Faculdade de Medicina da UFRGS

Ramiro Barcelos e o Aedes Aegypti

O Dr. João Vicente Torres Homem (1837-1887) foi professor da faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Grande clínico e mestre notável. Ramiro Barcelos em 1883, cursava o primeiro ano. Gaúcho dos mais altivos, bom de palavra escrita e gesto, acentuava-se, distinguia-se. e publicou
três artigos na Revista Médica, criticando a posição do mestre exímio, em linguagem fanfarrona e provocativa, sobre a posição no ensino e na prática da causa da febre amarela, grassando no Rio. Torres Homem não respondeu. Ramiro na ousadia de primeiro anista, acreditava como causa os miasmas dos pântanos, da sujeira urbana e dos esgotos. Mas Torres Homem desconfiava e debatia em aula sua crença na existência de um vector. Bebia no mesmo copo dos doentes, cheirava de perto o hálito dos pacientes e outras obviedades que certamente o infectariam. Mas nada acontecera. O mosquito Aedes Aegypt,como alastrador e contaminador da febre amarela foi descoberto pelo Dr. Walter Reed em Cuba em 1898, durante a guerra Hispano-Americana para libertar Cuba. Na Santa Casa do Rio de Janeiro, as roupas, colchões, travesseiros e lençois eram queimados após o falecimento dos pacientes com febre amarela, em fogueiras no pátio do hospital.Torres Homem considerava tais atitudes um desperdício, criticava e fazia constar em Ata seu desejo da preservação das roupas e sua reutilização, após lavagem comum. Daí os rompantes do aluno Ramiro Barcelos. No ano de 1885, faleceu um paciente no empenho clínico de Ramiro. Torres Homem deitou-se nos trastes do paciente, sujos de saliva, fezes, vômitos, urina e dormiu a noite toda sobre eles. E não foi infectado pela febre amarela, causa mortis do doente. Daí em diante a Santa Casa aproveitava todas as roupas de cama dos pacientes após lavagem normal, foi uma economia para a instituição. O ato de Torres foi divulgado por todos os jornais do Brasil, Portugal e França. Ramiro descristou, apesar da ironia da estudantada, ele foi escolhido para orador oficial da formatura em 1888. Oswaldo Cruz aproveitou muito das atitudes de Torres Homem vinte anos após. O prof. Eduardo Sarmento Leite da Fonseca cursou a mesma faculdade de 1885-1890 e conviveu com as falas e comentários sobre o gaúcho da febre amarela. O Dr Protásio Alves foi contemporâneo de Ramiro Barcelos de 1884-1889, mas nunca tocou no assunto. Entretanto ao ser fundada a Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre em 1898 e escolhido seu corpo docente, entre os médicos da capital, o Dr Ramiro Barcelos não foi convidado. O Aedes Aegypti na atualidade, convive em nossas moradas, em vasos, repositórios de água, ideal para seu desenvolvimento, nas sacadas, nos quintais mais requintados e mesmo nas casas mais humildes. O amor pelas flores mal conduzido está infectando nossos ambientes como as cervejarias modernas, introduzem subrepticiamente o alcoolismo na mocidade.Ambos de fácil erradicação.

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