bôca na hipofaringe alcança 29.º, mas na traquéia encontramos a mesma temperatura, respirando pela bôca ou pelo nariz. A mucosa nasal imediatamente após a inspiração está a 30.º o sobe a 32.º após a expiração. Êste aquecimento de dois graus contribue para a manutenção da temperatura corporal.A recuperação do calor da respiração se faz em melhores condições respirando pelo nariz que pela bôca. A clinica ensina os pacientes que respiram pela bôca despertam com secura, nada acontecendo com os que respiram pelo nariz, do que se deduz que a umidificação é mais fácil e fisiológica pelo nariz que pela bôca. Proetz afirma que os 15.000 litros diários de ar sêco requerem 680 ml de água para se saturar. O mesmo autor condena os sistemas modernos de calefação que tornam tão baixa a umidade relativa e que, prejudica as defesas de tôda a mucosa nasal, também que a umidificação das residências faria baixar as infecções respiratórias. Autores modernos demonstram que trabalhando com temperaturas ambientais de 24 a 28º e com higrometria de 3 a 4 mg/litro, observaram que o ar inspirado pelo nariz o recolhido ao nível do meato médio tem 30 mg/litro e a temperatura aumenta a 31,5.º. Nas coanas a umidade é de 34 mg/l e a temperatura sobe 0,5º. A rinofaringe pode suprir completamente o nariz quanto ao condicionamento térmico mas não ao higroscópico. Segundo os mesmos autores a grande carga de vapor de água se obtem em condições fisiológicas, no meato médio, neste local passa de 17 a 92% de umidade relativa.Na metade posterior das fossas nasais a umidade de 92 a 101% o nariz cede 31 mg de água por litro de ar inspirado. Calcula-se que sôbre, os 21,5 m3 que se respira durante um dia 356 gr. de água. A rinofaringe sòmente proporciona umidificação de 172,5 g. por dia. Vemos assim que embora a rinofaringe aquece o ar até quase as cifras necessárias não consegue proporcionar 50% da umidade necessária . O condicionamento, portanto, do ar respiratório em condições normais se realiza no nariz. Se êste falha o resto das vias respiratórias pode suprir, mas as submete a um "stress" que determina em muitos casos o aparecimento de patologia respiratória. As partículas orgânicas e os germes podem alcançar de 10.000 a 100.000 por ml nas atmosferas e locais poluidos de nossas cidades. A primeira ação de filtragem do ar é exercida pelas vibrissas. O vestíbulo nasal pela sua forma é um obstáculo a entrada destas partículas. O elemento defensivo que proporciona uma melhor filtragem do ar é o muco. O muco nasal tem duas camadas, uma profunda na qual se movem os cílios e uma superficial mais densa situada acima dos cílios. O movimento ciliar conduz esta capa do muco até a hipofaringe a uma velocidade de meio centímetro por minuto, ou seja, necessita 10 minutos para ir da cabeça do corneto inferior até a coana. A tensão superficial da capa viscosa do muco impede a penetração e o ataque ao epitélio ciliar pelas partículas e germes do ar. Êste está estéril na porção posterior das fossas nasais. As células ciliadas tem uma disposição irregular no nariz, nula no vestíbulo e muito pobre na parte anterior do septo e região pré-turbinal. É muito rica nos terços posteriores do nariz. Esta distribuição irregular é devida a que as células ciliadas não sobrevivem em zonas muito ventiladas e com poder higrométrico baixo. Isto acontece em fossas muito ventiladas como nas deformidades repto-piramidais que determinam grande desproporção do tamanho das mesmas. Existe lentificação da corrente ciliar na alergia, na inspiração de gotas oleosas e na ação do frio. A capa do muco é importante nos tratamentos cirúrgicos. A filtragem das partículas é auxiliada, por vários fatôres: o peso o da mesma e o fator eletrostático parecem ter importância, êste fator aumenta quando baixa o grau higrométrico do ambiente. Pattle demonstrou que partículas superiores a 9 micros são retidas na proporção de 86% em um débito de 10 litros por minuto e na sua totalidade a um débito de 30 litros por minuto. As turbulências aumentam a retenção das partículas. Nos de 1 micro ou menos jogam um papel mais importante no efeito eletrostático. A espessura das moléculas aumenta ao concentrar vapor de água em sua superfície. Proetz afirma que uma partícula não fica mais de um segundo em contato com uma célula, anular a infecção microbiana para êste autor, é impossível se a capa do muco e o movimento ciliar se desorganiza. Trentle também não tem encontrado nenhuma alteração do movimento ciliar depois da resecção submucosa do septo realizada corretamente. Todo o problema das resistências nasais tem grande importância na fisiologia dos seios paranasais. Proetz demonstrou que as pressões positivas ou negativas se transmitem aos óstios. Nos casos normais existe um sincronismo entre as pressões nasais e sinusais. Para que exista mudanças tensionais nos seios é necessário que as resistências nasais se encontrem em posição distal ao óstio sinusal. Normalmente a maior resistência se encontra no estreito vestíbulo-fossal, o que permite que as quedas de pressão que são produzidas na passagem nasal se transmitam a todos os seios. Se existe, entretanto, resistência maior na parte posterior das fossas nasais (Imperfeições de coanas, hipertrofia de adenoidos ou da cauda dos cornetos) na expiração como na inspiração, as quedas de tensão terão lugar na parte posterior do nariz, o que dificultará sua transmissão aos seios e produzirá uma alteração na ventilação sinusal e incidirá desfavoràvelmente sôbre a drenagem e fisiologia do nariz e seios.

* Resumo do trabalho do Dr. Monserrat Viladiu J. M, - publicada na separata da Acta Otorrinolaringológica Espanhola - Mayo-Juno 1969.Tradução: Dr. Nicanor Letti.