Faculdade de Medicina da UFRGS

Florêncio Ygartua e a pediatria

Em fins de 1928 fazia concurso para docente-livre da Cadeira de Clinica Pediatrica Médica e Higiene Infantil, o Dr. Floremcio Ygartúa, e nomeado para esse cargo, em 28 de novembro de 1925. Nessa ocasião, defendeu sua tese, que se tornou célebre, como trabalho pessoal, sobre Heine Medin. Nasceu em Montevidéu em 11 de setembro de 1892. Brasileiro naturalizado. Iniciou seus estudos no Colégio N.S. da Conceição de São Leopoldo. Terminado o curso preparatorio matriculou-se na Faculdade de Medicina e Pharmacia de Porto Alegre, tendo-se formado farmaceutico em 1911. Depois de vários anos de atividade nesse ramo da profissão, ingressou na Faculdade de Medicina, diplomando-se médico em 1923, cuja tése sobre: "Contribuição ao estudo dos fermentos láticos e sua aplicação nas perturbações digestivas do lactente", foi aprovada com distinção. Assistente, desde então, do Prof. Raul Moreira, fez em 1925 docencia-livre de Clinica Pedriatica Medica e Higiene Infantil, tendo defendido tese sobre a "Doença de Heine-Medin", documentação preciosa colhida, durante uma epidemia de Poliomielite aguda infantil, por ele observada em Montevideo. Onde foi discipulo do célebre Prof. Luis Morquio. Para este cargo tomou posse em 28 de novembro de 1925. Tomou ´parte, como representante oficial, emvários congressos e conferencias, no Brasil, Uruguai e Argentina. Em 1941, no dia 21 de julho, ecoou, dolorosamente a noticias da morte súbita do grande mestre. O luto avassalou a cidade, e foram-lhe prestadas excepcionais homenagens e na Sociedade de Medicina, da qual fora presidente, consagrado em sessão especial, na qual falaram seu presidente Alvaro Barcellos Ferreira e Raul Pilla. - Nicanor Letti- site: nicanor.letti@terra,com,br.

A equipe formada na Pediatria

O trabalho notavel da cadeira de Pediatria e seus professores foi tão util que formou uma pleiade de médicos cujos principais representantes foram os seguintes: os Drs. Antonio Spolidoro, Enio Rotta, Henrique Rigatto, Renato Fiori, Ercio Amaro de Oliveira, Nilo Milano Galvão, Silvio Drebes, Jose Luiz Pitrez, Jose Candido da Rosa, Ernani Miura, Mauro Bohrer, Ariel Azambuja de Freitas, Paulo Roberto Carvalho, Humberto Antonio Rosa, Boaventura Antonio dos Santos, Themis Reverbel da Silveira, Eliana Andrade Trotta, Ari Carlos Fleck, Claudio Paiva, Danilo Blank, José Adroaldo Oppermann, Clovis Weissheimer, , Edila Salvagni, Elsa Justo Giugliani, Elsa Mello, Flavio Uberti, Gilberto Eckert, Jefferson Piva, Jose Fernando Horn, Manuel Rutkay Pereira, Marco Aurelio Costa, Noemia Goldraich, Paulo Mosca, Paulo Zelinsky, Renato Procianoy, Renato Termignoni, Ricardo Mombach, Sonia Lueska e Vulpius Horta. Nicanor Letti site nicanor.letti@terra.com.br

A cátedra de Pediatria

O ensino da Pediatria da Faculdade de Medicina e Pharmacia de Porto Alegre foi organizada pelo eminente professor: Dr. Olympio Olinto de Oliveira, era ministrada no ultimo ano do curso, com programação teórica e prática excelente, de 1904 a 1917. O Dr. Olinto, de repente, queria que a Congregação permitisse sua transferencia para a Clinica Medica, pois seu titular o Dr. Ricardo Masson falecera. A Congregação ficou pasmada perante atitude desagradavel. Ele fundara o Instituto de Artes, era um musico e intelectual reconhecido, escrevia artigos colocando o positivismo numa situação ridicula, e assinava suas criticas com pseudomino, mas todos sabiam quem era. Os estudantes fizeram abaixo-assinados para sua permanencia. Ele não escutou ninguem, mandou-se para o Rio de Janeiro e foi um grande pediatra e inaugurou inumeras benfeitorias para as crianças. E a Congregação firmou-se como entidade de base e autoridade máxima, como devia ser. Perdeu um grande professor mas não perdeu sua dignidade.Colocou-o num "Honoris Causa". Em 3 de abril de 1918 abriram o concurso para professor substituto das Cadeiras de Clinica Pediátrica Médica e Higiene Infantil e Cllinica Cirurgica e Ortopédica. O Dr. Raul Moreira da Silva neste concurso defendeu duas teses, para as duas cadeiras e foram aprovadas com distinção. E colocou o ensino de Pediatria como uma das cadeiras de ensino distinguidas por mais de 40 anos. Em 28 de fevereiro foi nomeado catedrático. Viajou para Estocolmo e assistiu o Segundo Congresso Internacional de Estocolmo e apresentou dois trabalhos que foram elogiados e em 1941 exerceu a Diretoria da Faculdade de Medicina. E aposentou-se. Em 1932 o Dr. Décio Martins Costa, submeteu-se ao exame de Docencia-Livre e foi admitido como assistente, e ao mesmo tempo iniciou seu trabalho maior a construção do Hospsital da Criança, e viajou para a Alemanha onde se aperfeiçou e trouxe as ultimas novidades em pediatria. Tambem se envolveu na politica como deputado e candidato a governador mas não teve sucesso. Em 26 de agosto de 1963, faleceu repentinamente quando assistia uma aula de um mestre alemão, em pleno anditorio da Faculdade de Medicina. Foi substituido pela Dra. Maria Clara Mariano da Rocha, que havia defendido tese de Docencia-Livre em 1943. E o ensino continuou. Em 1951 Estela Budianski defendeu tese de Livre-docente de Pediatria. E teve aprovada pela Congregação um curso independente, que ministrou para 30 alunos por dois anos. Aberto o Concurso para catedrático de Pediatria. Inscreveram-se : Maria Clara Mariano da Rocha e Estela Budianski, mas o concurso foi interrompido por Maria Clara ter sofrido um mal súbito. Mas ela melhorou e continuou o ensino e lá formaram-se uma elite de pediatras que alguns foram para o Hospital de Clinicas. E lá criaram a nova Pediatria, que um dia será contada. pois minha historia termina quando a Faculdade se transfere para o Hospital de Clinicas em 1974. Nicanor Letti -site: nicanor.letti@terra.com.br.

O doutorando Moacyr Scliar

Moacyr Scliar, no jornal dos estudantes da Faculdade de Medicina "O Bisturi", escreveu no número de jan-fev de 1961 o seguinte texto: "FISIOLOGIA DE UM JOVEM". E nos permitiu reproduzí-lo neste Blog. -----Sendo adolescente, acordou naquela manhã completamente exausto após as aventuras no reino dos sonhos, que foram várias. Estava roto: os musculos doiam, os ligamentos estavam flacidos, e o rosto era uma lamentavel massa de cabelos doidos cobrindo olhos avermelhados. No entanto, e mostrando um desprezo irritado pela lavagem de dentes, dirigiu-se à cozinha, onde despejou fornalha abaixo, café, bife, ovo, pão, queijo, manteiga. As células vibraram ao receber a reconfortante carga de calorias, e só então, e realmente despertaram. Com o que ele lavou-se e cobriu o conjunto com a camisa vermelha, calças azuis e sapatos italianos, sentindo-se apto a participar da luta pela vida. Abriu a porta do hangar e deslizou para fora. Sob o sol das dez horas, a larga avenida escorria tranquila seu asfalto cinzento. Uma brisa enfunou sua camisa e ele, caravela, partiu glorioso e lento. Seu destino era o pouco importante: era preciso assobiar e ele o fez com ritmo, cuidado e entusiasmo, cônscio que os olhos da humanidade estavam sobre ele. Em breve verificou que, sendo a vida curta e a tarefa urgente, jamais chagaria sem um bonde. Tomou-o, pois, num instante em que os dois motores trabalhavam em ritmo lento. Ali haviam vários anuncios que foram logo captados por sua central cerebral, e rejeitados porque lembravam a infancia. Com mais interesse percorreu os bancos e não tardou a encontrar a morena dos seus sonhos, à qual as supra-renais reagiram como de costume, lançando na circulação os hormônios necessários. Começou pois a trabalhar silenciosamente, e só um crispar dos punhos agarrados no suporte mostrava a atividade intensa. A morena ollhou-o, e de golpe desviou sua cabeça de cento e oitenta graus sobre o eixo do pescoço. Voltou mais lentamente, para receber nova descarga que dificilmente suportou, até que foi obrigado a aceitar o fato novo, inaudito e terrivel de que morena o contemplava. Diante disto, houve um alarma geral em seu organismo, e torrentes de adrenalina fluiram no corpo. O coração foi motor de alta potencia, mas os intestinos experimentaram uma cólica covarde. O sangue abandonou a metade superior, deixando um rosto pálido e foi para as pernas baterem como bielas, obrigando uma das mãos a mergulhar no bolso. A morena olhava-o. Ele suplicou a todos os deuses que ela não fizesse tal coisa, mas ela fazia e lá estava ele desamparado, perante toda a masculinidade irritada esperando que ele cumprisse com seu dever. Então a cabeça baixou, antes tombou e ela correspondeu com um aceno calmo e distraido, que foi um novo soco nos peitos. Estava apenas em recuperação, quando ela desceu do bonde, e ele, num gesto de sublime loucura, consolando-se que estava perto. Ela avançava com garbo, e ele rastejava atras. Até que ela se deteve à porta de uma casa, e ficou procurando a chave na bolsa. Em dez passos ele a alcançou, engasgou um olá e ficou desarvorado. Olá, disse ela gentilmente, e aguardou. Dele nada mais saiu, pois agonizava branco e tremulo. A morena, então, pos-se a falar com a vizinha do outro lado, deixando-o no fogo cruzado das rajadas de amabilidades. Uma raiva cruel chicoteou-o, e ele juntando seus ultimos frangalhos, reagiu. Respirou fundo ergueu a cabeça e perguntou com a derradeira dignidade: Onde é que se vende cadeados? Recebeu uma resposta qualquer, e conseguiu partir, de cabeça erguida, em busca das mulheres que o esperavam lá pelos seus vinte anos. Nicanor Letti ´site: nicanor.letti@terra.com.br

O Dr. Raul Di Primio

Raul Di Primio nasceu em Porto Alegre e nos primeiros anos de sua juventude, foi para Santa Maria com seus pais. Onde cursou o ginásio. Durante o curso secundário interrompeu os estudos e viajou para a Italia. Regressou ao Brasil e completou seus estudos secundários no Rio de Janeiro ingressando, apos vestibular, na Faculdade Nacional de Medicina. Quando cursava o quarto ano, procurou o Instituto Oswaldo Cruz onde foi inteirado dos propósitos de quem podia cursar eram somente médicos formados. Mas teve a paciencia de falar com o proprio Oswaldo Cruz, e não tardou a reposta permitindo cursar o Instituto, já afamado pelos seus trabalhos. Seus mestres Oswaldo Cruz, Adolpho Lutz, Beaurapier Aragão, Arthur Neiva deixaram traços marcados em sua personalidade. E ainda em Manguinhos defendeu tese de doutoramento, e trabalhou na Policlinica Geral do Rio de Janeiro com Werneck Machado renomado dermatologista. Quanto mais passa o tempo maior gratidão ele tem aos seus mestres. Terminado o curso médico nunca exerceu a profissão clinica, foi professor e pesquizador. Sua profissão nasceu em Manghinhos. Na sua biblioteca, num pórtico, estava o lema de Oswaldo Cruz: "Não esmorecer para não desmerecer" Quanto ao estudante tinha a seguinte posição: A medida que o concurso de admissão se torna mais árduo o aluno é melhor preparado e a parasitologia muitas vezes não é levada a sério, por considera-la uma cadeira básica. A cadeira teve tres assistentes dando aulas a pequenos grupos, preparadas com insetos, e uma grande série de parasitas. Os assistentes foram o Dr. Darcy Farias de Lima, o Dr. Oscar Froes e Arno Wagner. E arrematou sua declaração "Cada vez que falo em parasitologia sinto um imenso prazer e mais, ainda ao recordar meus professores e alunos, dos quais são minhas preocupações" Raul Fi Primio foi paraninfo da Turma de doutorandos de 1939. (Declaração do Prof. Di Primio ao estudante Salvador Celia, e publicada no jornal "O Bisturi" de janeiro de 1961. Ele dirigiu o Leprosário da Colonia de Itapuã-Viamão, a Entidade Beneficente Amparo Santa Cruz e fooi membro da Sociedade de Biologia do Rio de Janeiro - Nicanor Letti, site: nicanor.letti@terra.com.br

Mario Totta, jornalista e o Clube Jocotó

Mario Totta, Paulino de Azurenha juntos com Caldas Jr, fundaram o jornal "O Correio do Povo" e escrevia regularmente. No "Dicionário Bibliográfico Gaúcho" de Pedro Leite Villas-Boas, pag.250. Editora Edigal, estão as observações. Mantinha no jornal uma coluna, regularmente editada chamada "Pilulas em Medicina" e "Breviario da Saude". Escreveu um livro de "Poesias" e outro sobre sua vivencia médica, muito importante para nosso meio, pois são históricas como "O discurso no sepultamento de Sarmento Leite, em 24 de abril de 1935. Discurso para "As primeiras parteiras formadas pela Faculdade de Medicina". Quando em julho de 1914 foi morto o estudante de medicina Josino Chaves, durante uma manfestação contra o positivismo do Governo Estadual de Borges de Medeiros, falou no sepultamento para serenar os ânimos dos seus colegas. E conseguiu. Falou admiravelmente quando do enterro dos ossos de Barros Cassal em 20 de março de 1916. Todos estão no seu livro "Obras" segundo volume, Ed, Selbach, Porto Alegre. Em 1918 um grupo de jovens alegres, seguiam para o arrabalde da "Tristeza" no trenzinho que ia do centro até aquele arrabalde, na época era um lugar de veraneio e descanso, da sociedade de Porto Alegre. E fundaram o "Clube veranista Jocotó", onde se dansava e assistiam conferencias. Alcides Maya falou sobre "O belo e o feio". Eduardo Guimarães "Os nossos poetas". O Simbolismo no Rio Grande do Sul, brilhou no Jocotó: Eduardo Guimarães, Alvaro Moreira, Felipe de Oliveira, Homero Prates, Carlos de Azevedo, Antonio Barreto, e o famoso trio da Praça da Harmonia : Alceu Wamosi, De Souza Jr e Dionélio Machado. Zeferino Brasil falou sobre "A arte de ser feliz", Rubens Barcellos "A Dança" e Mario Totta foi eleito em 1932, o presidente pespetuo do Jocotó. Nicanor Letti. nicanor.letti@terra.com.br.

Mario Totta e sua equipe de trabalho

A equipe da Obstetricia da Faculdade de Medicina foi muito numerosa, onde predominavam médicos com Docencia-Livre, sendo o primeiro Elyseu Paglioli em 1925, mas não exerceu a especialidade. Em 1931, Oddone Eugenio F. Marsiaj, foi um dos primeiros assistentes de Mario Totta. Em 1932, Ennio Marsiaj, após a Docencia, entrou no grupo dos assistentes da cadeira. . Em 1935, prestou o exame de Docência-Livre o Dr. Othon Soares de Freitas e em 1947 assumiu a cadeira com o falecimento de Mario Totta. Othon Freitas permaneceu na catedra até 1957, quando se aposentou. Em 1944, Coradino Lupi Duarte tornou-se assistente apos defender tese de docencia. Em 1952, Ervino Jacob Diefenthaler, foi docente e professor da cadeira. Em 1955, Pedro Luiz Belchior da Costa fez docencia e já era auxiliar foi integrado como professor. Após a aposentadoria de Othon Freitas, a congregação deveria escolher um professor substituto, apresentaram-se os Drs. Ervino Diefenthaler, Nilo Luz e Pedro Luiz Costa. Nilo Luz alem de ter o titulo de docente de Ginecologia, fizera Docencia-Livre de Obstetricia no Rio de Janeiro. O assunto da substituição foi muito discutido na congregação. Finalmente os Doutores Eduardo Faraco e Rubens Maciel, fizeram a proposta de votação individual para escolha do futuro professor substituto. Foi aprovado o nome de Nilo Luz por 12 x o. Por alguns anos o Dr. Nilo assumiu e foi até paraninfo de duas turmas de 1970 e 1972. E iniciou o trabalho de organização da Obstetricia no Hospital de Clinicas. Mas não conseguiu os bons grados da direção do Clinicas. Ele então aposentou-se e foi fundar e organizar a cadeira de Obstetricia no Hospital da PUC. Ainda trabalhou na cadeira do Dr. Paulo Padilha Duarte, por muitos anos. Ficou catedrático de Obstetricia da Santa Casa o Prof. Pedro Luiz Costa. Nicanor Letti site: nicanor.letti@terra.com.br