Faculdade de Medicina da UFRGS

A estratégia de Sarmento Leite

Sarmento Leite falava pouco, mas agia no sentido de ter a última palavra, principalmente nas reuniões da congregação da Faculdade, onde se misturavam positivistas, antipositivistas, ateus e catolicos. Quando a discussão estava à deriva ele sempre usou a dissimulação honesta. Ela é a habilidade de não fazer ver as coisas como são. Simula-se aquilo que não é, dissimula-se aquilo que é. Segundo Torquato Accetto. Simula-se a esperança e dissimula-se a dor. Bastará discorrer sobre a dissimulação de modo que seja tomada em seu sincero significado, não sendo outra coisa dissimular senão um véu composto de trevas honestas e decoros forçados, de que não se forma o falso, mas se dá algum repouso a verdade, para demostra-la a seu tempo; e como a natureza quis que na ordem do universo existissem o dia e a noite, assim convem que na esfera das obras humanas exista luz e sombra, o procedimento manifesto e o oculto, conforme o curso da razão, que é a regra da vida e dos acidentes que nela ocorrem. Portanto, Sarmento Leite fazia o que era necessário, e sempre o fez, e sua verdade esta aí, feita, refeita e funcionando para o bem do povo. Identificava-se pela humildade, mas de olhar cintilante e de uma ironia fina. Nasceu em 7 de Abril de 1868. Com 17 anos, já estava no Rio fazendo os preparatórios para ingressar na Faculdade de Medicina. Era o ano de 1885. Agitava-se a sociedade com a Lei da Ventre Livre, era um ato da Camara, notavel, mas a votação foi de 65 votos a favor e 45 contrários. Cursou a Faculdade de 1885 a 1890, Era diretor da Faculdade o famoso Dr. Vicente Candido Figueiredo Saboia. Depois foi único barão do Império. Em 1871 era o mais famoso cirurgião que passou pela Faculdade do Rio. E Sarmento estava lá, vendo-o de perto. Em 1879 estabeleceu o ensino livre convencendo o Imperador. Foi diretor por oito anos e transformou a Faculdade do Rio, igualando-a as européias. E Sarmento estava lá. Em 1885, o Ceará e o Amazonas declaram finda a escravidão e libertaram os escravos. Em 1885, A Lei Saraiva-Cotegipe, ou lei dos saxagenários, projeto de Ruy Barbosa, libertou-os. E 1888 - 13 de maio a Princeza Izabel assinou a Lei Aurea libertando os escravos. E Sarmento estava lá. Alem disso Saboia separou por lei do imperio as cadeiras de clinica das cirurgicas. E todos os professores catedráticos fizeram concursos. Foi uma revolução. Desdobrou as cadeiras de Anatomia, e de Anatomia Patologica e criou novas disciplinas: Obstetricia, Psiquiatria e Dermato-Sifiligrafia. Entraram assim na Faculdade do Rio os famosos professores: Cipriano de Freitas, Hilario Gouvea, Erico Coelho, Martins Costa, Lima Castro e Barata Ribeiro. Em outubro de 1884 apresentou os novos estatutos da Faculdade e Sarmento Leite estava lá. Ele viveu t0das mudanças, fez inumeros companheiros que auxiliaram-no, como Aloisio de Castro, na organização do ensino em Porto Alegre. Claro, muito claramente Sarmento Leite estava preparando o que realizou em Porto Alegre. Foi sua estratégia. Quem não sabe dissimular não sabe reinar. Nicanor Letti-´site nicanor.letti@terra.com.

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