Faculdade de Medicina da UFRGS

Alfredo Leal

Corina Pessoa, no livro "Um Brasileiro Esquecido"é autora da única biografia de Alfredo Leal. Conheceu-o em Livramento, com uma grande farmácia, havia deixado o exército, pois viera da Bahia, como farmaceutico militar. Montou um laboratorio, estudava quimica, fazia experiencias e reunia um grupo de amigos onde discutiam politica, literatura e problemas nacionais. Tudo isto acontecia no ano de 1891. O grupo da farmacia foi crescendo recem declarada a Republica e começavam a viver numa democracia. A autora lembra-se dos amigos de Leal na Farmacia: Alcides Mendonça Lima, grande jurista, escrevia no jormal local "O Cidadão". Manoel Pacheco Prates e o Dr. Moyses Viana, cunhado de Alcides Lima. Mas a figura principal do "cenaculo" era Alfredo Leal, de estatura mediana,, clara, olhos castanhos, fronte alta e audaciosa, Leal era um apaixonado, um impulsivo, um temperamento sempre em ebulição. O Dr. Gouvea deixou o grupo e foi transferido para o Rio. E Alcides Lima foi eleito deputado federal e tinha tres filhos pequenos: Virginia, Jõao e Alcides. Lembro-me das casas de comercio de Garragoni, Ceballos e de Vivaldino Maciel. Foi nessa epoca que Alfredo Leal casou-se com uma linda santanense da familia Falcão, chamada Etelvina. Meu pai foi testemunha, relata Corina Pessoa. E Angelita Giudice a encantadora vizinha, casada com Olimpio Giudice, penteou meus cabelos para a festa do casamento de Alfredo Leal e Etelvina. Logo apos seu casamento Alfredo Leal transferiu-se para Porto Alegre. Alem do trabalho em sua farmacia, estudou o saneamento dos esgotos na cidade, mas não teve sucesso. Como tambem foi o primeiro a descobrir os elementos quimicos de grande quantidade na area de Candiota para produzir cimento. Mas não teve exito, para qualquer empreendimento, de qualquer maneira foi o descobridor da área com calcareos que muitos anos depois tornou-se uma riqueza mineral do estado. Mas com o problema da banha foi interessante: Leal estudou o problema, nos seus laboratorios na rua da Olaria onde fabricava os medicamentos, verificou que a banha remetida para São Paulo e Rio de Janeiro, chegava derretida devido ao calor. E o preço descrescia. E se tornava não rentavel. Leal estudando a banha americana que permanecia solida nos climas quentes, descobriu: era o tipo de estearina que elevava o ponto de fusão. E verificou que o sebo purificado do gado e fresco não provocava o cheiro do ranço da estearina. Isto deveria ser imediatamente colocado o sebo nas maquinas de preparo da banha. E a firma faliu. A faculdade de Pharmacia foi fundada logo em seguida, em 1896. Mas as aulas começaram em 1897. E imediatamente o Dr. Protasio do Alves, Alfredo Leal, Valença Appel e João Daudt Filho, juntaram forças e fundaram a Faculdade de Medicina e Pharmacia. Aconteceu em 25 de julho de 1898. As aulas iniciaram em 1899. Tendo como Diretor Protasio Alves e vice Alfredo Leal. E assim permaneceu por muitos anos o diretor era medico e o vice era farmaceutico. Funcionou bastante bem. Apesar da tragedia que aconteceu no inicio. Os professores e alunos aguardavam no ano de 1901 a remessa do Rio o decreto do Presidente reconhendo a nova Faculdade e equiparado-a a da Bahia e do Rio, criadas por D.João VI ao chegar no Brasil em 1808. Era a terceira do Brasil. Pinheiro Machado tinha sido acionado por professores e politicos e os alunos torciam pela influencia do deputado federal Dr. Rivadavia Correa. Os animos se exaltaram entre alunos e o diretor. Até que Alfredo Leal no exercicio de diretor escreveu no quadro que quem vai agradecer as autoridades federais o reconhecimento sera a Faculdade e os alunos presididos pelo diretor. Mas os alunos liderados por Mario Totta, Armando Severo e Fabio de Barros colocaram em votação as propostas. A maioria apoiou o deputado Rivadavia Correa, e sairam as ruas proclamando vitoria, e ofendendo o diretor e outros que queriam mandar agradecimentos ate ao Julio de Castilhos e Borges de Medeiros. Um dos mais exaltados pelo resultado da votação era o aluno Antonio Correa e Mello. E a Congregação proibiu a entrada do aluno Correa e Mello na Faculdade. Horas apos estes acontecimentos dentro da Faculdade na rua da Alegria 55 (hoje Gen . Vitorino). Os alunos desfilavam pela rua da Praia, e visualizaram na altura, onde hoje esta estabelecida as Americanas, caminhando o diretor Alfredo Leal. O aluno Correa e Mello atravessou a rua rapidamente e afrontou o diretor e lhe deu um tapa na face derrubando-o. Enquanto se levantava com o revolver na mão, Alfredo Leal foi novamente esbofeteado e aí disparou o revolver duas vezes no peito do rapaz. Foi um escandalo a maioria fugiu mas muitos mais afoitos que queriam agarrar o vice-diretor, aí chegaram pessoas conhecidas inclusive apareceu no fundo de um loja onde o vice se escondia o seu socio João Daudt Filho. Levou-o para o Palacio. Castilhos ao saber de tudo o que aconteceu, recolheu-o ao quartel da Brigada Militar na Praia de Belas. As exéquias do Correa e Mello foram solenes, compareceu o alunato e falaram os intelectuais: Alcides Maya, Alvaro Porto Alegre e Augusto Porto Alegre. Sarmento Leite e Olinto de Oliveira mandaram cartas explicando os fatos. Nunca consegui ler estas cartas. Leal foi submetido ao Tribunal do Juri em 7 de fevereiro de 1901. Foram seus advogados: Plinio Casado, Timotheo da Rosa, James Darcy e Germano Hasslocher. O presidente do Juri foi Andre da Rocha, e os jurados: Marcinio Jose de Mattos, Dyonisio Jonas de Magalhães, João Rist, Guilherme Jung, Manoel Moreira da Silva. O advogado de acusação foi o Dr. Andrade Neves, acusou o famoso Cel. Marcos de Andrade, de ter cabalado todos os jurados. Mas o reu foi absolvido. Os estudantes tentaram invadir o recinto do Jury mas foram afastados pela Brigada Militar. Relata João Daudt Filho que depois destes acontecimentos com Alfredo Leal, ele foi para Santos onde encontrou um medico amigo que o amparou. Ele comprou a Farmacia Colombo. E teve 11 farmacias e meteu-se num negocio de destilação de madeira para obter acido acetico e novamente faliu. Mas um dos seus empregados era o Candido Foutoura, que o levou para São Paulo, e Leal assoprou para o Fontourinha chamar o Monteiro Lobato para escrever os almanaques propagando os vermífugos, elaborados por Leal, Lobato ficou famoso com o Jeca-tatu. Foi diretor do Laboratorio Medicamenta e organizou outros laboratorios e faleceu em fevereiro de 1930. NicanorLetti http://antoniovalsalva.blogspot.com/

Armando Camara e Annes Dias

A dor limita a curiosidade; o nascer da interrogação preludia a morte da emoção. Não convivem, harmonicamente, dentro de um mesmo campo de conciencia, a atitude analitica do espirito e a vivencia emocional. Siderados os que aqui estamos, por uma grande dor, não a profanaremos, talvez, ensaiando a analise e a compreensão de um aspecto da personalidade do amigo que despareceu nas sombras da morte? Não sera a nossa, una curiosidade irreverente e frivola, delatora da carencia de um amor real, de uma emoção autentica? Não! Inteligencia que prescruta e interroga, memoria que evoca, imaginação que cria e associa, atenção que discerne e analisa, todas essas forças do espirito, em busca de compreensão, emergem de uma exigencia emocional, para imergir outra vez, no mundo calido do sentimento e da piedade. Toda essa evocação do amigo é uma parafrase, impotente porque humana, daquele apelo ao Senhor da Vida e da Morte, diante do tumulo do discipulo que amava: Lazaro -- vem para fora. Ensaiamos o gesto liturgico da ressureição, de uma ressureição em nos, no nosso mundo interior, daquele com quem desejariamos, agora, dialogar, sentir junto de nos a realidade total de sua presença luminosa e humana. Essa emoção traduz nossa melancolia, é um gemido de nossa saudade. Tememos que o tempo - unico e autentico coveiro - com a aluvião das experiencias que em nos deposita, enterre em nossa alma, a imagem viva de alguem que, ate ontem, marchava ao nosso lado, enchendo nosso caminho de luz e beleza. Sobre Annes Dias médico e amigo, ouvistes ja sujestivos depoimentos. Coube-me a evocação da humanidade de Annes Dias. Contempla-la é registrar, numa existencia humana, a solução integral cheia de acentos triunfais, de um problema que, erroneamente solvido, gera muito drama humano, individual e social, cria crises nas almas e nos povos: o da atualização harmonica e integral das virtualidades da nossa natureza, da efetivação plena da unidade humana. A vida de Annes Dias encerra uma esplendida sugestão a todas as almas que buscam a realização dessa unidade humana, que tentam, numa atmosfera de tragedia, esculpir em si mesmas uma forma ideal, que procuram a coonsonancia das vozes diversas, dos apelos em conflito, que se afirmam no seu mundo interior. E essas vozes. falando, muita vez, linguagem dissonante, esses apelos atraindo frequentemente, em direções opostas, geram muito angustia existencial, fazem o tecido de muita crise do mundo interior e do mundo social. Senhores! A historia é, sob determinado prisma, uma serie de ensaios, uma sucessão de tentativas de definição pelo homem de sua estranha situação, de sua misteriosa realidade. Dessa definição estão pendentes as soluções que damos aos graves problemas da vida. Microcosmos - o homem, en sua natureza complexa. sente em si a ebulição de multiplas tendencias que clamam satisfação. Perturbado por esses apelos, sentindo-se palco e arena de um estranho conflito de forças vitais, que tiranicamente, reclamam satisfação exclusiva ou predominante, ele compreende que todo seu drama radia na opção que deve realizar, entre essas solicitações que se combatem. E busca uma formula de conjugação entre essas polarizações em conflito. O segredo dessa formula se esconde na exata definição do homem - de ssua origem, de sua natureza e de sua suprema destinação. Ha dois mil anos, ecoam aos seus ouvidos as palavras dessa definição. Ele guarda , porem, o privilegio, como ser livre, de não ouvir essas palavras reveladoras do Verbo. Fora da ordem de graça e da caridade, das perspectivas cristãs do ser, fora dessa imagem eterna, conge do clima vitalizante do cristianismo, o homem continua sendo, ainda hoje, esse "ser desconhecido' como observou Alexis Carrel, ou esse "ser impotente", retratado, melancolicamente , por Charles Richet. E, no entanto, nelas estão o segredo da formula de realização da unidade humana, os criterios e as forças de efetivação harmonica do nosso ser, da satisfação hierarquica das exigencias totais da nossa natureza. A lucidez critica do espirito de Annes Dias, seu cristalino bom senso, sua argucia, sua vigorosa aptidão instrutiva e, ainda, a retidão natural de sua conciencia, a pureza moral de sua vida - levaram-no a ver na imagem cristã do homem, sua imagem eterna, a descobrir, na visão catolica da vida, a visão do proprio Criador, o ponto de vista de Deus sobre sua obra. E ele repetiu a opção dso seus grandes mestres - Miguel Couto, entre nos, de Pasteur, de Claude Bernard, em França. E se fez cristão. Essa opção decisiva e vital ofertou ao grande espirito de Annes Dias todos os elementos e recursos de realização plena da unidade de sua existencia, de efetivação integral de sua realidade humana. E foi radiosa, soberba essa realidade. Annes Dias foi um dos mais sugestivos exemplares de humanidade que conhecemos. Em sua vida impar, ele realizou o que o espirito generoso de um filosofo - historiador contemporraneo visiona para o homem uma Idade Nova: o humanismo integral. Annes Dias tratou o fato das exigencias totais da vida, com respeito e docilidade, com a escrupulosa consciencia cientifica, com que tratava os fenomenos, que observava como clinico, que registrava como cieentista e pesquisados. Esteve docil e atento diante de todos os dados e aspectos do problema humano,como acolhedor e compreensivo, diante dos fenomenos emotivos dos seus enfermos, afim de formular o verdadeiro diagnostico e aplicar a terapeutica adequada e eficaz. Sua alma abriu-se, abandonou-se à sedução dos mais puros apelos da vida. Ele viveu forte e profundamente o poema do lar, as belezas seenas e fecundas da vida familiar. Ele experimentou, e fez mutas almas esperimentarem, a pura e rara ssedução da amizade. Esteve nobremente atento as exigencias do Bem Comum da Nação. A fome da beleza que trabalha todo homem autentico afirmou-se fortemente na vida do ilustre cientista. Os que com ele privaram guardam impressões indeleveis das multiformes expressões do seu senso estetico, de ssuas aptidões literarias e de sua extrema informação artistica, da finura de sua sensibilidade, do refinamento de sua estesia. Os apelos da concienca, as exigencias da realização do Bem Moral atendeu-os Annes Dias,com uma austeridade cristã exemplar, que desconheceu farisaismos e que ignorou afetações catonianas. Ao valor "verdade", de modo particular, prestou um culto enternecido, total e continuo como homem e como cientista.Sua ciencia era autentica e total; ele soube humaniza-la. Desconheceu a especialização embobrecedora, o unilateralismo artificial e conprometedor da inteligencia esterelizante do coração."O sabio não investiga, apenas, pelo prazer de pesquizar; ele procura a verdade para possui-pa" disse Claude Bernard, no ultimo capitulo de sua "Introdução a Medicina Experimental". E, acrescentou:"o sabio não deve se deter no caminho, ele deve se elevar, sempre mais, e tender a perfeição.. É necessario impedir que o espirito, absorvido pelo conhecimento de sua ciencia especial, tenda ao repouso e a satisfação, e se arraste no terra-terra, perdendo a visão dos problemas que esperam solução".Negar esses problemas, não seria suprimi-los, seria, apenas, fechar os olhos, e crer que a luz não existe. Annes Dias, como Claude Bernard, não procurou, apenas verdades; aspirou com todas as forças de sua vigorosa inteligencia, a posse da verdade, buscou a perfeição. Ele ignorou ou melhor desprezou, como o grande Grasset, a quem tanto admirava, as mutilações da vida intelectual. os jejuns metafisicos e as posições anti-humanas do cientifismo. Tentou, continuamene, guardar os salutares contatos das verdades parciais da ciencia positiva e experimental, com as grandes verdades conquistadas pelo genio dos filosofos e purificadas pelas luzes da revelação. Ele havia lido em Pascal que o coração tem razões que a razão não conhece. Ele admirava o asserto magnifico de Ruy Barbosa:"o ideal é a mais concreta e positiva das realidades?"Para Annes Dias, o universo não era, apenas, uma retorta onde se realizam, eternamente, reações quimicas e fenomenos de mecanica; era, tambem, poesia e caridade. Ele sabia que a ciencia ilumina, mas que só o amor dilata, fecunda e imortaliza o ser. Para ele o Cosmos não era ,apenas, maquina que se examina e utiliza; era, tambem, paisagem que se contempla, espetaculo que se admira! O mundo não era, só, um laboratorio em que se investiga e estuda; era templo em que se adora, era lar, onde se ama. Ele pensava, como um eminente membro da Academia de Ciencias de França, que - "o sabio, que tenta remontar a cadeia das causas, se detem, quando sua ignorancia lhe adverte que atingiu a região serena, onde a oração se apresenta aos espiritos profundos, como a forma mais pura do pensamento humano". Essa foi a grande, talvez a maior lição que nos legou o luminoso espirito de Annes Dias, sobre um problema, que , erroneamente solvido, engendrou e cria, ainda, ara individuos e coletividades, para as almas e para as civilizações tantos sofrimentos e crises. Não radicará a razão de vivermos, tão unilateralmente, a nossa natureza total?. Os totalitarismos, que ameaçam o mundo, nao serão na realidade pseudo-totalitarismos? não serão eles, antes de tudo, expressão de unilateralismos? Nazistas, que só contam a realidade da raça e do sangue, e veem no mundo, apenas um quartel onde se prepara o saque; comunistas que postulam a realidade unica da matéria e das exigencias biologicas, e transformam a Terra numa fabrica - não serão essas duas expressões patologicas da cultura moderna manisfestação tragica de anti-humanismo mutilador das exigencias totais do ser humano? Sob esse aspecto, a vida de Annes Dias, tem valor deuma solução experimental de um transcedente problema psicologico e moral. E de uma experiencia positiva, plena de exito, das verdades do humanismo cristão. Senhores! Um reporter qualquer diria, traçando o necrologio de Annes Dias: a morte roubou ao Brasil um grande cientista. Retifiquemos essa filosofia de sala de redação: a Providencia enviou a cultura nacional, atraves da vida luminosa de Annes Dias, uma esplendida mensagem. Diante de determinadas correntes do pensamento nacional, correntes destituidas de sentido historico, extraviadas do leito das tradições ocidentais, latinas e cristãs, correntes de um pensamento negativista, esteril, destruidor, a existencia, esplendida de humanidade e de força criadora de Annes Dias, aí esta como uma confirmação sugestiva das verdades e valores que devem modelar todo homem, verdades e valores que o instinto de morte, de negação, do primarismo moderno agride e ameaça.A existencia plena de exito humano, desse invulgar homem de ciencia constitue um modelo cristalino de itinerario ideal para a evolução da inteligencia brasileira. Senhores! Agora o pesquisador de verdades contempla a Verdade....Agora o grande clinico, que tanto lutou contra a morte, pela conservação da vida de seus doentes, esta na posse da vida imortal....Narra Piere Termier, em sua biografia de Leon Bloy, que, visitando este inquieto e vigoroso pensador, na hora de sua agonia, encontrou-o todo absorvido numa contemplação, com sò seus grandes olhos cartesianos cheios de interrogações e expectativas.... Perguntou Termier: "Temor da morte,Leon? Não, --disse genialmente o grande critico e polemista, - curiosidade! O espirito de Annes Dias , que possuia tão viva percepção do misterio do ser, tão aguda conciencia do milagre permanente da vida, experimentou certamente, na hora extrema, como Leon Bloy, uma grave curiosidade diante do misterio, na iminencia do ser desvendado. Como Goethe, ao morrer, o amigo e mestre suplicou a Luz, quando as trevas da morte baixaram sobre seu espirito. E a Lux do Mundo, o Cristo que é Deus, que é "luz intelectual cheia de amor", revelou-se a esse espirito, nostalgico de Deus, a essa inteligencia sedenta de Verdade Absoluta, e, apos lhe ter doado uma vida esplendida de humanidade integral, eternizou-se em sua forma divina e imortal" Nicanor Letti - http://antoniovalsalva.blogsot.com/

O Professor Heitor Annes Dias

Nasceu em Cruz Alta, Rs, em 19 de julho de 1884. Filho dos fazendeiros Lucio Annes Dias e Balbina Lopes Dias. Aos 7 anos foi internado no famoso Colegio Conceição dos Padres Jesuitas de São Leopoldo, onde cursou o primario e o secundário. Em Porto Alegre completou os estudos preparatorios na antiga Escola Publica e ingressou na Faculdade de Medicina com 14 anos, em 1900. Foram seus colegas de formatura em 1905: Balthasar Patricio de Bem, Jose Luis Ferreira, Julio Mariath, Nicolau de Araujo Vergueiro, Pedro Alexandrino Borba. Annes Dias defendeu Tese sobre "Ruidos musicais do Coração". Foi paraninfo de sua turma o Professor Eduardo Sarmento Leite. Foi para Cruz Alta, onde abriu consultório e trabalhoou como medico durante dois anos. E casou-se com Catarina de Revoredo, Dona Sinhá aos 21 anos. Foi muito feliz com sua familia, uma filha casou com Jaime Vignoli genro muito amigo de Annes Dias, e outra filha Carmen casada com o famoso medico Dr. Antonio Prudente. Seu filho Cassio foi um medico destacado. Retorna a Porto Alegre em 1908, e estabelece residência e inscreve-se para o concurso de Medicina Legal e Toxicologia, sendo aprovado. Permaneu por nove anos neste encargo e estudando muito, inclusive assumiu o cargo de professor de Medicina Legal na Faculdade de Direito. Relata Thomaz Mariante, foi nesta fase conhecí Annes Dias "me impressionaram as suas qualidades de professor: com exposição clara e simples, cultura e amor ao trabalho, embora se percebesse não estar ainda no seu verdadeiro campo de ação." Em 1917, falando corretamente a lingua francesa, seguiu para a Europa e estagiou durante um ano no serviço de Clinica do Prof. Fernand Widal. Este pesquisador e clinico frances era famoso em todo o mundo, pela descoberta do serodiagnostico da febre tifoide, e os metodos serologicos, o citodiagnostico e a punção lombar como processo de investigação clinica, as causas da retenção do cloreto de sodio na patogenia dos edemas, a cura da descloração, da azotemia e foi considerado um dos grandes mestres da Medicina. Na volta da França, Annes Dias apresentou-se para o concurso de Clinica Medica, pois seu titular o Prof. Luiz Masson falecera . Para esta cátedra tambem se inscreveu o Prof. Thomaz Mariante, que ganhou o concurso, mas teve um ato notavel abriu seu direito a catedra e cede-os para Annes Dias. E Thomaz ficou na Patologia Médica. Foi um ato altruistico proprio de Thomaz Mariante. De 1919 até 1934 Annes Dias foi catedratido de Clinica Medica da Faculdade de Medicina de POA. A Clinica Médica nestes anos pontificaram nas tres cátedras Clinicas um trio de mestres notaveis: Otavio de Souza - clinico inigualavel, Aurelio Py - semiologo habilissimo - e Heitor Annes Dias - patologista e clinico criativo. Annes Dias, escrevia nos jornais com o pseudonimo de "Cezar da Silva". A turma formada em 1924 escolheu Annes Dias como paraninfo. Em 1931 formaram-se médicos seu filho Cassio de Revoredo Annes Dias e seu genro Jayme Vignoli. Na revolução de trinta, foi organizado um destacamento médico presidido pelo Prof. Antonio Saint Pastous (chefe), como capitão, e os tres tenentes Elyseu Paglioli, Thomaz Mariante e João Fischer. E os doutorandos Aureliano de Figueiredo Pinto e Antero Marques. Vencida a revolução de 30. Muitos gauchos foram para o Rio de Janeiro. Dizem e nunca foi desmentido, que Sra Darcy Vargas era cliente de Annes Dias e os politicos não tiveram coragem de sugerir a ida de Annes Dias para o Rio. Usaram a politica e na eleição de 1934 para eleger oconstituintes manejaram para Annes Dias entrar para o Partido Republicano e apresentar-se como candidato, ele aceitou e foi eleito. Apos um decreto da Presidencia transferiu-o em 1934 para a Faculdade Nacional de Medicina o Prof.Annes Dias. Foi muito bem aceito e alem de ensinar e ir a Camara dos Deputados, começou a escrever os livros de "Clinica Medica" abordando assuntos modernos e aceito para uso em todas as faculdades do Brasil. Foram publicados na maior pate pela Editora Globo de Porto Alegre. Não sabemos como ele reagiu ao Estado Novo em 1937. Mas continuou sua atividade de professor da Faculdade Nacional de Medicina. Annes Dias morava numa casa na Praia do Flamengo e faleceu em casa de um provavel Infarto do miocardio. Silva Mello (Revista Brasileira de Medicina-1, número 1) revela: Annes Dias foi um apreciador da boa mesa e não desdenhava vinhos de alta qualidade. Abusave enormemente do fumo, chegando a fumar, alem de 2 charutos, até 6o cigarros por dia,) Nicanor Letti .

Augusto Comte e o RGS

Regis Debray Escreveu este artigo no jornal Estadão em 11.10.1995. Reescrevo algumas normas de Julio de Castilhos, o autor da unica Constituição Comtiana no mundo escreveu-a em 1891 para dirigir o Rio Grande do Sul. Os principios castilhistas eram os seguintes: seja sempre intransigente com os principios e tolerante com os homens. Deve existir "rigorosamente um partido e não um conglomerado de facções". Quando os partidos se corrompem ou degeneran alçam o colo as facções. Se o livre jogo dos partidos significa a saude das democracias, o predominios das facções é sintoma de molestia grave. Não se deve permitir nenhuma confusão entre faccionismo e partidarismo. Rigorosamente só existe um partido quando se verificar a concomitancia harmonica destes tres elementos. Um Estado , um chefe, um programa e uma disciplina. Agora o artigo de Regis Debray- no Estado de São Paulo - Solidão de Augusto Comte. A religão da humanidade acabou de comemorar seu sesquicentenario em setembro e receio que os humanos nada tenham ficado sabendo a respeito. A comemoração teve lugar no mesmo endereço onde Augusto Comte a instintuiu em 1848, no coração de Paris, na casa de sua companheira Clotilde de Vaux. Trata-se de um imovel discreto no numero 5 da Rua Payenne, rebatizada como Chapelle, repintada denovo e adquirido, no final do seculo 19, por mecenas brasileiros. Sua fachada ostenta a seguinte inscrição: "o amor como principo, a ordem como base, o progresso como fim".Decalcou-se ali a capela do Rio inaugurada em 1897, por todas as autoridades morais e politicas da jovem republica. Decoração em estilo 1900, neogotica. Sobre um estrado de madeira, uma urna de vidro vazia, um altar sem clericos e, ao fundo do coro um painel pintado representadndo uma palida silfide com um menino nos braços: é a Humanidade carregando o futuro. Na verga, tres palavras em letras douradas: Patria, Humanidade, Familia: Elas correspondem a outras tres sobre a parede frontal: Industria, Moral, Polititica. Tres idades na Historia, tres anjos em torno do Precursor, tres cerebros no individuo, tres faculdades do homem(atividadade, inteligencia, afetividade), tres estados da ciencia- a Santissima Trindade deixou sua marca nas paredes. Ali morreu, em 1846, a inspiradora do politecnico filosofo, pai da divisa "Ordem e Progresso. Ali se mantem o fogo sagrado ao redor de Emmanuel Lazinier, um erudito especialista em informatica presidente da Sociedade Positivista Internacional. E, como a religião positivista dispensa Deus, o culto tomou a forma de um curso ou de uma sabia palestra. A atualidade de Augusto Comte, ciencia e etica, Eramos treze em volta do celebrante-conferencia, incluindo sua esposa,a filha e o genro. Como se ve, a humanidade não compareceu ao encontro - mas o numero de presentes ja era signicativo. Meu vizinho me sussurara que o templo do Rio de Janeiro é mais frequentado: por volta de umas 25 pessoas, ao que parece. Os positivistas são gente paciente. Ja em 1903 o discipulo ingles. Harrison escrevia : "O cristianiamismo levou seculos para ser implantado. Nos podemos esperar. No entanto, a religião da Humanidade é uma obra-prima de ecumenismo. Seu calendario se inicia em primero de janeiro de 1789, dividindo em 13 meses, denominados Moises, Homero, Aristoteles, Arquimedes, Cesar, São Paulo, Carlos Magno, Dante, Gutemberg, Shakespeare. Descartes. Frederico (O Grande) e Bichat (o medico). Cada um desses nomes esta inscrito nas paredes da capela, em cor verde-agua (ancestral do verde ecologico, que acaba de triunfar na Alemanha.), tendo embaixo um escudo onde figuram os nomes dados a cada um dos 28 dias. A primeira segunda-feira do mes de janeiro se chama Prometeu, a terça Hercules, as quarta , Orfeu, e assim por diante; O que permite a cada ouvinte, sentado comportadamente em sua cadeira e disfarçadamente, repassar seus conhecimentos de mitologia greco-latina, como no tempo escolares. O culto positivista, em vão incensou a mulher e os corações simples, pois se trata religião de doutos, que impoe abundantes leituras aos fieis. O sistema da politica positiva, obra testamentaria. compõe-se de quatro alentados volumes. Desde o inicio ate a morte (1857) Auguste Comte foi um educador, que passou a vida, fundando associaçõe em prol da instrução positiva do povo., calcada na escrita e na leitura cuja a doutrina ao contrario da de Marx, se manteve confinada nos meios universitarios. Nunca houve celulas positivistas nas fabricas francesas, assim não ha bustos de Karl Max no Quartier Latin. Mas existe uma bela estatua de Auguste Comte na praça da Sorbonne, onde ja se perdeu a conta do numero de teses que lhe são consagradas todos os anos. O apostolado positivista foi, como todos os outros, uma extensa cadeia de traições, rancores e cismas, mas pelo menos não provocou mortes. (como o cristão e o marxista). Comte tera sido o primeiro e o ultimo grão-sacerdote da humanidade. Ele não teve o seu Engels nem o seu Lenin. Nenhum de seus discipulos ousou retomar o titulo. E morreu sem haver designado seu sucessor, nomeando apenas 13 executores testamentarios (12 demais, sem duvida). Pierre Lafitte. seu principal herdeiro, não demorou a desentender-se com Littre(autor) autor do famoso dicionario, que transmitiu a doutrina a pleiade de quadros que, na França, se destacaram na Terceira Republica, defunta em 1940. Como ninguem é profeta em sua terra, foi Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1838-/1891 quem introduziu a doutrina entre os militares brasileiros.Se houve Estados marxistas, nosso planeta jamais conheceu um Estado Positivista, fundado na rigorosa separação entre o temporal e o espiritual.Somente um estado de espirito. Os corpos não tiveram de sofrer. O seculo vinte não deu ouvidos ao pontifice matematico e ateu, cujo plano de ação previa, para o ano 2000, a reunião das tres raças, a branca, a amarela e a negra - a primeira pela inteligencia; a segunda pela ação e a terceira pelo sentimento. a fim de realizar a união perfeita da humanidade e inaugurar, enfim a era de uma religião verdadeiramente universal. A aldeia global chegou, mas ainda não existe uma religião universal. A vantagem desse malogro profetico é que pelo menos o nosso seculo nada tem a recriminar ao sabio e glabro maniaco que quis oferecer a seus congeneres, sem violencia, apenas pela persuação as chaves da felicidade. Entrettanto, a propaganda continua, e ela se porta melhor no Brasil que na França: 25 a 13. Os brasileiros ajudam Paris a recuperar o atraso. Em 1954 o Embaixador Paulo Carneiro, falecido em 1982, permitiu salvar a casa de Auguste Comte, na rue Monsieur Le Prince 10, com seus papeis, seus moveis e sua correspondencia com Clotilde, desde então depositados na Biblioteca Nacional. Um arquiteto e pintor brasileiro acaba de reataurar as telas e afrescos da casa de Clotilde. E a esposa brasileira do ultimo apostolo frances permite visitação da Capela da Humanidade de todas as tardes. em pleno Bairro Marais. No balança das trocas entre os dois paises. isso deve ser levado em conta. A religião do futuro precisa muito do otimismo brasileiro. Nicanor Letti
nicanor.letti@terra.com.br

A presença do Prof. Thomaz Mariante

Nota: Quando a Faculdade de Medicina, completou 8o anos o "Correio do Povo" publicou o Caderno de Sabado de 22 de julho de 1978 dedicado a Historia da Faculdade, muitos colaboraram. Estamos hoje editando o magnifico artigo do Prof. Oly Lobato sobre seu mestre Thomaz Mariante. .....................................Permitam que eu relate de inicio um episodio, reminiscencia da minha vida academica que, se por um lado, mudou o rumo da atividade profissional que eu planejava, possibilitou-me falar, hoje, em Thomaz Larangeira Mariante. Cheguei ao curso medico pouco antes da bomba de Hiroshima, saudada na ocasião como um imenso e festivo fogo de artificio que pos fim a segunda grande guerra, não sem antes consumir oitenta mil pessoas. Que representavam oitenta mil mil vidas numa guerra que morreram milhões? No plano nacional, encerrava-se tambem uma era: em 29 de outubro de 1945, Getulio Vargas era convidado a retirar-se e dar por encerrado seu longo e personalissimo governo. Eram, pois, tempos de mudança e de expectativas. No plano universitario, fantasiava--se que talvez o fim da guerra traria mais verbas e o Hospital das Clinicas, tão longamente esperado, poderia afinal ser construido ou reconstruido. Mas, enquanto isso, a Santa Casa continuava a ser o grande hospital-escola, onde sucessivas gerações de medicos aperfeiçoavam-se em sua arte do que em sua ciencia, devido as precarias condições locais. Meu primeiro contato com as doenças e os doentes foi justamente atraves do mais externo dos orgãos: a pele. Os raros estudantes que se aventuravam a frequentar os mal cheirosos ambulatorios de Dermatologia e venerologia tinham ocasião de observar os mais variados casos dessas especialidades. Dali, comecei algumas incursões pela clinica e, levado por um colega entrei pela primeira vez na enfermaria 2, uma imensa e escura sala, com varias alas de leitos dispostos lado a lado. Era uma enfermaia de mulheres. Impressionou-me, logo de inicio, o movimento de medicos e estudantes: havia um certo dinamismo e um ar de trabalho responsavel. Mas a clinica não era meu objetivo, pois a aspiração do estudante do meu tempo era a de ser cirurgião. O aspecto heroico da cirurgia nos atraia a todos. O abrir e fechar corpos representava o supremo ideal. O aprendizado não formal da arte de operar era feito assim: no terceiro ano do curso, graças a alguma amizade, conseguia-se entrar como auxiliar de um estudante mais graduado, o chamado externo, em uma das enfermarias de cirurgia. Auxiliava-se nos curativos, faziam-se fichas clinicas, mas não se entrava no ato cirurgico. O acesso à sala de cirurgia era feito como auxiliar de anestesista., geralmente um externo mais veterano. A anestesia era feita com a mascara de Ombredane, um aparelho todo metalico, com aspecto vagamente medieval e o anestesico usado era o eter. Todos na sala, do paciente ao cirurgião, sentiam o efeito do procedimento: aquele dormia os demais ficavam inebriados. Eu tambem comecei a escalada que teminaria, se tudo desse certo, oh gloria, na realização de uma apendicectomia. Auxilei uma anestesia a conduzi quasi sozinho uma segunda e, com imensa dificuldade em enfiar as luvas, participei de uma cirurgia não muito nobre: operar uma fimose de um homem de quarenta anos. Ensaiva-me, assim, na especialidade. Esse começo foi, todavia, interrompido por um episodio lamentavel para as minhas aspirações. Uma das cadeiras do quarto ano era de Tecnica Operatoria e as aulas praticas eram dadas no antigo necroterio, predio de aspecto tão amedrontador que quando criança au passava ao largo, olhando os vidros escuros das janelas com a alma cheia de pavor.Ele não tinha desaparecido aos 22 anos, mas, enfim, dava para assistir as aulas. Um certo dia, o exercicio pratico consistiu na ligadura da arteria humeral. Cada aluno "recebia" um dos braços do cadaver, dissecava-o ate isolar a arteria e passava um fio em torno do vaso, sem apertar muito como recomendava o instrutor, boa pessoa, mas um pouco deslocado da sua area pedagogica. Trabalhei de modo adequado mas ao apertar o nó usei demasiada força e a arteria, friavel e exangue, rompeu-se. Não timha conserto.Fiquei frustado e envergonhado com minha inabilidade. O instrutor passando em revista nosso trabalho examinou a minha "cirurgia". Fez uma cara meio espantada, levantou os olhos para mim e proferiu a frase definitiva; Oly, voce não pode ser cirurgião; voce é muito bruto. Naquele justo momento encerrou-se minha carreira de operador. Não tive outro remedio senão voltar para a Enfermaria 2 e tentar aprender clinica medica. Foi então que conheci o professor Thomaz Mariante e, desde esse momento até o dia em que tive a honra de substitui-lo na catedra, 14 anos depois, nunca deixei de agradecer ao inabil mas arguto instrutor que sem o saber me encaminhou para o caminho certo. Falar de Thomaz Mariante e do que ele representou para a medicina do Rio Grande do Sul exigiria mais espaço, mais tempo e, certamente, mais talento do que o meu. Tentarei, entretanto, e atraves de alguns "flashes", dar uma ideia do que foi o grande mestre. Nunca desvaneceu-se a primeira impressão que tive dele: a de um homem limpo de corpo e alma. Tinha um olhar franco, inteligente e doce, o ar um pouco timido. Era extremamente afavel com todos: fossem médicos, estudantes, pacientes ou enfermeiras e nunca ouvi elevar a voz para censurar ou criticar. Muitas vezes o viamos chegar a enfermaria 2 com seu avental imaculadamente branco, as vezes com um gorro tambem branco e juntava-se a nos, medicos e estudantes, para ver e discutir casos. Com ele aprendemos que um paciente não é um caso clinico, muito menos um numero, mas um ser humano doente que merecia todo o nosso respeito. Lembro-me que numa das sessões do Centro de Estudos em 1953, foi trazida uma paciente portadora de neurofibromatose e as lesões foram mostradas para todos. Ao encerrar a reunião, Thomaz Mariante comentou sobre a divida que tinhamos adquirido com aquela paciente, pois ao chamarmos a atenção para sua doença a tinhamos deixada angustiada, mais do que isso, numa situação de desamparo inferioridade. Enfatizou, então, a importancia de nunca descuidar-mos deste aspecto. Ele, que tanta importancia dava a anamnese, conversava com as pacientes, obtinha os dados clinicos, examinava delicadamente e os esclarecia, com sua experiencia, um diagnostico obscuro. Orientava, sugeria, sempre respeitando a individualidade de seus estudantes e procedia de tal forma que se acabava pensando que as sugestões tinham partido de nos e não dele. Dava um extremo valor a avaliação clinica do paciente e um de seus artigos começava com essas palavras, validas ontem como hoje: "deslumbrada com a precisão aparentamente matematica dos diagnosticos e prognosticos fundados no exame radiologico e eletrocardiografico do coração, a geração medica atual deixa para segundo plano a observação direta do doente, a pesquisa e a interpretação do sintomas e sinais obtidos pelo simples exame clinico, o que, a meu ver, é um erro e um mal!" E continua: "um mal porque a falta de conveniente exercicio, torna obtusos os nossos sentidos, instrumento preciosos de que podemos dispor em qualquer local." Cuidadoso com o bem estar dos pacientes encarregou - Britto Velho e Antonio Azambuja, em 1945, de estudarem a organização de uma cozinha dietetica na enfermaria 2. Sua preocupação com alimentação era tão marcante que, por ocasião de uma conferencia proferida, numa das sessões do Centro, pelo Professor mineiro Versiani Caldeira, manifestou-se com veemencia denunciando o estado de miseria do povo brasileiro, conclamando a classe médica ao combate contra a mais terrivel das doenças - a fome -apontando não só os responsaveis pela situação. como os meios de sanar o mal. Essas eram palavras de um patriota. Alias tudo o que fez e escreveu tinha, entre outras, a finalidade de engrandecer a medicina brasileira. Não titubeava, porem, quando em nome do patriotismo tinha que apontar erros e culpados. Isso fica bem claro num dos seus artigos publicados em 1934, quando diz: "O entusiasmo do medico e o orgulho do brasileiro foram os motivadores do presente estudo. Somos um povo priveligeado pela mão de Deus, mas, infelizmente, a imprevidencia de nossos homens tem retardato o aproveitamento e a utilização dos tesouros que nosso solo encerra." Isso foi ha mais de quarenta anos.Thomaz Mariante era um incansavel estudioso e o artigo, sobre as aguas de Poços de Caldas e Irai, mostra a multiplicidade de seus interresses e a forma com que abordava os mais variados assuntos medicos, iluminando-os com sua inteligencia e erudição. Esses variados interesses não o impediram de manter-se atualizado. Assim em 1943 numa conferencia intitulada " A penicilina suas origens e suas indicações", expoe tudo o que havia no momento sobre o novo medicamento. Note-se que a penicilina tinha sido usada nos EE.UU. pela primeira vez, e a titulo experimental, em pacientes com infecções estafilococicas e estreptococicas graves, apenas dois anos antes, e alem disso estavamos em plena guerra, o que dificultava as comunicações cientificas. Nessa mesma conferencia e numa antevisão genial do que seria constatado apenas muitos anos mais tarde, Thomaz Mariante chamou atenção para uma possiel ação lesiva do antibiotico sobre o rim e a necessidade de pesquisas ness sentido. Alias, entre os mil maleficios da guerra, surgiu para nos medicos do Rio Grande do Sul um benficio: a fundação do Centro de Estudos que mais tarde receberia o nome de seu patrono, Thomaz Mariante e cujas atividades iniciaram-se exatamente as 21 horas do dia 25 de julho de 1940 em uma das salas do consusltorio ds drs. Artur Greco e Carlos Osorio Loes. A finalidade basica da sociedade era de aperfeiçoar e ampliar os conhecimentos de medicina interna atraves de reuniões periodicas em que seriam expostos temas de atualidade ou os resultados das pesquisa eventualmente realizadas. Todavia, como ja escrevi em outra parte a analise retrospectiva que hoje podemos fazer, revela, entretanto, uma outra motivação, quiça inconsciente: é a que com a França, a Alemanha e a Inglaterra conflagradas secavam-se automaticamente as fontes de conhecimento cientifico que por mais de meio seculo nutriram a medicina brasileira. Não dispunhamos dos livros e revistas e informes cientificos que vinham daqueles paises. Estavamos a merce de nos mesmos e do que poderiamoss fazer, descobrir e pesquisar. Justamente neste momento, fruto de uma atitude no qual havia um colorido misto de pioneirismo e libertação, fundou-se o Centro de Estudos Thomaz Mariante (CETM). Nesse centro, Thomaz Mariante conseguiu aglutinar algumas das mais representativas figuras da medicina gaucha e na sessão inaugural estavam presentes: Carlos Osorio Lopes, Oswaldo Ludwig, Antonio Azambuja, Mario Salis, Carlos de Britto Velho, João Rechden e Manoel Madeira da Rosa, aos quas juntaram-se depois Jose Flores Soares, Antonio Messias, Eduardo Faraco e tantos outros. Algumas atribuições, num certo sentido originais para o nosso meio foram objeto de apresentação em reuniões. Talves a primeira sessão anatomo-clinica realizada em nossa Faculdade tenha ocorrido em 20 de agosto de 1943. Era um caso de cardiopatia reumatica apresentada pelo estudante Antonio Messias, sendo patologista do Dr. Heitor Cirne Lima, que evidenciou os achados histopatologicos com a progeção de diapositivos, feito heroico para aqueles tempos. Em primeiro de setembro de 1944, foi apresentado o primeiro caso de anemia falciforme no RGS diagnosticado e o relator foi o Dr.Mario Balve. Em 8 de outubro de 1945 foi abordado "Tratamento das Febres Tificas" pelo Dr. Antonio Gonzales. Interessante, nesta reunião, foi a intervenção de Flores Soares ao referir-se que a cistite, como complicção da febre tifoide, poderia ser causada pela urotropina administrada aos pacientes. Uma suposição confirmada mais tarde por todos que tratam infecção urinaria com aquela droga. Em 7 de novembro de 1946, Antonio Azambuja aborda "Tratamento cirurgico da Hipertensão Arterial" e comunica os resultados do primeiro caso operado em Porto Alegre por Bruno Marsiaj. Em maio de 46 Waldemar Job de "Alguns aspectos da medicina na America do Norte" tinha permanecido um ano naquela pais. Comentou sobre o uso do "thiouracil" no hipertireoidismo e prometeu que dentro de alguns meses teriamos a Stretomycin, droga que como a penicilina estava sendo usada dentro e fora das suas indicações. Uma atitude simpatica da presidencia do centro em abril de 1947 cancelamento da divida dos estudantes, uma vez que havia saldo positivo de CR$ 1.990,00. O autor da proposta foi o presidente Dr. Antonio Azambuja.Um assunto levantado por Carlos de Britto Velho numa das sessões anteriores (maio de 45), fora o da "Medicina Psicossomatica", a proposito da qual fizera algumas considerações em função de um interessante caso clinico por ele mesmo relatado. O espirito inquieto do Prof. Mariante não deixou passar o importante mote, ou melhor, retomou-o, pois afinal tinha sido ele que havia escrito em 37 ao falar da convenção constitucionalista, que felizmente a epoca do materialismo passou e o nascimento do espiritualismo surge como uma reação necessaria e salutar a libertar os espiritos das cadeias que o prendiam a materia e a permitir a medicina uma mais exata e perfeita compreensão do homem doente. Mais adiante no mesmo texto e numa antecipação do que Balint muito mais tarde, viria a chamar "de um médico como remedio" diz Mariante: muitas vezes, mais do que uma droga , necessita o doente de um apoio moral e espiritual a lhe erguer as energias abatidas, para que a luta se possa dar em melhores condições, pois que é toda esta unidade psico-fisica que vai combater a causa do desequilibrio para procurar restabelecer o ritmo alterado. Nessas duas passagens fica bem claro sua necessidade de entender e tratar o paciente como um todo, isto é, da pratica de uma medicina psicossomatica, ou melhor integral e holistica. Por issso, apos cuidadosa leitura dos livros de Weiss-English e Flanders Dunbar, os disponiveis na ocasião 1950, elaborou um modelo de interrogatorio psicossomatico e tentou indroduzi-lo em seu serviço. O terreno não estava preparado e a semente so veio a germinar muitos anos depois. Mas Mariante não tinha a cobiça do lucro imediato: plantava para o futuro. Assim tambem foi com a nefrologia. Seus primeiros trabalhos sobre as doenças renais foram escritos em 1934 e esse assunto constituiu-se em objeto de seu interesse durante varios anos e multiplas foram suas publicações a respeito. Seu espirito universalista não podia ficar restrito aos limites de uma especialidade e por isso não se transformou num nefrologista. Coube a ele, todavia a sistematização inicial do assunto e o impulso para a criação de uma especialidade que embora nova, teve um grande desenvolvimento em nosso meio, a ponto de se puder disser que tudo o que exite em materia de assistencia e pesquisa nefrologica no Rio Grande do Sul iniciou-se na Enfermaria 2 com os trabalhos de Thomaz Mariante. Assim foi Thomaz Mariante, internista, rofessor, pesquisadodr e acima de tudo um semeador de ideias novas, um inspirador. Faleceu em 1975. A ultima vez que o vimos em publico foi quando lhe outorgaram o titulo de Professor Emérito da Univesidade Federal do Rio Grande do Sul, aos 82 anos de idade. Lembro-me do seu discurso de agradecimento, lido com voz entrecortada, tremula, a mão não podia fixar a folha de papel. Nessa ocasião senti uma profunda revolta pelos formalismos dos regimentos das instituições, que levaram 12 anos para conceder um titulo alguem que merecia ha muito tempo e mais do que qualquer outro. Por que não lhe foi dada a laurea ao vigor dos anos, ja que ensinou, pesquisou, inspirou e criou durante quase cinco decadas? Por que so naquele momento, num quase fim de vida? Não sei. Muitas vezes as instituições são incompreensiveis nos seus designios e ilogicas em suas decisões. De resto, o espirito superior de Thomaz Mariante levava-o a não se importar muito com esse tipo de honrara. Dizia Osler em conhecida frase que "chega o conhecimento, tarda a sabedoria" Isso não foi valido para Thomaz Marante pois conhecimento e sabedoria chegaram-lhe juntos e muito cedo, e procurou distribui-los a mancheias. Ser sabio é, sem duvida mais importante que ser emerito e sabedoria nunca lhe faltou. Neste momento em que a Faculdade completa os seus oitenta anos de fundação, fica registrada aqui minha homenagem a quem foi a maior figura da medicina interna nesta instituição. Escrita por OLy Lobato - Nicanor Letti a transcreveu para a eternidade.

O perfil politico de Sarmento Leite

Corria o ano de 1915, o cadaver do ilustre senador pelo Rio Grande do Sul, Jose Gomes Pinheiro Machado, morto no Rio, por punhal assassino, estava transpondo a Barra, recem aberta. Comitivas politicas de todo Estado movimentavam-se para recebe-lo no Porto de Rio Grande e transporta-lo em cortejo maritimo ate Porto Alegre, onde se realizaram as mais famosas e concorridas exequias funebres de nossa historia. La estava, representando a Faculdade de Medicina e Farmacia "persona non grata" da politica da Partido Republicano Rio Grandense, e seu Diretor recem eleito: Sarmento Leite. À Protasio Alves que se surpreendera com sua presença, à noite em plena Lagoa dos Patos respondeu sarcasticamente: "pobre só vai para frente empurrado". A Faculdade Livre de Medicina e Farmacia, a terceira a ser instalada no Brasil, catava migalhas de todos os lados para sobreviver. Foi apos esta atitude de Sarmento e outras visitas que fez ao Dr. Protasio Alves, vice-presidente estadual, fundador e primeiro diretor da Faculdade que o governo do poderoso e incorruptivel Borges de Medeiros começou a mudar as agulhas. No ano seguinte, o novo edificio do Campo da Redenção estava inacabado e as obras paradas, recebeu do Estado vinte contos de reis, que muito ajudaram para seu término. Foi inaugurado em 1924, com todo o mundo oficial presente , tendo a frente Borges e Protasio. Na época o grande cuidado politico de Sarmento Leite era não misturar sua obra com a luta contra a liberdade profissional, permitida pela constituição positivista. Tocar em assunto desta natureza era o mesmo que um negro bulir com moça de Filadelfia no seculo passado , seria linchado. Sarmento sabia dessas coisas e logo apos qualquer protesto estudantil, la ia ele, conversar com Protasio no Palacio do Governo, muito se respeitavam e era recebido prazeirozamente. Sabia tambem que tinha em sua Congregação filiados de todas as qualidades e conseguia segura-los habilmente. Os estudantes o respeitavam, fora atraves deles que se progetara na Faculdade. Em 1906, apos a reprovação da tese do doutorando Eduardo Soares de Barcellos, sobrinho do cel. Antonio Barcellos. Provedor ha 25 anos da Santa Casa. Sairam os estudantes em passeata pelas ruas da cidade gritando: morras à banca! Abraçado com Reynaldo Frederico Geyer, Sarmento Leite, aprovava o protesto. Na época era professor de Anatomia e cirurgião da quinta enfermaria da St. Casa. Todos os alunos foram identificados e no dia seguinte a Congregação puniu todos os alunos com um ano de suspensão. Sarmento votou contrario a esta decisão. O caso teve grande repecussão e só terminou no ano seguinte, apos recurso interposto pelos advogados: Dr. Plinio Casado e Tiburcio de Azevedo junto ao Governo Federal. Afonso Penna em abril de 1907 assinou a revogação da Ata de punição dos alunos. Alguns professores pediram demissão e Protasio Alves pediu licença e foi trabalhar no Palacio com Borges de Medeiros. Os positivistas consideraram este ato uma intervenção estatal num orgão livre de ensino. Habilmente Sarmento saira vitorioso tres vezes na crise: conseguira afastar a Faculdade da tutela doutrinaria do Governo Estadual, expressa na famosa carta de Julio de Castilhos, por outro lado caiu nas benesses do provedor da Santa Casa, e com esta decisão Victor de Brito começou a realizar o ensino nas enfermarias. E Sarmento conseguiu finalizar o Instituto Anatomico em terreno cedido pelo provedor, sendo inaugurad0 em 1909 como o melhor da America Latina. Por ultimo Sarmento mantinha uma certa desconfiança dos estudantes, pois sabia como expressou em carta "eles são como plateia de circos que alimentam sempre a secreta esperança que o leão devore o domador" A partir desta epoca, quando todo mundo achava que a faculdade começava a fazer agua, um grupoo de professores, junto com seu diretor "que apesar de ser considerado maragato", tinha e mantinha amigos nas sete colinas do poder estadual, tomou as redeas e de dentro para fora sustentaram com recursos proprios a instituição. Sarmento afirmou nesta epoca: "carregar bilhas de agua a fonte é trabalho muito importante" Foi o que fez começando procurar entre os formandos "algumas pedras brutas para serem lapidadas". Descobriu Mario Totta, Guerra Blessmann, Raimundo Vianna, Martim Gomes, Ney Cabral, Raul Pilla, Elyseu Paglioli e muitos outros. Aceitou o convite de Otavio Rocha para ser vereador (conselheiro municipal). Chegou um dia de calor e foi retirando casaco e paleto, e se abanava junto ao ventilador. Outro conselheiro advertiu: o Sr. é médico vai ficar doente tirando toda sua roupa. Sarmento respondeu :Aqui não seu medico nem diretor da Faculdade, sou conselheiro municipal, posso fazer qualquer bobagem. Manteve atitudes ironicas e sarcasticas durante toda a vida. O estudo de sua figura revela um individuo de grande poder politizante mas que aparentemente não aparecia. Não era cultivador da imparcialidade ingenua da atualidade universitaria, envolvia-se de sobrecenho carregado, mas jamais conduzio as tensões aos niveis que geram limites sem retorno. Em plena luta pela federalização da Faculdade, logo apos a Revolução de trinta, escrevia a Belisario Penna"a maioria afirma que no meio esta a virtude, na minha oinião no meio esta a mediocridade.As relações pessoais com os governantes, o respeito de toda a classe médica que ele cultivava e o cargo chave que o mantinha como diretor, manipulava-os em consolidar a Instituição e o que mais o afligia eram as dissenções internas. Pouco antes de sua morte em 1935 confessava ao seu discipulo e amigo Elyseu Paglioli a preocupação e revolta com o clima de desentendimento e disputa reinante no seio do corpo doscente. Quando o doutorando Josino de Vasconcelos Chaves foi morto na rua da Ladeira pelas forças policiais do Estado, durante uma passeata estudantil, quem pronunciou a oração funebre a beira do tumulo foi Sarmento Leite, carregando não só a irritação politica da epoca mas a serenidade que lhe incumbia ter no momento do confronto. Não delegou tal responsabilidade, nem se omitiu, assumiu todas as consequencias do episodio pois ambas as partes respeitavam a figura de Sarmento Leite. O dessassombro ao enfrentar tais situaçõesm aliava-se a uma humildade franciscana invejavel. Conta um médico que fez os exames preparatorios em 1926: entusiasmado dirigiu-se para a Faculdade para fazer sua matricula. Encontrou o "velho" descendo as escadas e perguntou-lhe onde poderia matricular-se? Encarou o futuro aluno e lhe disse: Eu sou funcionario antigo mas acho que é nesta porta a direita. No dia seguinte surpreso verificou quem registrava recebia os documentos e cobrava era o proprio Sarmento. Por que não me disse ontem que era o Sr que matriculava. Sabes, eu sou funcionario antigo e o outro encarregado faltou hoje e eu faço sua matricula. No primeiro dia de aula surpreso viu entrar na sala de Anatomia o velho e brilhantemente dar a primeira aula e explicar toda a sistematica de comportamento que deveriam ter durante o ensino na Faculdade. No fim da aula o aluno não se conteve e perguntou-lhe: Por que o Sr. não me disse que era o professor. Menino respondeu Sarmento, eu sou funcionario antigo e como o professor não veio vou dando as aulas e riu sarcasticamente. O manuseio politico que realizava de certas personalidades de seu tempo era genial, e ao mesmo tempo simples, o que lhe conferia um respeito todo peculiar, mas decorria de alguns fatos: conhecia com detalhes as leis do ensino, sabia utiliza-las nos momentos certos e silenciava sobre assuntos delicadissimos, como o caso da Escola Medico-Cirurgica, apoiada pelo governo Borges,ostensivamento e criada em 1915, com a finalidade de esvasiar a Faculdade Livre de Medicina e Farmacia. Nunca citou em qualquer momento o nome da escola borgista. Era uma pedra em seu calcanhar da qual nunca tomou conhecimento. Possuia um passado de estudante com vivencia politica das mais intensas, cursara a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro de 1885 a 1890, época de acontecimentos marcantes na vida da Nação: fora abolida a escravatura e proclamada a Republica. Estudante vivo e lido e contemporraneo de Aloysio de Castro e aluno de Torres Homem, o maior clinico do seu tempo, só poderia assimilar esperiencias politicas e humanas as mais consentaneas, reveladas no tempo que consolidou A Faculdade como seu diretor de 1915 a 1935. Foi o primeiro cirurgião a operar o apendice no Rio Grande do Sul em 1897. Cirurgia que geralmente produzia peritonite. Foi divulgada quando o duque de Windsor, nas vesperas de sua coroação foi operado pelos cirurgiões ingleses. E desenvolvida pelos irmãos Mayo nos EE.UU. A rapidez de raciocinio demonstrava-a em todas as ocasiões. Na solenidade de lançar a pedra fundamental do Hospital Sanatorio Belem, o arcebispo Dom João Becker, decorreu longamente sobre tuberculose, emitindo conceitos corretos sobre a tuberculose. Sarmento que estava ao seu lado, e baixo de um sol escaldante, foi o orador seguinte, apos saudar as autoridades virou-se para o arcebispo e lentamente foi dizendo: Apos termos ouvido a brilhante e erudita aula dada pelo Sr. Arcebispo sobre a doença que será tratada nesta casa, nada mais me resta pedir as bençãos do Senhor sobre este Hospital". e encerrou o discurso. Durante uma greve estudantil , os alunos ocuparam as escadarias . Sarmento dirigiu-se ao lider da greve, e tirou o molho de chaves da Faculdade e entregou-o ao estudante dizendo: O senhor é o responsavel de agora em diante pelo arquivo, cofre e todas as dependencias da Faculdade. O estudante lider não aceitou as chaves e a greve esvasiou-se como por encanto. Nicanor Letti