Faculdade de Medicina da UFRGS

O Professor Victor de Britto

Quando um vulto de grandes méritos se eleva ao fastigio do saber, curva-se em respeitosa homenagem a historia para lhe traçar um esboço biografico. É ele Victor de Britto, famoso oftalmologista, esplendoroso espirito, cheio de erudição não somente médica mas também literária e politico-social. O que segue bem dira da sua estatura intelectual e moral. Nasceu em Valença, pequena cidade da Bahia, a 15 de outubro de 1856. Seu pai, Victor Marcolino da Silva Britto, era farmaceutico da Armada, e sua mãe chamava-se Maria Angélica da Silva Britto. Teve dois irmãos e duas irmãs. Destas, a mais moça, de nome Ursula, casou-se com Joaquim da Costa Lage, que foi, durante quarenta anos, funcionário da Cia Sul América. A outra Maria, casou-se com o médico Dr. Domingos de Azevedo, por longos anos em Campinas, estado de São Paulo. Os irmãos faleceram na infancia, deixando-lhe grande saudade, pois os estimava imensamente. Muito afetuoso e precocemente austero, tomou na mocidade, a si, os encargos da familia, visto que seu pai viajava com frequencia, permanecendo pouco tempo na Bahia. No estudo de humanidades, particularmente do Latim, e do Portugues, materias a que dedicava maior atenção, e no estudo da Medicina, na Faculdade da Bahia, onde se doutorou em 1878, adquiriu foros de eximio estudante, conseguindo facilmente, um dos primeirtos lugares, entre os mais distintos condiscipulos. Naquela Faculdade, conquistou amizade dos mestres, especialmente do Dr. Domingos Carlos da Silva, professor de Patoloiga Externa, e do Dr. Almeida Couto, lente substituto da Secção Medica. Defendeu a tese sobre "Pustula Maligna", assunto inspirado em caso dessa molestia que acometera o seu, então, futuro sogro. Logo apos a formatura, casou-se com Maria Eufrosina da Cunha, irmã do Almirante Antonio Alves Camara, que residia no Rio de Janeiro e aí faleceu. Começoou Victor de Britto o exercicio da profissão em seu estado natal, onde clinicou por espaço de dois anos. Mudou-se então, para o Rio Grande do Sul, fixando residencia em Pelotas, aí exercendo a clinica geral até o começo de 1884, época que embarcou para a Europa, para estudar oftalmologia em Paris. Nesse centro da especialidade com os célebres professores Wecker e Panas, cuja simpatia grangeou rapidamente pela dedicação ao curso e pelas manifestações de grande inteligencia. Alem da amizade desses dois mestres, adquiriu intimas relações com os Drs. Lapersonne e Terrien, posteriormente lentes da Faculdade de Paris, na catedra de Oftalmologia. Em tão elevada conta tinha o Prof. Wecker a Victor de Britto, que o convidou a ficar em Paris, como seu assistente, lamentando, profundamente, ao sabe-lo casado. Alem desse impedimento, outro obstava a que aceitasse o convite: o grande desejo de trabalhar para os seus conterraneos. Voltando ao Rio Grande permaneceu alguns meses em Pelotas, seguindo depois para Porto Alegre, onde fixou residencia definitiva, aqui encontrando campo vasto para o exercicio da especialidade, ate então atendida por um clinico geral o Dr. Joaquim Pedro Soares. Logo apos sua radicação em Porto Alegre, criou um serviço de molestias dos olhos e mais tarde na Santa Casa de Misericordia, onde trabalhou com dedicação ate antes de morrer, dirigindo, assim, por cerca de quarenta anos, o ambulatório e a enfermaria de doença dos olhos. Foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, ocupando a catedra de Oftalmologia que tanto ilustrou. Era membro da Academia Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, na qual teve ingresso com excelente memoria sobre o Tracoma. Foi, tambem membro Societé Française d"Oftalmologie e de outras corporações cientificas estrangeiras. Por tres vezes, interrompeu sua estada em Porto Alegre. Primeiramente de 1893 a 1895, durante a Revolução de 1893, quando de injusta perseguição politica de que foi vitima, não se consumando a tragedia do seu fuzilamento, graças à intervenção de nosso parente o oficial da marinha Alves Camara, comandante da flotilha do Rio Grande do Sul, o qual exigiu sua libertação, sob pena de bombardeio de Porto Alegre. Livre, então, seguiu até o Rio de Janeiro, onde permaneceu ate a pacificação. Em 1904, ausentou-se do Rio Grande, em nova viagem a Europa, a fim de estudar Otorrinolaringologia em Viena e doenças nervosas em Paris. Nesta cidade frequentou o serviço do professor Raymond e, na capital da Austria os serviços dos Professores Politzer, Landsteiner, Wintersteiner, Obersteiner, Wiesel e Gohn. Enfim, afastou-se., pela terceira vez. quando deputado federal pelo Rio Grande do Sul na oitava legislatura. Desde a juventude, manifestou tendencias para as lutas politicas, Em Pelotas, ao tempo da monarquia, conseguiu triunfar na chapa de vereadores. Foi propagandista da Republica, ao lado de Julio de Castilhos, Homero Batista, Ernesto Alves, Demetrio Ribeiro, Antão de Faria e outros. Fez parte do corpo de redatores da "A Federação" de Porto Alegre, dirigida , então, por Gonçalves de Almeida. Como deputado federal, foi uma das figuras de maior relevo, pronunciando muitos e brilhantes discursos sobre questões economicas e financeiras, publicando, alem disso, importante trabalho sobre o sufragio universal. Deu, ainda, atenção a reforma do ensino, a proposito, erudita conferencia na Biblioteca Nacional. Entretanto, dedicou o melhor de sua atividade ao hospital de caridade, onde permanecia diariamente das 8 as 12 horas. Foi tres anos provedor da Santa Casa de Misericordia. Cargo que prestou assinaldos serviços, introduzindo reformas dignas de nota. Foi a grande primeira reforma da area medica, no trienio 1919 a 1921 criou apos de um grande estudo a situação ds enfermarias, numerando-as e nomeando chefias e colocou em mais de vinte enfermarias sob a tutela medica da Faculdade de Medicina, criando o Primeiro "Regulamento do Serviço Sanitario da Santa Casa" nele disciplinou as funções e obrigações do Diretor Geral do Serviço Sanitario, dos medicos internos, e das diretorias das Enfermarias, regulamentou a admissão dos enfermos, e seu comportamento no Hospital. Foi o grande regimento que ate hoje funciona com aqueles principios. Na catedra, em que seu zelo apostolico pela ciencia foi tão manifesto pronunciou brilhantes e profundas lições , recordaddas sempre pelos seus alunos. Era orador fluente e magnifico expositor, revelando, em todos os postos ocupados, dons invulgares de pensamento e cultura geral. O interesse que tinha pela formação dos discipulos Assim que muitas vezes realizou na propria residencia. Espirito Altivo, não perdoava os atentados a dignidade de sua profissão, que sempre defendeu galhardamente Foi polemista de vigor, quer no terreno medico, quer no politico, Na Ata 96 (24.07.1911) relata que Victos de Britto relatou os novos estatutos da Faculdade de Medicina que foram aprovados e na Ata 98 foi mandado imprimir. No ano que deixou de existir, havia sido escolhido para paraninfar a turma dos doutorandos de Medicina, e terminara o texto do discurso que faria na solenidade. Faleceu em 24 de outubro de 1924. Deixou um acervo enorme de trabalhos cientificos, médicos, politicos e monografias a principal e famosa foi seu livro sobre"Gaspar Martins e Julio de Castilhos" que teve critica brilhante do literato Osorio Duque Estrada. NicanorLetti. site: nicanor.letti@terra.com.br






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