Faculdade de Medicina da UFRGS

Neurotransmissores, aspectos atuais

A sinapse é o local de contato funcional entre os neurônios ou entre um neurônio e um órgão(músculo, glândula). A comunicação interneuronal sempre usa um intermediário químico, o neurotransmissor, secretado pela célula pré-sináptica, que irá agir sobre a pós-sináptica. A transmissão gera um potencial pós-sináptico (PSP) de dezenas de milivolts. Esta função acopla-se a liberação de neutrotransmissores as centenas ou milhares. Eles se unem as moléculas do receptor pós sináptico com os canais iônicos durante 1 milisegundo. O efeito da união pode ser: 1° com potencial pós-sináptico excitador EPSPs ou 2° potencial pós-sináptico inibidor IPSPs. Aferências diferentes podem produzir efeitos diferentes, com forças diferentes. Estas sinapses químicas são fundamentais para o SNC, pois estão sujeitas a modulações présinápticas ou pós sinápticas permitindo a flexibilidade essencial para o processo de informação dos circuitos cerebrais. Desde a descoberta do microeletródio sabe-se que a liberação do neurotransmissor é de natureza quântica. ( quanta: quantidade indivisível de energia eletro-magnética que gera uma radiação de freqüência). O neurotransmissor é liberado espontaneamente das vesículas multimoleculares chamadas “quanta” na ausência de atividade elétrica pré-sináptica. Cada vesícula gera um pequeno sinal pós sináptico. Esta neurotransmissão química que esta presente em toda a atividade cerebral envolve 5 etapas bem distintas; a síntese do neurotransmissor que se realiza ao nível ganglionar, estocagem das vesículas que viajam até os dentritos do neurônio, a liberação na fenda sináptica, a união com um receptor e sua inativação.

Semiologia das Linfoadenopatias

O organismo humano tem 580 a 620 linfonodos, dos quais a metade situa-se no pescoço. A semiologia das linfoadenopatias é muito extensa, mas alguns dados fundamentais devem ser conhecidos de todos. Ao inspecionar e apalpar um linfonodo deve ser considerado o tamanho, mobilidade, dolorimento e temperatura. Os que devem obrigatoriamente ser apalpados são os localizados nas regiões: ocipital, cervical, submaxilar, axilar, epitrocleanos e inguinais. Linfonodos discretos, móveis, frios, não doloroso, de tamanho de até 3 a 4 mm são normais. Nas regiões cervical e inguinal podem ter tamanho de 1 cm até a idade de 12 anos. Nos jovens um linfonodo responde a uma infecção de maneira súbita, podendo chegar a grandes tamanhos e após regredir lentamente.
A linfo-adenopatia pode ser: generalizada, regional, bilateral ou solitária. A extensão do envolvimento é fundamental para realizar o diagnóstico. Relembramos que a maioria das linfo-adenopatias generalizadas são ocasionadas por processos malignos e ou infecções específicas. Enquanto que as amigdalites, faringites ou outras infecções ocasionam linfadenites cervicais bilaterais. Na mononucleose aparecem também linfonodos posteriores ao longo do pescoço, em forma de rosário, sendo típicos dessa infecção viral. E são fundamentais no diagnóstico diferencial com as infecções bacterianas da garganta. A linfo-adenite regional é ocasionada na maioria das vezes por focos infecciosos e apresentam uma resposta proliferativa. A anamnese da linfo-adenopatia requer especificações sobre: duração, dolorimento à palpação, contato com gatos ou outros animais, sintomas respiratórios duas semanas antes da adenopatia, temperatura acima de 38.5°C, problemas cutâneos como rash, dentários, perdas de peso acima de 2.5 kg, artralgias, terapia com antibióticos, organomegalias, alterações do hemograma, da sedimentação e das plaquetas. O dolorimento de um linfonodo significa que a cápsula que o envolve está infiltrada pelo processo, pois só ela é inervada por terminações sensitivas. Existe, portanto, linfadenite com ou sem perilinfadenite, só esta última provoca dor. Em relação ao pavilhão da orelha existe uma particularidade especial: a linfadenite anterior pré-auditiva é provocada por conjuntivite, quando infra-auditiva é infecção do conduto auditivo externo, e retrauditiva significa infecção do pavilhão da orelha.

O ouvido como um baroreceptor

O ouvido normal é um baroreceptor sensitivo das mudanças de pressão do ar no canal auditivo externo. Geralmente as mudanças de pressão menor do 100mmH2O, correspondem a um deslocamento da membrana timpânica menor que 15 micros/litros. Considerando que o volume do ouvido médio e da mastóide tem 6000 micro/litros, isto mostra que o ouvido médio pode ser sensível a mudanças de uma fração de 1% do seu volume. Logo o processo da deglutição mantenedora da regulagem da pressão do ouvido médio é desencadeada pelo sistema nociceptivo e funciona como um baroreceptor. Vários estudos demonstraram que o local é a membrana timpânica, principalmente porque este mecanismo desaparece pela iontoforese. Schrapnell há 150 anos descrevia duas funções diferentes para a pars tensa e flácida da membrana timpânica. A tensa transmitiria o som e a flácida acomodaria as flutuações de pressão, externas e internas da caixa timpânica. A flácida não tem funções na transmissão do som e ela contem fibras de elastina e a tensa não. A mesma estrutura é encontrada no sinus carotídio, cujas paredes são mais elásticas e distensíveis do que a artéria carótida adjacente. O sistema nociceptivo descrito na pars flácida seriam os corpúsculos de Paccini modificados.

Ramiro Barcelos e o Aedes Aegypti

O Dr. João Vicente Torres Homem (1837-1887) foi professor da faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Grande clínico e mestre notável. Ramiro Barcelos em 1883, cursava o primeiro ano. Gaúcho dos mais altivos, bom de palavra escrita e gesto, acentuava-se, distinguia-se. e publicou
três artigos na Revista Médica, criticando a posição do mestre exímio, em linguagem fanfarrona e provocativa, sobre a posição no ensino e na prática da causa da febre amarela, grassando no Rio. Torres Homem não respondeu. Ramiro na ousadia de primeiro anista, acreditava como causa os miasmas dos pântanos, da sujeira urbana e dos esgotos. Mas Torres Homem desconfiava e debatia em aula sua crença na existência de um vector. Bebia no mesmo copo dos doentes, cheirava de perto o hálito dos pacientes e outras obviedades que certamente o infectariam. Mas nada acontecera. O mosquito Aedes Aegypt,como alastrador e contaminador da febre amarela foi descoberto pelo Dr. Walter Reed em Cuba em 1898, durante a guerra Hispano-Americana para libertar Cuba. Na Santa Casa do Rio de Janeiro, as roupas, colchões, travesseiros e lençois eram queimados após o falecimento dos pacientes com febre amarela, em fogueiras no pátio do hospital.Torres Homem considerava tais atitudes um desperdício, criticava e fazia constar em Ata seu desejo da preservação das roupas e sua reutilização, após lavagem comum. Daí os rompantes do aluno Ramiro Barcelos. No ano de 1885, faleceu um paciente no empenho clínico de Ramiro. Torres Homem deitou-se nos trastes do paciente, sujos de saliva, fezes, vômitos, urina e dormiu a noite toda sobre eles. E não foi infectado pela febre amarela, causa mortis do doente. Daí em diante a Santa Casa aproveitava todas as roupas de cama dos pacientes após lavagem normal, foi uma economia para a instituição. O ato de Torres foi divulgado por todos os jornais do Brasil, Portugal e França. Ramiro descristou, apesar da ironia da estudantada, ele foi escolhido para orador oficial da formatura em 1888. Oswaldo Cruz aproveitou muito das atitudes de Torres Homem vinte anos após. O prof. Eduardo Sarmento Leite da Fonseca cursou a mesma faculdade de 1885-1890 e conviveu com as falas e comentários sobre o gaúcho da febre amarela. O Dr Protásio Alves foi contemporâneo de Ramiro Barcelos de 1884-1889, mas nunca tocou no assunto. Entretanto ao ser fundada a Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre em 1898 e escolhido seu corpo docente, entre os médicos da capital, o Dr Ramiro Barcelos não foi convidado. O Aedes Aegypti na atualidade, convive em nossas moradas, em vasos, repositórios de água, ideal para seu desenvolvimento, nas sacadas, nos quintais mais requintados e mesmo nas casas mais humildes. O amor pelas flores mal conduzido está infectando nossos ambientes como as cervejarias modernas, introduzem subrepticiamente o alcoolismo na mocidade.Ambos de fácil erradicação.

Pequena biografia de Antonio Valsalva

Antonio Maria Valsalva, anatomista italiano, nasceu em Ímola, faleceu com 57 anos em 1723. Foi amigo de Malpighi e nomeado em 1697 professor de Anatomia e cirurgião dos "Incuraveis de Bolonha", deu importantes progressos descobrindo toda a anatomia construtiva do ouvido humano. Escreveu o primeiro livro "De aure humana tratactus" (1704). Diplomado em medicina e filosofia em 10/o6/1687, aos 21 anos, apresentou a tese "Sobre a superioridade da doutrina escperimental" Dissecou mais de mil cadaveres e estudou principalmente o ouvido. Da trompa de Eustaquio, descreveu sua musculatura e sua função, na ligação com o nariz. Em 1714 descreveu a anquilose do estribo, relacionando este fato a surdez que o paciente sofrera. em 22 de abril de 1709 desposou a jovem Elena Lise de 17 anos. Tiveram seis filhos. Em 2 de fevereiro de 1723 faleceu subitamente de um derrame cerebral. Foi sepultado na Igreja de San Giovanni, em Monte, Bologna.