O homem que agora vai baixar ao túmulo, é daqueles a quem a dor pública o acompanha. Doravante os olhares não se dirigirão para a cabeça dos que reinam, mas sim para as dos que pensam, e o pais inteiro estremece quando desaparece uma dessas cabeças. Hoje a tristeza do povo é o pesar pela morte de um homem de talento, a tristeza nacional é a mágoa pelo desaparecimento de um homem de gênio. O nome de Balzac associar-se-'a ao rasto luminoso que a nossa época deixará no futuro. Sua morte assombra a França. Há alguns meses voltara ele para sua terra. Como sentisse que ia morrer, quis rever a pátria, assim como nós na véspera de uma grande viagem vamos abraçar nossa mãe. Sua vida foi curta, porem cheia; foi mais rica de obras do que de dias. Oh! esse escritor esse gênio, esse trabalhador estrenuo, infatigável, esse filósofo, viveu entre nós aquela vida cheia de tormentas e lutas que é dada a todos os grandes homens. Hoje, descansa em paz! Agora está acima das disputas e do ódio. Num mesmo dia penetra na tumba e na glória. De ora em diante brilhará por cima de todas as nuvens que correm por sobre as nossas cabeças, entre as estrelas de nossa pátria. Todos os que aqui se acham, se sentirão tentados a invejá-lo. Mas por grande que possa ser a nossa dor em face de tal perda conformemo-nos com a catástrofe. Aceitamo-la com tudo o que tem de rude e contristador. Talvez seja bom, seja necessário numa época como a nossa, de tempos a tempos, uma grande morte cause uma comoção religiosa nos espíritos cheio de dúvidas e de ceticismos.
A Providência sabe o que faz; quando, portanto, coloca o povo ante o mais alto segredo, dá, para meditação, a morte, que é a grande igualdade e, ao mesmo tempo, também a grande liberdade. Só pensamentos sérios e elevados podem encher todas as almas, quando um espírito elevado majestosamente penetra em outra vida, quando um dos entes que por longo tempo com as asas visíveis do gênio pairou sobre as multidões, de repente abre as "outras" asas que se não podem ver, e desaparece no incógnito! Noutra ocasião dolorosa eu já disse e não me cansarei de repetir: não é a noite - é a luz. Não é o nada - é a eternidade. Não é o fim - é o começo. Não é isso verdade, vos todos que estais ouvindo? Féretros como este são uma prova da imortalidade.
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Honoré de Balzac, o maior escritor frances, nasceu em 20 de maio de 1799 e faleceu em 18 de agosto de 1850. Conduziram sua urna funerária os escritores Alexandre Dumas, Victor Hugo e o ministro Barouche.
Cemitério Père Lachaise - Paris 1850.
Cemitério Père Lachaise - Paris 1850.
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