Faculdade de Medicina da UFRGS

O Dr. João Adolpho Josetti

Foi médico ilustre perfila-se ao lado dos grandes cirurgiões inovadores, corajosos e sábios do Rio Grande do Sul e do Brasil. Nasceu em Cuiabá em 11.12.1860. Sei pai, de origem italiana era médico do Corpo de Saúde do Exército. Após os preparatórios feitos naquele Estado, matriculou-se na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro em 1879. Formou-se em 1885, após brilhante defesa de Tése. No ano seguinte de 1886, foi designado para a Junta Militar do Rio Grande do Sul, criada no mesmo ano pelo Império. Em 1889, trabalhava na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, como cirurgião da Quinta Enfermaria e logo notabilizou-se principalmente na cirurgia abdominal, dominando muito bem a assepsia cirúrgica cujas regras foi o primeiro que as aplicou devidamente no nosso meio , problema fundamental para a época, tambem se destacou como notavel obstetra, tendo realizado inúmeros partos. Mas o que o consagrou na Obstetricia foi a técnica das cesareanas, pois realizava-as sem necessidade de retirada do útero. Miguel Couto ao recebe-lo na Academia Brasileira de Medicina declarou que Josetti foi o primeiro médico a fazer a cesárea com resultado íntrego mãe-feto na América do Sul. Mas a grande peocupação de Josetti era a tuberculose. Viajou para a Alemanha em 1891 e estagiou no Serviço do Dr. Robert Koch, o descobridor da bacilo da Tuberculose. Estudou Histologia, Clínica e acompanhou a execução de autópsias. Assistiu no Instituto de Higiene Frederico Guilherme, um curso para os jovens médicos militares alemães, sobre Tísica, ministrado por Koch. Somente com a interferência da Embaixada do Brasil, Josetti conseguiu vaga no curso, vedado a outros médicos, principalmente franceses, ingleses, poloneses e russos. Em Breslau fez um aperfeiçoamento de assepsia cirúrgica, onde a industria alemã estava lançando os cilindros duplos para assepsia de instrumentos e roupas. Viajou em seguida para várias cidades alemãs e suiças onde assistiu a moderna cirurgia da Europa. Trouxe para o Brasil inúmeros instrumentos cirúrgicos. No retorno da Europa comprou uma enorme chácara na Floresta em Porto Alegre, onde iniciou a construção em madeira e transformou-a em "Casa de Saúde Bela Vista", daí até hoje o nome do Bairro. No ano de 1906, foi adquirida pelo Exército onde foi instalado o Hospital Militar, quando inauguraram o Primeiro Pavilhão esteve presente em 1942 o Presidente da República Getúlio Vargas. O grande sucesso de Josetti não foram somente as 92 cesareanas feitas, mas foi o primeiro cirurgião da América Latina a realizar a gasserectomia (retirada do ganglio de Gasser, na base do crânio), devida a enxaqueca. Para tanto treinou em cadáveres a técnica de Klauser que assistira em Altona, na Alemanha. Na época foi a quarta a ser realizada no mundo, segundo Miguel Couto. Foi condecorado pelo Congresso Nacional junto com o Dr. Chapot-Prévost, da Faculdade de Rio de Janeiro que realizara a primeira cirurgia de xipófagos no Brasil. Foi um excelente professor, fez parte do primeiro grupo de médicos a ensinarem na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, mas logo resolveu ficar em sua clínica da Casa de Saúde. Nicanor Letti site: nicanor.letti@terra.com

O Bom Médico - de Moacyr Scliar

O bom médico é aquele que refaz, mesmo sem o saber, a trajetória da medicina através dos tempos. Como Hipócrates (460-377 a.C.), sabe que a vida é curta, mas a arte é longa; sabe que a ocasião é fugidia, a experiência, enganadora, o julgamento, difícil. Em suma: sabe que a doença representa um estraordinário desafio tanto em termos de conhecimento, quanto de equilíbrio emocional. Mas também sabe, como Hipócrates, que é preciso enfrentar o desafio com os meios que estão ao seu alcance. E a isso não se recusa. O bom médico sabe, como o francês Ambroise Paré (1510-1590), que curar é mais do que intervir, curar, como diz a origem latina da palavra, significa cuidar. Notável cirurgião, Paré revolucionou o tratamento dos feridos de guerra. Até então, os médicos limitavam-se a amputar pernas e braços, cauterizando os cotos com óleo fervente - o que resultava numa mortalidade elevadíssima. Que Paré diminuiu drasticamente simplesmente pelo uso de compressas úmidas nos ferimentos, o que reduzia a possibilidade de infecção. O bom médico sabe, como o inglês Thomas Sydenham (1624-1689), que a enfermidade tem certa lógica; segue aquilo que se pode chamar de uma história natural, que aos poucos, e seguindo um trajeto mais ou menos previsível, transporta a pessoa para uma outra realidade, a realidade da doença. Mas é exatamente esta trajetória que permite o estabelecimento de uma estratégia: prevenir a doença no sadio, diagnosticá-la precocemente no já enfermo, promover o seu tratamento se manifesta. O bom médico sabe, como o alemão Rudolf Virchow (1821-1902), que a doença deve ser procurada não apenas no que é visível, mas também ali onde os olhos não enxergam. Ele sabe que é preciso recorrer ao microscópio (e à radiologia, e à endoscopia, e a tantos outros métodos) que ampliam e complementam a capacidade de exploração do médico. Ampliam e complementam, mas não a subtituem. Político militante, Virchow também não deixou de denunciar as más condições sociais como causa da doença. O bom médico sabe ir do micro ao macro quando necessário. O bom médico sabe, como o judeu austríaco Sigmund Freud (1856-1939), que é preciso ter coragem de defender as próprias convicções (como aquelas sobre a existência do inconsciente), mesmo quando elas se chocam com os preconceitos e as ideias pre- estabelecidas. O bom médico sabe, como o brasileiro Oswaldo Cruz (1872-1917), que é preciso enfrentar a doença na população, mesmo trabalhando na complicada fronteira entre medicina e política. Neste Dia do Médico, temos de lembrar que o bom médico talvez não seja tão famoso como Hipócrates ou Paré, quanto Sydenham ou Virchow, quanto Freud ou Oswaldo Cruz, mas que, para seu paciente, para a comunidade da qual cuida, ele é a própria medicina, ciência e arte. - Nicanor Letti - site: nicanor.letti@terra.com.