Relembro sua personalidade marcante e ainda o vejo caminhando descompassado pelos corredores da Faculdade de Medicina, gingado e sempre sorrindo, espelhando a alma limpida e sincera que possuia. De fala agradavel, mansa e argumentativa, procurando sempre as causas e finalidades de tudo, e retendo no olhar interrogativo as meditações das longas discussões. De dialogo facil, sem pernosticidade, desfazia de imediato as apreensões de qualquer tipo, sobre todos os temas abordados, aberto e sem constrangimentos. Era um ecletico. A excelente formação humanistica e filosofica fornecia-lhe uma ironia fina e inteligente que se igualava a de Fernando Carneiro, visitante semanal ou bisemanal, da Anatomia. E inumeras vezes assisti suas discussões. Carneiro interrogava-o sobre seu passado de militante politico. Ele não se furtava a explicar o espirito do partido que abraçara na década de trinta e comentava todos os pensamentos de Miguel Reale, o ideologo do movimento. Tinha orgulho do seu passado, mas o espigaçava com ironias terriveis, mas eram imediatamente contestadas, gaguejando, mas fluim acompanhadas de um largo sorriso relaxante. E citava Maquiavel: "as republicas que em tempos de perigo não pode recorrer a uma ditadura, arruinar-se-ão quando ocorrerem graves situações". Construiu um esquema de ensino, pelo método dos problemas, que não se limitou a teorização, mas foi colocado em pratica, sendo o primeiro a utilizar filmes, feitos pelo Dr. Ghezzi, colega anatomista e apaixonado pela filmagem médica. Sabia introduzzir o aluno no primeiro ano, na tematica clinica e fazia-o sentir-se médico. Partia de um caso clinico objetivo e ensinava anatonia dizendo: a finalidade não é a descoberta e a compreensão da estrutura no cadaver mas no vivo. Dai os alunos apreciarem suas lições. Era mais importante o aluno aprender a apalpar uma estrutura no vivo que no morto e fazia apanagio da aplicação dos metodos clinicos na anatomia. De origem humilde, formado em medicina, inclusive foi um dos grandes gagos que passaram pela Faculdade, viu-se de repente , médico em Vacaria. Tanto trabalhou, lutou e estudou que vacariano ficou pelo resto de sua vida. A adoção municipalista, que apreciava de coração, e sempre que lhe diziam sobre a proliferação de faculdades, dizia irônico ao Prof. Milano
membro do Conselho Federal de Ensino, "olha Milano querem botar uma Faculdade na Vacaria!" Entusiasta da vivissecção de animais com a finalidade de facilitar o entendimento da construção das estruturas no vivo, tinha cuidado excessivo em anestesia-los devidamente. A riquissima exemplicação feita ao ensinar, entusiamava os alunos, e nunca mais esqueciam as comparações: ao mostrar o musculo psoas com suas inserções chamava-o de "filé mignon"aos musculos das goteiras vertebrais, quando bem seccionados eram as "chuletas". A musculatura adutora das coxas tinha função importante, no coito inter-femuris, provocava as gargalhadas nos moços e elas coravam. Tinha predileção em ensinar divertindo e mostrava suas dificuldades, interrogando-os à queima roupa: o nome dos limitantes da tabaqueira anatomica, do canal de Hunter, do triangulo de Pirogoff etc. Era um apaixonado pela demonstração e estudo da circulação colateral de orgãos e membros. Talvez por falta de um desenvolvimento de uma circulação colateral do seu boníssimo coração, veio a falecer. Foi a ironia antomica da vida, efemera e fragilima de nossos orgãos. Era tão bom de carater, que chegava a irritar O Prof. Milano, que lhe dizia: "se tivesses nascido mulher, viverias grávida , pois não sabes dizer não."Tinha predileção pelos alunos criativos. Os que não se conformavam com as técnicas de trabalho utilizadas e ofereciam novas ideias, logo recebiam atenção especial de Tauphick. Dividia so alunos em : criativos, conformados e involutivos. O espirito de criatividade, embora criasse problemas ao ensino, quebrava a rotina e era de grande valor para professsores e alunos. Os conformados recebiam passivamente os ensinamentos e muitos tornaram-se bons profissionais. Mas as grandes vocações foram sempre encontradas nos alunos que esforçavam-se em ser criativos. A cirurgia e a clinica dizia, são ciencias que requerem grande criatividade para serem executadas. Repetia aos alunos uma frase de Nieizsche"Esta é minha verdade. Agora dize-me a tua". Sabia que os resultados do ensino pratico so apareciam apos a formação e amoldagem psicologica do estudante. E que não existia gratificação a curto prazo por parte dos alunos, mas não deixava de aproveitar o entusiamo de vestibulandos vitoriosos pelo credito que colocavam na profissão liberal que haviam abraçado. Ensinava-lhes que as profissões liberais cumpriam um papel indispensavel em toda e qualquer ordem social. Ao nivelaram-se todos, no primeiro ano de medicina, durante seis anos, teriam oportunidades iguais e aqueles que soubessem aproveita-las nos momentos de estudo, na dedicação ao trabalho, certamente, mais cedo ou mais tarde, teriam seus meritos recompensados. Lembrava sempre uma frase de Joaquim Nabuco na sua aula inaugural:"as sociedades não vivem pela riqueza acumulada, vivem pelo trabalho".Pela sua cultura, urbanidade, pelo trato ameno e encantador, pela sua simpatia pessoal e raciocinio cientifico logico é que sentimos sua falta. O hiato que deixou ainda não foi preenchido, pois uma das coisas mais dificeis, no meio universitario da atualidade , é a formação de um professor como foi Taupchick Saadi. Na Eternidade continue as magnificas tetulias com o Frei Pacifico de Belevaux, que em horas decisivas da vida de Tauphick, buscou-o, achou-o e oconduziu de volta ao rebanho critão. A frase de Comte"Os vivos são cada vez mais governados pelos mortos" aplica-se ao nosso grande amigo e mestre. Nicanor Letti - site: http:/aantoniovalsalva.blogspot.com/
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