Faculdade de Medicina da UFRGS

Olhai os lírios do campo

"Olhai os lírios campo" é a mais bela e tramada obra de Erico Verissimo, foi reeditada inúmeras vezes. Trata da vida médica de Eugenio e Olivia, formados na turma de 1930 da Faculdade de Medicina de Porto Alegre. A turma de 1930, não teve solenidade de formatura.Os formandos eram só homens: Accacio Ramos Arruda, Alfredo Silveira Neto Filho, Amaro Augusto Oliveira Baptista, Amaro Bonfiglio, Attos Figueiredo Silveira, Carlos Augusto Machado Carrion, Décio Soares de Souza, José Athanazio, Jose Baptista Barros Hofmester, Mario Azevedo Silveira, Mario Cini, Manoel Rodrigues Santanna, Pedro Azevedo Pereira, Pedro Rosa, Percy Wolffenbuttel, Salvador Pinheiro Machado, Tauphick Saadi, Victor Rebelto Miranda, Waldemar Collaço Végas. Não teve paraninfo nem homenageados, provavelmente devido a Revolução de Trinta que teve seu desfecho em outubro do mesmo ano. Os personagens do romance são fictícios. Mas os fatos e a tese de doutoramento da Dra. Elizabeth Rachadel Torresini sobre o romance de Érico Verissimo com o nome de "História de um sucesso literário" é notavel. Aborda todos os parametros da casa onde se formaram e suas vidas de médicos, e a época dos fatos de onde o autor baseou a seu romance, com uma precisão historica. Principalmente a da Faculdade de Medicina com seus problemas, ensino, e organização educacional e os diversos decretos e relações com o poder público. Torresini mostra que a Lei Rivadávia de 1911, permitiu a alteração dos curriculos e criar a bacteriologia, um pecado mortal para os positivistas, negavam a existencia das bactérias. O exemplo foi a polêmica famosa do Professor Victor de Britto com o engenheiro positivista Farias Santos. E a Lei Maximiliano de 1915, permitiu separar as cadeiras de oftalmologia e otorrinolaringologia, antes eram reunidas. Aborda o livro de Torresini outros problemas enfrentados, sua politica com Flores da Cunha. A Faculdade agradece este livró-tese assim como o blog. Vale a pena ler a tese de Torresini. Nicanor Letti. site nicanor.letti@

É à-toa definir ato médico

Impensavel tentar definir algo inerente a uma formação médica de 6 a 9 anos de estudos teóricos e práticos. A incorporação de tecnologias super sofisticadas em todas áreas da medicina complicou definitivamente uma ação médica. Moysés Maimônides (1135-1204), morto há oitocentos anos, previu a confusão da atividade médica e escreveu a magnífica obra: "O Guia dos Perplexos", procurava uma conciliação entre fé e razão, para entender a medicina científica. E assim aconteceu. Na atualidade todas as ciencias auxiliam a medicina. E as ações médicas são uma mistura de raciocinios englobando as funções cerebrais gnósticas, mnésticas, fásicas e praxicas. O uso pelo profissional destas funções faz-se pela associação de idéias psicológicas irredutiveis entre si: da semelhança, da contiguidade e do contraste. Definir, portanto, ato médico é uma perplexidade, uma temeridade e uma ação anti-filosófica. Willian Osler no "Aequanimitas" afirma: "Vem o conhecimento mas tarda a sabedoria". Em assuntos médicos o cidadão comum, não possui conhecimentos adequados para entender a mais como no tempo dos romanos. Daí proliferaram charlatães na Roma antiga e na atualidade. Os portadores de cursos rápidos de 2 ou 3 anos, sem especialidade alguma, consideram-se aptos ao ato médico indefinivel. Osler completa. Não vos deixeis irritar por isso. O vento trouxe, o vento levou. A tentativa de serem médicos é vela murcha sem vento e sem fala. Como cantava Lupiscinio Rodrigues: é melhor brigar juntos do que chorar separados. Nicanor Letti site: nicanor.letti@terra.com.br

A luta contra o positivismo

A Faculdade de Medicina e Farmacia de Porto Alegre, terceira casa médica do Brasil completará em julho 112 anos. Travou uma luta intensa durante 40 anos com os crentes do positivismo. Ela
emasculou, sem anestesia a doutrina de Augusto Comte. A Clotilde de Vaux foi dissecada, nas mesas anatomicas francesas do Necrotério Sarmento Leite. Mesas de dissecção da mesma pátria das moças do Clube dos Caçadores. O seu funcionamento foi autorizado pelo Presidente e fundador do poderoso Partido Republicano Rio-Grandense. Julio de Castilhos em famosa carta, recordando e advertindo os fundadores, "deveria ser um marco do ensino livre do Estado" assim atuava no ensino o positivismo. O presidente, ainda em estado de graça, pois, seus aliados venceram a Revolução Federalista e consolidaram Floriano Peixoto no Governo da República. Alem de vencer as últimas tropas federais do Almirante Saldanha da Gama onde foi morto pelos cavalarianos gauchos. Mas a Faculdade soube lutar durante quarenta anos contra os principios positivistas e com ganhos e derrotas, nunca deixou de cumprir suas finalidades de formar médicos. Conseguiram os professores, desde seu inicio, a proteção do famoso e perpétuo senador gaucho Pinheiro Machado o ás de ouro do Partido Republicano e do ás de copas o deputado federal gaucho Dr. Rivadávia Correa. O primeiro entrevero foi em 1901, o governo federal decretou o reconhecimento da Faculdade, dando-lhe os mesmos direitos das escolas médicas de Bahia e do Rio de Janeiro, segundo a decisão do decreto da Regencia Trina, elaborado pelo famoso Dr, Jobim. Foi uma festa magnifica e os estudantes nas comemorações dividiram-se terminou com a briga publica como esta escrito em outro capitulo deste blog. Esta agitação e a outra de 1906 consolidou a Faculdade como um ente federal, somando-se a morte de Castilhos, os professores apoiaram outra candidatura devido a dissidencia do Dr. Fernando Abbot, médico de São Gabriel. Borges cedeu, e o governador eleito foi o Dr. Carlos Barboza Gonçalves, republicano de Jaguarão. Governou o Estado de 1908-1912, sem o caudilhismo e doou o terreno no Campo da Redenção onde a Faculdade, já consolidada construiu e seu mais famoso prédio de 1912-1924. Mesmo construido o atual Hospital de Clinicas, permanecem no velho prédio junto a Redenção, alguns setores da Medicina. Mas Borges, não descansou em perseguir a Faculdade, e junto com alguns médicos homeopatas e outros que sairam da Faculdade criou a Faculdade Medico-Cirúrgica, com quatro anos de duraçáo, deu-lhe um prédio no Alto da Bronze, junto a praça, onde funcionou uma auditoria militar. Foi fechada pela lei que regulamentou o ensino e a profissão médica de 1932, escrita no RGS e assinada por Vargas. A médico-cirurgica foi minuciosamente analizada pelo Dr. Adroaldo Mesquita da Costa num processo judicial onde dois acadêmicos Oscar Daud Filho e Antonio Bottini injuriaram publicamente a médico-cirurgica por ter enviado ao Senado da Republica um pedido de oficialização da referida faculdade sendo seu advogado o Dr.Pedro Vergara. Os academicos foram absolvidos e o programa e a faculdade médico-cirurgica foi ridicularizada definitivamente. Depuseram no processo os Dr. Sarmento Leite, Thomas Mariante, Heitor Annes Dias, Basil Sefton e Luiz Guerra Blessmann. Historicamente este fato é interessante pois foi o mesmo Adroaldo Mesquita que deu o parecer 40 anos apos, que permitiu o Hospital de Clinicas ser uma Empreza Publica de Direito Privado. Sendo hoje a única autarquia do Ministerio de Educação do Brasil. Nicanor Letti- site nicanor.letti@terra.com.br.

Prof.Manoel Loforte Gonçalves

Manoel Loforte Gonçalves, nasceu em Lisboa (27-01-1908), emigrou para o Brasil com seus familiares.Em (07.o1.1931) foi naturalizado. Cursou a Faculdade de Medicina de Porto Alegre e concluiu o curso na Turma de 1931. Famosa turma que apoiou a revolução de 1930, levando ao Catete o gaucho presidente do Estado, a Presidente da Republica: Getulio Vargas. Os colegas de Loforte: Aureliano de Figueredo Pinto e Antero da Silva Marques, sustentaram o único combate com as forças contrárias na divisa do Parana/São Paulo, onde estavam estacionadas. Loforte teve do primeiro casamento uma filha. Após o falecimento da sua esposa casou com a Sra. Izar Marques Lisboa, bisneta do Almirante Tamandaré, heroi da Guerra do Paraguai e esta enterrado em Rio Grande. Em 1935 inscreveu-se para Docência-Livre da cadeira de Terapeutica Clinica. A banca examinadora foi formada pelos professores: Paula Esteves, Argemiro Galvão, Lafaiete Pereira (do Rio), Nino Marsiaj e Waldemar Job. Apos o falecimento do Professor Argemiro Galvão professor de Farmacologia. A congregação mandou abrir concurso para a disciplina. O único a se apresentar foi Loforte. A banca foi formada por: Aurelio de Lima Py, Paula Esteves, Paulo de Carvalho (Rio), Edgar Pires da Veiga (Bahia) e Arthur Coutinho (Pernambuco) Loforte foi aprovado terminando o concurso em 19 de dezembro de 1940. Foi homenageado com grande banquete no Clube do Comercio em 16-09-1941.Escolheu como seus assistentes os Drs. Osmar Pilla e Pedro Sirangelo e Jaime Schilling. Destacou-se , com as inúmeras aulas praticas e poucas teóricas. Mas a grande luta, de uma vida, foi a construção do Biotério da Faculdade de Medicina e usar animais para suas experiencias e aulas da ação de medicamentos. Teve sempre grandes cuidados para não provocar dores e sofrimentos nos animais utilizados.Dai sua luta para a construção de um Biotério, que é um verdadeiro hospital com todos os recursos inclusive com alimentação adequada. Foi na Reitoria do Prof. Elyseu Paglioli e como diretor da Faculdade de Medicina o Prof, Guerra Blessmann que o biotério foi construido. Desde então inumeras facilidades foram proporcionadas aos professoress e alunos, sempre foi dirigido por Loforte. Sofreu as criticas da Soc. Protetora dos Animais, embora benefica, mas nunca aceitou as explicações de Loforte, fizeram coisas corretas mas outras ridiculas. Mas benefiaram a sociedade, foi no biotério que os futuros cirurgiões cardiacos treinaram em cães anestesiados as técnicas operatorias e salvaram até hoje inúmeras pessoas. Só por esta atividade a construção do Biotério justifica sua construção e funcionamento. Tudo foi no mérito de Loforte. Ademais Loforte trabalhou no Pronto Socorro e estudou todos os venenos que eram ingeridos para suicidios ou em acidentes de manipulação. E Organizou as maneiros e farmacologia de seu tratamento, e com esta atividade foram salvos quantidade de pessoas, e ainda são utilizados como Loforte os esquematizou. Loforte foi tambem um grande clinico do aparelho digestivo.E manteve pequeno hospital, na rua Independencia, onde tratava pacientes com úlceras gástricas, com instilação no estomago, atraves de uma sonda gastrica um coquetel de substancias inibindo a ação da formação de ulceras. De sua experiencia nesta área. Sabemos que o liquido que instilava no estomago continha bismuto. Com seus resultados escreveu um trabalho o primeiro de todos os tempos da medicina onde afirmava que as úlceras gástricas eram produzidas por uma bactéria. Foi confirmada esta hipotese ´por dois medicos australianos, que tambem sofreram por anos a hipótese de ser um erro, pois bactérias não se desenvolviam em pH 3 ou 4. Mas eles sem conhecer a hipotese de Loforte trinta anos antes descobrira, confirmaram a existencia de bacterias na ulceração da mucosa gastrica. Milhares de cirurgias foram realizadas sem necessidade, pois seu tratamento era clinico com bismuto e substancias contendo antibioticos. Os dois médicos australianos provaram a hipotese de Loforte e receberam o Premio Nobel de 2004. Loforte foi paraninfo da turma médica de 1952 e discursou habilmente sobre medicina e suas vivencias. O Pro. Manuel Loforte Gonçalves faleceu aos 79 anos em 13 de novembro de 1987. Foram sucessores de Loforte Gonçalves os prof. Semiramis L. Tannhauser, Mario Tannhauser e Lenira Wannmacher e outros. Nicanor Letti. site: nicanor.letti@terra.com.br

Oxford no Correio do Povo

Oxford depois da Sorbonne é a mais antiga Universidade da Europa. Sua fama não depende apenas de sua antiguidade, mas por ser una das fontes de cultura e ciencia criadas pelo homem. A cidade é mais velha que a Universidade, conhecida desde o ano 920, era um posto avançado, com disputas entre Wessex e Mercia. Em 1167 os professores ingleses da Sorbonne em Paris foram expurgados e instalaram-se em Oxford quando regressaram. Formou-se um núcleo de intelectuais, criando fama e fizeram concorrencia as Universidades de Paris e Bolonha. Nesta época os frades franciscanos, dominicanos e beneditinos, contribuiram com uma grande parcela de conhecimentos. A base dos primeiros estudos era o trivium (gramatica, retorica e dialetica) e o quatrivium (musica, aritmetica, geometria e astronomia). Acrescentavam as tres filosofias: a natural (ciencia), a moral e a metafisica. O latim era a lingua usada, dai o seu aprendizado. Depois de quatro anos de estudos, o aluno submetia-se a um debate oral com professores ou de qualquer pessoas interessada em participar. Terminada esta fase o aluno cursava mais tres anos, e não prestava exames, mas apenas com o depoimento dos professores era admitido para os estudos superiores de Medicina, Direito ou Teologia. Os cursos de Medicina e Direito são de quatro anos, e o Teologia é de sete anos, mais dois para o doutorado. Anos depois foram criados os colegios que se espalharam pela Inglaterra. Estes dados foram colhidos no Correio do Povo, escritos pela famosa "Charmaine" pseudonimo da notavel Ruth Alcaraz Caldas. Nicanor Letti -site: nicanor.letti@terra.com.br

A Harvard University e o Ir. José Otão

Algumas universidades americanas deixam no visitante uma impressão profunda e indelevel pela grandeza pela grandiosidade da instituição, pela variedade das areas de ensino, bem como pela profundidade com que os estudos são feitos. Possui mais de 150 prédios de varios tamanhos. Mas é o resultado do trabalho construtivo de tres séculos. É a pioneira da Educação Superior nos EE.UU. Este pionerismo ficou patente num dos coloquios que tive com professores de Educational Guidance".O Sr. vai encontrar em outras universidade a s, programas e métodos e até concepções diferentes, mas nos estamos convenciidos que vamos bem. De todas as univesidades que visitei a Harvard é a que essta mais firme e consolidada economicamente. A universidade tem um orçamento em torno de 60 milhões de dólares. Mantem-se com os dólares que rendem de seus depositos bancarios. e doações de firmas e dos ex-alunos e de entidades filantropicas e dolaboradores diversos. Para entender a extensão da esfera cultural dessa universidade, ela mantem sete museus especiaizados. São eles o "Botanical museum" e o "Mineral Museum" tambem o"Museum Comparative Zoology. E varios outros Tem tambem numeroso laboratorias paratodas as disciplinas e gicantescas bibliotecas. A Harvard impressiona pelas coisas materiais mas principalmente pela estrutura e organização intelectual e material. Primeira na ordem cronologica da origem do Ensino Superior dos EE.UU. Atraindo professores de renomada cultura, contratando especilaistas de outros paises e proporcionando internamente a floração de mentalidades novas e arejadas. As impressões relatadas pelo Ir Otão o criador de grandes complexos noRGS. Como a Puc. Nicanor.Letti@terra.com.br

O inicio do ensino medico no Brasil

Durante a Regencia Trina (1831-1835) o Dr. José Martins da Cruz Jobim apresentou um decreto substituindo as antigas academias medico-cirurgicas da Bahia e do Rio de Janeiro, só ensinavam noções de cirurgia e anatomia, pelas Faculdades de Medicina com curriculos semelhantes as Escolas Medicas Europeias. O decreto foi analizado e aprovado pelos componentes da Regencia Trina : Francisco de Lima e Silva, Jose da Costa Carvalho e João Braulio Muniz, em nome do Imperador Pedro II. Os simples operadores praticos, foram substituidos pelos verdadeiros médicos, que recebiam o grau de doutor ao terminar o curso de seis anos e defender uma tese. Mudava-se os trabalhos do Dr. Picanço, logo na chegada da Familia Real, na Bahia e no Rio de Janeiro. Tambem foi anulada a mudança proposta pelo Dr. da Real Camara Manoel Luiz Alves de Carvalho, que ficou na história com o nome de "Bom será".A lei da Regencia Trina e depois em
1932 com o decreto de Getulio Vargas, regulamentando a profissão médica no Brasil ainda vigorando, foram as providencias oficiais para o ensino e a pratica medica no Brasil. Pode-se acrescentar uma serie de reformas como a de Francisco de Casrtro, a Lei Rivadavia(1911), a Lei Maximiliano 1915) e a lei Rocha Vaz(1925). Nicanor Lettti - nicanor.letti@terra.com.br