José Paulo Bisol, escreveu este texto notavel sobre o professor, e eu o transcrevo. Aplica-se ao assunto desse blog. - Pode não ser amado mas não pode não ser amavel. Não digo amavel apenas pela lhaneza de espírito, pelo trato ameno, pela agradavel simplicidade; nem o digo estritamente no sentido do digno de amor; digo-o na denotação de, digno ou não de ser amado, o professsor é amavel como portador de uma qualidade que rechaça a possibilidade de indiferença afetiva do educando. Os maus, os secos com suas almas de graveto e folha morta, os amarelos de coração, os isentos por antecipação, os gelados equidistantes, os equipolentes com seu reizinhos na barriga, esses que me perdoem nunca foram professores, só fazem figuração, desenrolando seus conceitos na escola como quem desenrola linguiça no mercado. Não há figura mais petulante, com seu fedor espiritual de naftalina, sua aura de fera assexuada, sua assepsia de intangibilidade, seu mofo de alfarrabio e sua inefabilidade de metáfora conotando que a sabedoria é uma poção milagrosa que se bebe para envelhecer e ficar importante. Para comunicar conceitos, teorias, esquemas, teoremas, estruturas, equações, diagramas, o melhor professor é o eletronico; para armazenar conecimentos, a melhor memória é a do computador; para mostrar o real, o melhor veiculo é o cinema e o televisor, e assim por diante. A única coisa que a máquina não ensina melhor que o homem é ser homem hoje, definitivamente, um professor, se é professor, é professor de felicidade. O grande professor do comportamento maquinal do homem é a máquina, e é por isso que o nosso mundo é mesmo um mundo cibernético, e o grande professor do comportamento humano do homem é o homem. Eu disse: o homem, não o narciso das citações em lingua extrangeira, não o que precisa de um rolo de papel higienico para desfilar todos os seus títulos curriculares, não o que suga os cofres do povo em viagens de estudos que só são viagens de estudo porque sem o ser seriam deliciosos ´passeios pelo mundo. Não conheço parasita mais deletério que o professor bem visto pelos poderes instituidos, que circula de bolsa em bolsa pelo mundo inteiro e jamais ensina nada, mesmo porque quando se relaciona com alunos brasileiros, não perde ocasião de lhes fazer compreender que seus cérebros são primitivos e não passam de sacos de serragem. Professor mesmo é o professor de felicidade, O resto a circunstancia ensina melhor. "A circunstancia só nos ensina como se trabalha uma circunstancia para torná-la mais docemente afeiçoada ao homem. Digo circunstancia para significar a natureza e o que o homem, pela cultura, lhe acrescentou. E digo que o professor é professor na medida em que sabe desafogar os afogados, desobumbrar os obumbrados, orgulhar os humilhados, remodelar os esmagados. Sim, admito o conceito, trata-se de modelar mas nunca modelar para a ideologia, nunca modelar para a mecanica da ordem estabelecida, nunca modelar para a adequação às estruturas que não são eternas. Tudo isso é eletronico, é cibernético,e, se for o caso de uma aprendizagem indispensavel, tudo bem, acionem os robos e toquem pela frente, nem sou contra, pelo amor de Deus. Sou contra o professor que ensina o medo, a submissão, o conformismo; o professor que comprou a verdade absoluta, o sacralizador da obediencia, o santificador do passado, o glorificador das arcádias, o adulador dos poderosos e o ruminador da prudências e das covardias. Professor para mim é parteiro; desentranha o homem, arranca o homem das entranhas, obriga-o a espelir-se da caverna. Não existe educando em razão de uma clausura. Alguma coisa o deixa de lado de fora da vida. O drama do educando é criar-se as condições para alcançar a vida. Alguma coisa o retém no escuro estranhos vínculos o prende a inércia, ressequidas estopas entopem sua garganta e obscu ras chuvas de óleo empastam suas asas e impedem seu võo. Todo educando é um homem escondido, um ser com medo de emergir, um mágico aterrorizado com a idéia da impossibilidade de ativar os seus poderes, uma sede que não sabe beber, uma grandeza indeflagrada. Não importa quais sejam os grilhões, mas seu tornozelo foi aferrado à rocha do horror por uma ou duas entre milhares de razões; ou porque algum autoritarismo paterno o esmagou, ou porque algum racismo peçonhento o marginalizou, ou porque a vergonha de uma história familiar tripudou sobre ele ou porque a pobreza o aviltou, ou porque o sexo o desonrou, ou porque a competição o apequenou, ou porque lhe faltou afeto e agora lhe falta confiança, ou porque na hora crucial uma gargalhada mofou dele, ou porque vivem dizendo que o irmão é mais inteligente, ou porque não consegue vislumbrar com nitidez a virtude materna, ou porque lhe ensinaram a comparar e invejar, ou porque não lhe permitem estupidamente ser o segundo, ou porque lhe introjetaram reliogiosamente não sei que súcubos ou íncubos, conforme o sexo, e assim por diante eis aí a etiologia psicanalitica que é mesmo um nunca acabar. O professor deve desfolhar essas sombras. Gastar todos os algodões do afeto limpando o oleo das asas. Desenferrujar as ferragens para restabelecer as aberturas. Repassar o trator sobre as estradas em desuso. Aliviar das estopas as gargantas. Acender as lâmpadas, filtrar as águas, espancar as nuvens, desanuviar os horizontes. Dizer-lhes, palpitando, com a voz embargada pela verdade pessoal, que é realmente importante ser homem, que é absolutamente gostoso estar no mundo, que as coisas são surpreendentes, que os homens são fabulosos, embora as aguas sejam turvas, embora as dores geram gritos, embora o amor sangre sob a crueldade, embora a miséria material e moral seja intorelavel. Não, o professor não diz a vida. Isso é para conferencista insípido e furungador de arquivos. O professor não diz para o aluno, olha aqui, essa é a vida, toma-a entre as mãos e converte os possiveis que estão ao teu alcance em realidade: não, o professor não diz a vida nem a vive como se devesse ser o exemplo o padrão existencial. Nada disso. O professor faz a vida. É o seu dever de raiz, fazer viver a classe, viver a classe e fazer o aluno vive-la não como classe mas como vida convivida.Agora achei, é isso aí, o professor mesmo faz a vida do educando conviver com a sua, faz de sua vida um tronco, um feixo luxuriante em torno do qual se desdobrem as vidas compungidas de seus alunos. Ele chega e não pesa, é gesto e ensina a voar. Ele chega e abraça e vai dissolvendo a distancia. Ele chega e dança e se faz a alegria de andar lado a lado com os outros. Ele chega e sua voz derrama sonatinas nos silencios. Ele chega e é óleo alcanforado, é impulso para os tímidos. Sua disciplina não é o silencio é o dialogo, sua, seriedade não é rictus, é o sorriso; sua lição não é o conceito, é a vida.A vida e sua beleza, a magia. A vida é sua pungencia, e sofrimento. É por isso que eu digo, o professor pode não ser amado mas não pode não ser amavel. Nicanor Letti site nicanor.letti@terra. com/
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