A quantificação da violência que sempre esteve presente no seio dos grupamentos humanos, não é uniforme em sua dinâmica executiva. Existe e sempre existiu maior violência no guerrear entre irmãos do que com povos vizinhos. Nas lutas cuja motivação é o fanatismo religioso a violência é espantosa. Os exemplos são inúmeros. No mundo animal, etologicamente falando, ela deriva da fome, da restrição territorial e do aumento dos hormônios sexuais masculinos, aparecendo ciclicamente como um dos meios de conservar a espécie. Entre os povos ela estala por períodos determinados das mais diversas formas, mas todas tem a finalidade de anulação da atividade do desafeto ou concorrente.Nas guerras e guerrilhas da vastidão do pampa, a atitude máxima de violência foi o emprego da técnica de matar por degolamento. Ausente na guerra de Lopez e com os outros países da bacia do Prata, pois os militares nunca aprovaram tal procedimento e até o puniam quando executado por algum subordinado, a degola, entretanto, foi a tônica em nossas disputas intestinas. Durante a marcha da coluna Prestes, de 1924 a 1926, raramente foi utilizada, pois seus comandantes eram oficiais rebelados do Exército. Relata Juarez Távora, em suas "Memórias", que os vaqueanos de Honório Lemes, logo após o combate na coudelaria de Saicã, degolaram os inimigos feridos no campo da luta. Nessa extensa marcha o único local em que houve degolamentos foi no Rio Grande do Sul. A secção, por lâmina cortante,do feixe vásculo-nervoso do pescoço, ocasiona o desfalecimento em segundos e a morte em minutos. As carótidas, grandes artérias irrigam dois terços da massa cerebral e tem pressão semelhante a da aorta. Junto da sua bifurcação no pescoço, situa-se o sistema regulador da atividade propulsora do coração. Este sistema mecanicamente atingido diminui inicialmente a atividade cardíaca, mas é seguido por uma reação de taquicardia intensa, acelerando a perda sanguínea, sendo um ferimento fatal. O degolador conhecia estes fatos pela prática e se esmerava em executar a tarefa com perfeição. Adão Latorre era perfeito na técnica de exímio degolador das forças federalistas na revolução de 1893. Contido o inimigo, encostava a faca na ponta do nariz do prisioneiro que elevava a cabeça, então a afiadíssima lâmina era introduzida agilmente no pescoço, incisando horizontalmente as estruturas a área supra-hioídea, de orelha a orelha. Solto imediatamente a vítima daria um ou dois passos, emitiria um grunhido terrível e caia desfalecido, quando isto não acontecia, o degolamento era incompleto. A vítima era novamente agarrada para executar o "jorramento" do sangue e completar o ato da execução.No combate de Campo Osório a 24 de junho de 1895, episódio final da revolução federalista e onde foi morto a golpe de lança o almirante Luis Felipe Saldanha da Gama pelos cavalarianos gaúchos da força de provisórios sob o comando do Cel.João Francisco Pereira de Sousa, denominado por Flores da Cunha a "Hiena do Caty"foram degolados dois guarda-marinhas das hostes do malogrado almirante. Com os prisioneiros contidos e deitados, o cabo degolador do cel. João Francisco debruçou-se sobre eles suspendendo com o pé direito a cabeça das vitimas. Com a mão esquerda conteve a respiração, colocando os dedos nas fossas nasais e a palma da mão sobre a boca do rapaz. As veias do pescoço ressaltadas e entumecidas, neste momento a mão direita enterrava a lâmina da faca logo abaixo do queixo num vai e vem. A degola se consumara. Este relato consta de uma carta de testemunha ocular do episódio e se encontra no arquivo do historiador gaúcho Alfredo Jacques, atraves do seu "Dom Ramon" no livro "Os Provisorios, explica: "Degolar não era tão fácil como parecia. Requeria ciência. O gaúcho velho explicava minucias, ensinava processos e concluia:"Hay dos maneras de degolar um cristiano, a la brasilera (dois talhinhos seccionando as carótidas, a la criolla (de orelha a orelha).A contenção do prisioneiro é o princípio básico do degolamento, daí sua violência inaudita e até inacreditável, uma vez que tradicionalmente o gaúcho é considerado gentil, valente mas magnanimo.Esses processos de degolamento, utilizados em nossas lutas revolucionárias, constituem um ato que desmente todo o tradicional no gauchismo, pois reflete terrivel covardia: matar um adversário contido, amarrado, já vencido e muitas vezes ferido. Inúmeros foram os casos em que a faca do degolador atingiu o osso hióide, as cartilagens de traquéia ou da laringe, não ocasionando morte, mas o ferimento era gravíssimo, pois realizava a abertura dos orgãos respiratórios e digestivos, junto ao pescoço. Ouvimos relato de um médico que suturou vários destes traumatismos durante a revolução de 1923, exigindo trabalho cirúgico de grande perícia para sua resolução.Se a violência requintou de tal forma a execução de inimigos, sua motivação deve ter sido muito grande. Não acreditamos no âmago da problemática deste comportamento existissem somente causas politicas. Toda a ação agressiva depende das funções do ego, a integridade delas é que determina o tamanho, a forma e a intensidade do ato. Nos estados psiquicos acentuados como aqueles que precedem a violência, as grandes funções do ego, incluindo as de autoconservação estão severa e seletivamente alteradas; desta maneira, os instintos naturais são descarregados sem os filtros ou restrições do comportamento humano normal. Os neurofisiologistas denominam estes estados como de "decortização psiquica", o homem reage sem as funções benéficas do ego. O acaudilhamento do chefete-gerrilheiro rural surgia de sua insegurança patrimonial, sem terra ignorante na interpretação da doutrina politica e da valentia fanfarrona até hoje cantada pelos trovadores. Há poucos anos a professora de um colégio durante uma festa tradicional, fez um dos meninos recitar publicamente este versinho de nosso folclore:
Quem arrogante pisar
No poncho da gauchada
Há de sentir a vacina
Da gravata colorada....
Durante a Revolução Paulista de 1932, um grupo de gauchos, os "Pé no Chão" de Palmeira das Missões, liderados pelo caudilho Vazulmiro Dutra, entrincheirados perto de um posto paulista, junto à fronteira paranaense, gritavam á noite: "É só te pegar que te passo a gravata colorada"
A arma fundamental do gaúcho é a faca, instrumento que serve para tudo: carneia o gado, embeleza suas vestimentas, mata o inimigo e até apara e limpa as unhas. Cada vez que alardeia valentia, a faca esta aí para garantir. "O gaúcho será um malfeitor ou um caudilho, segundo o rumo que as cousas tomarem no momento em que chegar a tornar-se notavel", afirma Sarmiento ao explicar a personalidade do seu famoso Facundo. Guimarães Rosa assinala melhor este comportamento, ao por na boca do seu bexiguento esta frase: "Nascí aqui, meu pai me deu minha sina. Vivo, jagunceio...."A vastidão do pampa condiciona muito o comportamento do seu habitante na eliminação dos desafetos. "As planícies preparam o caminho do despotismo, do mesmo modo as montanhas se prestam às resistências da liberdade" dizia um tribuno. Em verdade , nossos grandes caudilhos são produtos das planícies: Pinheiro Machado. Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, Flores da Cunha, Honório Lemes, Felipe Portinho, João Francisco Pereira de Sousa, e outros, como também os platinos com as figuras de Rosas, Facundo, Rivera Aldao, Ramirez, Ibarra, Lavalleja, Oribe, e Artigas com seus "tenientes": Andresito, Basualto, Otorgues e Palagola. A luta no pampa exige um final decisivo; caso contrário os inimigos encontrar-se-ão novamente, em situação desvantajosa para o vencedor de ontem. Nas planicies platinas uma canção mencionava a "refalosa" onomatopeia da secção das carótidas pela faca. É Sarmiento, ainda, quem afirma sobre o carater gaucho: "o habito de vencer as resistencias, demonstrar-se sempre superior à natureza, de desafia-la e vence-la, desenvolve prodigiosamente o sentimento da importância individual e de superioridade".Todos os degoladores de nossas forças revolcionárias eram homens ignorantes e sem terra, mas com formação e elan telurico de valentia inata. O ato de agradar ao patrão que o escraviza, justifica qualquer tarefa e a degola era o que mais impressionava seus chefes.Psicologicamente o degolador era um místico e o chefe, um realista. Matar era um ato de rotina e o mais fácil era usar a arma predileta a faca, e as carótidas saí estavam somente protegidas por uma massa muscular mole, facílima de ser seccionada. E a prática esmeroou a técnica. Leonel Rocha que foi um caudilho à pé, não pampiano, e teve como companheiros os "mateiros" do Alto Uruguai, pelo que consegui investigar, não permitia a degola. A ignorância no raciocinar político é caracteristica de nossos caudilhos. Honório Lemes, em carta a João Pedro Nunes, diz sobre a prisão de seu filho Nello: "Se não sair e for condenado eu me apresentarei para ir sofrer com ele aquilo que eu sou o responsável por ter acompanhado as locuras do Dr. Assis e que eles gosaro nossos sacrifícios".Esta carta data de 1928, quando estava empobrecido e abandonado em seu ambiente campeiro, depois de manejado por políticos em 1893, 1923, 1924 e 1926 para tentar derrubar Julio de Castilhos e Borges de Medeiros. Só então passou a ver mais claramente e de sua casa em 3 de fevereiro de 1930, escreveu ao mesmo amigo. "sobre Borges e Assis ambos estão em seus papel, vendo o povo lutar por suas liberdades para amanhaen e despois da vitória se apresentarem como chefes de partido para colocarem nos postos de destaque os seus simpáticos por os terem bajulado e mesmo não são homes para a luta só espera que os otros se sacrifiquem para eles gosarem" (sic). Este é o pensamento refletido de um caudilho, de uma viveza autentica, que comandava forças que degolavam no pampa. Este episódio é fundamental para entender nossa sociologia político-agrária. De um lado Assis Brasil, proprietário rural, seu ídolo, de outro, Honório Lemes, o caudilho gaúcho, o "Leão do Caverá", tropeiro valente, condutor da massa rural, que via seu chefe unir-se com o eterno rival, Borges de Medeiros, para juntos levarem Getúlio Vargas ao poder em 1930. A sensibilidade agudíssima de Honório Lemes previu o que realmente aconteceu. Mais considerava Assis Brasil um janota, um campeoníssimo do tiro ao alvo. um verdadeiro "Guilherme Tell" gaúcho que não tomara parte em nenhum combate. Percival Farqhuar, o riquíssimo proprietário de estradas de ferro, nas duas primeiras décadas do século, ao visitar a sala de Armas do Castelo de Pedras Altas em 1916 perguntou-lhe: Por que tinha tanto armamento. Assis Brasil respondeu-lhe sobranceiramente: tinha muitos inimigos. O americano divulgava esta fato como anedota aos seus conterrâneos. Aureliano de Figueiredo racionaliza esta situação no seu "Coronel Falcão": "Só agora tenho visão nítida de quantas felicidades a quantos seres humanos poderão advir da subdivisão do meu estado pastoril." João Guedes o personagem de Cyro Martins, em "Porteira Fechada", depois de se proletarizar na urbanite desenfreada, ainda usa a faca para se tornar abigeatario e buscar o seu sustento, à noite, atrás da coxilha, de onde traz um pelego e carne para a semana. A mesma faca que degolava em seu ciclo heróico, para se afirmar perante o patriciado rural, usava-a agora para seu sustento. Seus filhos , nostalgicamente, cultuam nas grande cidades o "regionalismo de homens sem terra, brandindo o facão na gesta cancioneira do monarca dos pampas.
Quem arrogante pisar
No poncho da gauchada
Há de sentir a vacina
Da gravata colorada....
Durante a Revolução Paulista de 1932, um grupo de gauchos, os "Pé no Chão" de Palmeira das Missões, liderados pelo caudilho Vazulmiro Dutra, entrincheirados perto de um posto paulista, junto à fronteira paranaense, gritavam á noite: "É só te pegar que te passo a gravata colorada"
A arma fundamental do gaúcho é a faca, instrumento que serve para tudo: carneia o gado, embeleza suas vestimentas, mata o inimigo e até apara e limpa as unhas. Cada vez que alardeia valentia, a faca esta aí para garantir. "O gaúcho será um malfeitor ou um caudilho, segundo o rumo que as cousas tomarem no momento em que chegar a tornar-se notavel", afirma Sarmiento ao explicar a personalidade do seu famoso Facundo. Guimarães Rosa assinala melhor este comportamento, ao por na boca do seu bexiguento esta frase: "Nascí aqui, meu pai me deu minha sina. Vivo, jagunceio...."A vastidão do pampa condiciona muito o comportamento do seu habitante na eliminação dos desafetos. "As planícies preparam o caminho do despotismo, do mesmo modo as montanhas se prestam às resistências da liberdade" dizia um tribuno. Em verdade , nossos grandes caudilhos são produtos das planícies: Pinheiro Machado. Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, Flores da Cunha, Honório Lemes, Felipe Portinho, João Francisco Pereira de Sousa, e outros, como também os platinos com as figuras de Rosas, Facundo, Rivera Aldao, Ramirez, Ibarra, Lavalleja, Oribe, e Artigas com seus "tenientes": Andresito, Basualto, Otorgues e Palagola. A luta no pampa exige um final decisivo; caso contrário os inimigos encontrar-se-ão novamente, em situação desvantajosa para o vencedor de ontem. Nas planicies platinas uma canção mencionava a "refalosa" onomatopeia da secção das carótidas pela faca. É Sarmiento, ainda, quem afirma sobre o carater gaucho: "o habito de vencer as resistencias, demonstrar-se sempre superior à natureza, de desafia-la e vence-la, desenvolve prodigiosamente o sentimento da importância individual e de superioridade".Todos os degoladores de nossas forças revolcionárias eram homens ignorantes e sem terra, mas com formação e elan telurico de valentia inata. O ato de agradar ao patrão que o escraviza, justifica qualquer tarefa e a degola era o que mais impressionava seus chefes.Psicologicamente o degolador era um místico e o chefe, um realista. Matar era um ato de rotina e o mais fácil era usar a arma predileta a faca, e as carótidas saí estavam somente protegidas por uma massa muscular mole, facílima de ser seccionada. E a prática esmeroou a técnica. Leonel Rocha que foi um caudilho à pé, não pampiano, e teve como companheiros os "mateiros" do Alto Uruguai, pelo que consegui investigar, não permitia a degola. A ignorância no raciocinar político é caracteristica de nossos caudilhos. Honório Lemes, em carta a João Pedro Nunes, diz sobre a prisão de seu filho Nello: "Se não sair e for condenado eu me apresentarei para ir sofrer com ele aquilo que eu sou o responsável por ter acompanhado as locuras do Dr. Assis e que eles gosaro nossos sacrifícios".Esta carta data de 1928, quando estava empobrecido e abandonado em seu ambiente campeiro, depois de manejado por políticos em 1893, 1923, 1924 e 1926 para tentar derrubar Julio de Castilhos e Borges de Medeiros. Só então passou a ver mais claramente e de sua casa em 3 de fevereiro de 1930, escreveu ao mesmo amigo. "sobre Borges e Assis ambos estão em seus papel, vendo o povo lutar por suas liberdades para amanhaen e despois da vitória se apresentarem como chefes de partido para colocarem nos postos de destaque os seus simpáticos por os terem bajulado e mesmo não são homes para a luta só espera que os otros se sacrifiquem para eles gosarem" (sic). Este é o pensamento refletido de um caudilho, de uma viveza autentica, que comandava forças que degolavam no pampa. Este episódio é fundamental para entender nossa sociologia político-agrária. De um lado Assis Brasil, proprietário rural, seu ídolo, de outro, Honório Lemes, o caudilho gaúcho, o "Leão do Caverá", tropeiro valente, condutor da massa rural, que via seu chefe unir-se com o eterno rival, Borges de Medeiros, para juntos levarem Getúlio Vargas ao poder em 1930. A sensibilidade agudíssima de Honório Lemes previu o que realmente aconteceu. Mais considerava Assis Brasil um janota, um campeoníssimo do tiro ao alvo. um verdadeiro "Guilherme Tell" gaúcho que não tomara parte em nenhum combate. Percival Farqhuar, o riquíssimo proprietário de estradas de ferro, nas duas primeiras décadas do século, ao visitar a sala de Armas do Castelo de Pedras Altas em 1916 perguntou-lhe: Por que tinha tanto armamento. Assis Brasil respondeu-lhe sobranceiramente: tinha muitos inimigos. O americano divulgava esta fato como anedota aos seus conterrâneos. Aureliano de Figueiredo racionaliza esta situação no seu "Coronel Falcão": "Só agora tenho visão nítida de quantas felicidades a quantos seres humanos poderão advir da subdivisão do meu estado pastoril." João Guedes o personagem de Cyro Martins, em "Porteira Fechada", depois de se proletarizar na urbanite desenfreada, ainda usa a faca para se tornar abigeatario e buscar o seu sustento, à noite, atrás da coxilha, de onde traz um pelego e carne para a semana. A mesma faca que degolava em seu ciclo heróico, para se afirmar perante o patriciado rural, usava-a agora para seu sustento. Seus filhos , nostalgicamente, cultuam nas grande cidades o "regionalismo de homens sem terra, brandindo o facão na gesta cancioneira do monarca dos pampas.
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ResponderExcluiroi
ResponderExcluirTriste passado de nosso Rio Grande.
ResponderExcluirE os " heróis" , responsaveis por capitanearem essa barbarie, são hoje nomes de cidades, praças e ruas.