Faculdade de Medicina da UFRGS

O Portugues de Macau

Na casa do Professor Diogo Ferraz na rua da Varzea (hoje João Pessoa), as vozes elevadas da violenta discussão daquela tarde do ano de 1914 atraiam os vizinhos curiosos que espiavam pelo janelame baixo, o movimento inusitado de gente fervilhando na roda de café. Ferraz era pessoa respeitada, de grandes amizades. Fundador da Biblioteca da Faculdade de Medicina e professsor de Propedeutica Cirúrgica. Tambem ensinava matematica no Colegio Militar. O mais agitado era o Dr. Vicente Pereira que gritava com sotaque lusitano: "Devemos velar pela nossa dignidade, não podemos admitir a liberdade profissional, acabaremoos andando de quatro patas". Referia-se a politica do Estado sob a égide da constituição positivista de 1891, permitia o livre exercicio de qualquer profissão. O Rio Grande do Sul estava infestado de falsos médicos, principalmente enfermeiros que haviam fugido da Primeira Guerra Mundial, que se iniciava na Europa. Aqui chegados, registravam-se na Diretoria de Higiene como médicos e começavam a exercer a profissão. Esta situação esdruxula e terrivel só foi sanada, apos a Revolução de 30 por decreto de Getulio Vargas, depois de intensa luta politica, da qual resultaram: a regulamentação da profissão médica no Brasil, a criação do Sindicato Medico do Rio Grande do Sul e a Federalização da Faculdade de Medicina. Enquanto o velho Diogo Ferraz pedia que moderassem a tonalidade, Dioguinho, ainda menino, contava que fugia para o quarto, temeroso de qualquer conflito e lembrava-se da voz forte do otorrino Vicente Pereira. Era um portugues nascido na pequena colonia de Macau, junto a China. Cursara a Faculdade de Medicina de Edinburgo na Escócia, e especializara-se nos Hospitais da capital Britanica. Fora cirurgião do "Hospital Real Italiano" do "Great Northern Central" e do "Center Hospital" de Londres" Estabeleu-se em Porto Alegre em 1906 ou 1907 com consultorio na Pharmacia Popular na rua dos Andradas 263. Atendia das 9 as 11 hs. e residia na Pensão Schmidt. Não conseguimos dados maiores dos motivos de sua vinda para o RGS. Mas supomos ter sido a propaganda feita em Londres pelo capitalista americano Percyval Farqhar dono das Estradas de Ferro do RGS e construtor da Barra do Porto de Rio Grande, ele levantava emprestimos em Londres e Paris para suas obras no Brasil. Seus protetores e entusiastas eram o Ministro de Obras Lauro Muller e Ramiro Barcellos gerente das pedreiras em Pelotas onde levavam para Rio Grande as enormes pedras que la estão estreitando o canal da Barra e portanto afundando o canal, foi a maior obra hidraulica das Americas, antes da construçao do Canal do Panamá. Vicente Pereira deve ter trabalhado 10 ou 11 anos em Porto Alegre e acumulou consideravel fortuna. Em 1917 anunciava no "Correio do Povo" ter reencetado a clinica na rua Independenccia numero 15. Nesta época eram medicos da especialidade o Dr. Victor de Britto e seu genro o Dr.Julio de Sousa Velho, com consultorio no numero 5o. da mesma rua. À noite era companheiro do grande pianista e compositor Radamés Gnatalli, mas tocava piano animando o cinema mudo. E frequentavam o "Clube dos Caçadores"
na Rua Nova (hoje Andrade Neves), famoso cabaré-concerto, fundado por Luiz Alves de Castro
o "Lulu dos Caçadores" e dirigido pelo cabaretier Raul Noriac, que havia apresentado a Vicente Pereira uma linda francesa. seu amor do momento. A revista "Mascara" de 1919 em um de seu primeiros numeros estampa a foto de Vicente Pereira, embecado, recebendo publicamente agradecimentos pela sua atuação durante a epidemia da gripe espanhola, e dizendo ser o diretor da Escola Medico-cirurgica. A rivalidade entre a Escola Medico-cirurgica foi a grande luta da Faculdade de Medicina e Pharmacia pois era particular e ensinava durante seis anos e tinha o Hospital de Ensino a Santa Casa. O Dr. Vicente Pereira ao ser diretor da Medico-cirurgica, que foi agraciada por Borges de Medeiros com um predio ainda existente na Praça no Alto da Bronze, onde funcionou por muitos anos uma Auditoria Militar. A Medico-Cirurgica foi fechada em 1932, no mesmo decreto de Vargas, que regulamentava a profissão medica. Vicente Pereira em 1920 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde havia comprado extensa area de terra no Leme, onde foi construido o primeiro tunel de acesso a Copacabana (Tunel Novo). e tornou-se milionario. Apos 1925 não tivemos mais fontes da vida de Vicente Pereira. Nicanor Letti, site nicanor.letti@terra.com.br

A Traqueotomia do Dr. Julio de Castilhos

Ao perceber o estalido do trinco da porta, Julio de Castilhos fixou o olhar na entrada e divisou a figura grisalha e de cavanhaque do Dr. Protasio Alves que entrava no gabinete. O médico colocou seu astrakan no cabide e mal conseguiu ouvir a voz rouquenha do desafio: De um jeito na minha garganta, estou afonico desde a visita ontem do Gen. Lima. Na casa da frente Dona Josefa viu pelo desvão da cortina o cavalo da charrete do médico, atado na argola do moirão e gritou para sua mana: Ih.. o doutor Julio esta rouco e o Protasio vai meter nitrato na garganta do pobre e ele vomitará tudo na janela dos fundos! O médico, calmamente sentou-se numa marquesa e disse filosoficamente: Julio a voz é o prego onde penduras todos os teus problemas. Enganas-te, respondeu, o prego que falas são minhas mãos atraves da pena e elas estão boas, o que tenho na garganta é doença, não é excesso, acrescentou aborrecido. Referia-se a capacidade incrivel de escrever cartas, bilhetes, editoriais ou artigos politicos e a dificuldade que tinha com a voz. Relata o Gen. Fernando Setembrino de Carvalho ter conhecido Castilhos, rouco, durante a Primeira Constituinte da Republica em 1891, e não suportava a fala em demasia ou de maneira prolongada. Na Santa Casa, dias apos, Protasio visitou as parturientes das salas do Curso de Partos, que fundara naquele ano de 1896 e foi ate a Enfermaria do Dr. Carlos Wallau solicitando um particular. No gabinete contou-lhe que atendera Castilhos em sua residencia. Alem de rouco, como de habito, estava agora dispneico. Álguma tiragem? perguntou Wallau. Só costal, acescentou Protasio. Estou preocupado com os sintomas do Presidente, uma rouquidão esta cheirando a alguma neoplasia. Será uma tragédia para a politica do Estado, arrematou Wallau de sobrecenho carregado. Protasio estremeceu e sacudindo a cabeça despediu-se desolado. Castilhos, entretanto, surpreendeu-os. Alguns dias depois estava melhorado e agradeceu num bilhete aos "preclaros esculapios". Passava longos fins de semana em sua chacara, cavalgando e cuidando da voz. Inclusive em 1897 recusou a candidatura a Presidencia da Republica como lhe propusera Floriano Peixoto. Ainda neste ano, visitou Caxias onde a denominou, em discurso famoso: "Perola das Colonias" codinome ate´hoje repetido. Traçou no discurso os grandes principios que os historiadores chamariam de castilhismo. Disse: "que o Partido Republicano Riograndense tinha um chefe, um programa e uma disciplina" que era "rigorosamente um partido e não um aglomerado de facções" e que os republicanos sempre deveriam ser "intransigentes com os principios e tolerantes com os homens" e que "nunca fariam oposisção sistemática nem lhes dariam apoio incondicional". Mas no final ficou afônico e permaneceu muitos dias acamado.Em julho de 1898, coordenou o acerto pessoal entre Alfredo Leal e Protasio Alves, Ambos diretores da Escola Livre de Farmacia e do Curso de Partos, resultando na fundação da Faculdade de Medicina e Farmacia de Porto Alegre, a terceira a ser criada no Brasil. No mesmo ano entregou o governo ao seu sucessosr eleito o Dr. Antonio Augusto Borges de Medeiros, dedicando-se ao jornal " A Federação" e a Presidencia do Partido Republicano RioGrandense (PRR). Em 1902 Castilhos tornara-se arredio, não acreditava mais em solução do seu problema da voz, queixava-se aos amigos nos seus bilhetes dos inumeros colutorios, cauterizações, lavagens que os médicos o submetiam. Alude inclusive a um tratamento de massagens elétricas recem descoberto na Europa que fora tentado. Todas as tardes ao se dirigir para casa na rua da Igreja, evitava subir a Ladeira pela canseira e ofegação que sentia, o que era surpreendente para um homem de apenas 42 anos. Nunca foi comentado de Castilhos ser fumante. Apenas num bilhete ele agradece ao remetente de um fumo muito bom do interior do Estado. Durante o inverno gripara-se varias vezes, a voz piorou, a dispneia era mais intensa e apresentava dificuldade para deglutir alguns alimentos, como confessou em carta ao Dr. Aurelio Verissimo de Bittencourt, seu secretario e comissario politico. Protasio algum tempo depois foi avisado que Julio de Castilhos queria ve-lo pois não se sentia disposto. Encontrou-o recostado, ofegante e com grande tiragem supra-external e costal e ao movimentá-lo para o exame notou-o cianótico. Horas após, Dona Josefa avisava sua irmã: o Dr. Julio deve estar mal, estão la na casa o Dr. Serapião Mariante, Carlos Wallau e o Dioclecio Pereira. Ih. Maria será que ele esta peleando em retirada e sem munição! Pobre Dr. Julio! Os medicos preparavam tudo para realizar a traqueotomia. Wallau trouxera os instrumentos e era perito em realizar a intervenção que consistia em colocar uma canula metalica na traqueia incisando na base do pescoço. Protasio incumbira-se de convence-lo a permitir a operação e explicava tudo aos familiares presentes. A noticia espalhava-se como penas na ventania e a casa começou a ficar repleta de politicos e conhecidos. Na sala dos fundos do primeiro andar prepararam a improvisada mesa cirurgica e Castilhos foi conduzido ate lá. Ao ver que Dioclecio manejava a mascara de Ombredanne perguntou: quem me cloroformisa? O Dioclecio, respondeu Protasio. Então estou tranquilo. Ao ser conduzido para a mesa. Wallau que estava arrumando os instrumentos, com as mãos lavadas disse-lhe: Coragem Presidente! Castilhos após fixar os olhos no médico e arquejante respondeu: "coragem eu tenho o que falta é o ar"! O cheiro do cloroformio instilado na mascara por Dioclecio espalhara-se pela sala e Castilhos contido pelos cirurgiões debatia-se sufocado. Rapidamente Wallau, auxiliado por Protasio, incisou verticalmente a base do pescoço, mantendo o dedo sobre a cartilagem cricoide para se orientar. Encontrou a traqueia e abriu-a, mas o estertor tussigeno caracteristico não aconteceu. Dioclecio apavorado tomou-lhe o pulso e não o sentiu Protasio ainda comprimiu o torax mas não obteve resultado. O cloroformio e a dificuldade respiratoria haviam matado o mais famoso politico gaucho. Morria ingloriamente aquele que os historiadores denominaram de Patriarca do republicanismo rio-grandense, junto com Venancio Ayres o apostolo, Ernesto Alves o puro, Pinheiro Machado o homem de ação e Borges de Medeiros o incorruptivel, plasmaram um numero enorme de politicos que influenciaram decisivamente na politica gaucha e nacional até a decada de 1950. A disfonia, o cancer laringico e a traqueotomia, tres problemas importantes da otorrinolaringologia de todos os tempos estiveram ligados, nos albores do seculo em Porto Alegre, centralizados na figura notavel de Julio de Castilhos. Aquele que com apenas 31 anos havia escrito em 1891 um dos mais famosos documentos do nosso seculo: a unica constituição republicana positivista, baseada no ideario sociologico de Augusto Comte, que esteve em vigor no RGS ate 1930.

O Incrivel Dr. Julio Hecker

O vento do deserto fustigava as ameias do Forte da Legião Estrangeira, do Exercito Frances na area central do Territorio Argelino, no distante ano de 1876. O soldado Carlos Hecker percorria as seteiras observando movimentos de forças árabes. Tinha 30 anos, semi-calvo, esguio e alto, era um membro que se destacava na Legião por ser farmaceutico e conhecer a arte da relojoaria. Nascera em 1846 na Alsacia-Lorena de Sara Brunschwig e Abraham Hecker. Ao toque de recolher da corneta a tropa formou em poucos minutos no patio central da Fortaleza. O coronel Mac-Mahon, que anos apos seria general e presidente da França, surgiu de uma porta lateral com pinguelin na mão e subiu no estrado à frente da tropa que o saudou no estilo militar. O ajudante leu a ordem do dia com elogios ao soldado Carlos Hecker e anunciou que seu pedido de baixa havia sido autorizado. À voz de comando apresentou-se recebendo os documentos e a correspondencia, sendo cumprimentado e condecorado com a medalha de combate pelo coronel Mac-Maon. Ao ler as cartas ficou surpreso com a do tio materno Brunschwig, ele morava em Bagé no Rio Grando do Sul e o convidava a emigrar. Impulsivo como era, apos passar pela Alsacia, chegou a Bagé no fim do mesmo ano de 1876. Trabalhou algum tempo com os tios e casou-se com uma bageense de origem basca chamada Catarina Bidart que era uma moça afortunada. Tiveram muitos filhos e viajaram regularmente para a Europa, onde mantinham a casa dos seus pais na Alsacia -Lorena. Na ultima década do seculo xx com os filhos adolescentes instalou-se em Porto Alegre com a "Pharmacia Hecker" na esquina da rua da Praia com a Dr. Flores e uma relojoaria na rua Voluntarios da Patria chamada "Casa da Uva". Tiveram tres filhos homens: Julio, Jose e Paulo. Julio Hecker, o mais velho, nasceu na Alsacia, durante uma viagem, na mesma casa onde nascera o pai e com a mesma parteira. Foi registrado como cidadão alemão, pois a região estava sob dominio prussiano. Os demais nasceram em Porto Alegre. Todos os filhos cursaram Farmacia em Porto Alegre cuja faculdade fora fundada em 1896, mais tarde medicina. Paulo Hecker cursou tambem Direito. Julio e Jose Hecker formaram-se em Medicina em 1906. Sua turma tinha apenas cinco medicos: Antonio Castro Pinto, Catarino Rafael Azambuja, Jose Hecker, Julio Hecker e Ulisses Pereira de Nonohay. Paulo Hecker foi grande advogado em Porto Alegre sendo pai das esposas dos Drs. Nilo Luz, Paulo Pereira Lima e Ney Ferreira e do poeta e e escritor Paulo Hecker Filho. Julio Hecker logo apos a formatura começou a trabalhar no Hospital da Brigada Militar e dedicava-se ao tratamento das doenças do ouvido, nariz e garganta. Com o apoio do pai foi estagiar em Viena com Adam Politzer, com Fucks na Alemanha e tambem esteve em Barcelona., onde apos ter apresentado um trabalho numa reunião médica ganhou um premio. Dispomos de uma nota fiscal emitida pelo editor A.Maloine de Paris, em nome de Julio Hecker para seu endereço em Viena datada de 16.09.1910, especificando a compra de livros de otorrino e oftalmo. Voltou da Europa em 1913 entusiasmado e trazendo aparelhagem médica moderna da especialidade. O que o destacava era ter aprendido a manejar o endoscópio de Brünnig. Em 1908, Brünnig construiu seu famoso aparelho, usou pela primeira vez a eletricidade, iluminando o interior da via respiratoria, atraves de um lampada que se acoplava ao empunhador do aparelho. Este método foi um avanço extraordinario para a especialidade, pois ela sempre progrediu na cauda dos descobertas de métodos de iluminação de cavidades e sua ampliação. Em 1920 Chevalier-Jackson com seu endoscópico,e em 1950 com o microscopio otologico e Kleinsasser com o sistema de endoscopia de suspensão em 1960. Chegou Julio Hecker em Porto Alegre em 1913, trazendo todas as novidades e avanços técnicos da especialidade e começou a trabalhar. Fazia sucesso com a endoscopia extraindo corpos extranhos e de rotina usava-o na Santa Casa. Viajava muito para o interior onde atendia e operava. Dispunha de uma carruagem com uma parelha de magnificos cavalos, fazendo figuração em todos os ligares por onde passava, instalando-se nas melhores hospedarias e anunciando sua especialidade 'a moda da 'epoca. Com um paciente que facilmente aceitava a passagem do endoscópio fez uma demonstração publica num cine na praça da Alfandega. Em uma viagem a Bagé, conheceu uma moça da familia Martins e casou em seguida. Este casamento trouxe-lhe muitos problemas, pois ela sofreu de um problema hormonal e engordou ate pesar 140 quilos. Separou-se desta senhora e ficou cuidando de uma menina adotada, esta casou-se mais tarde com Belmir Terra, filho do agropecuarista Dr. Marcial Terra e pouco tempo depois faleceu de parto. Desde o falecimento de sua filha, Julio Hecker perdeu o controle emocional e como ja abusava do alcool, tornou-se um alcoolatra. Foi um bebedor famoso, não só no mercado Publico, onde patrocinava grandes noitadas, tornando-se farrista popular, pois todos o conheciam e sabiam que era médico. Mas muitas coisas fez e realizou antes do descontrole de comportamento e do uso abusivo do alcool. Organizou o serviço de atendimento de olhos, ouvidos, nariz e garanta do Hospital da Brigada Militar, onde chegou a capitão-medico. Foi o primeiro professor de Otorrino da Faculdade de Medicina de 1915 a 1918, organizando seu primeiro curriculo, substituindo o Prof. Diogo Martins Ferraz que cumulava com o cargo de professor de Propedeutica Cirurgica. (não confundir com seu filho o Dioguinho Ferraz). No Arquivo da Faculdade de Medicina encontramos o unico documento que confirma estes fatos, é um requerimento manuscrito onde Julio Hecker comunica ao Diretor Sarmento Leite que reassumiu a cadeira de Otorrino. Pelos arquivos da Faculdade de Medicina o professor da especialidade a partir de 1920 foi Julio de Souza Velho. É provavel que Julio Hecker foi o professsor de 1914 a 1919. Na decada de 1920, contou-nos o Dr. João Valentim, foi o expoente maximo da especialidade. Graças aos doutores Pereira Lima e Raul Vargas que guardaram por muitos anos os instrumentos de Julio Hecker e apos ,a meu pedido doaram os instrumentos para a Faculdade de Medicina. Foram tambem preciosas as informações e fotografias, ineditas que nos foram dadas pelo Dr. Almir Porto da Rocha, parente do Dr. julio Hecker. Nicanor Letti - site:

O suiço Dr. Francis Valentim

Em Berna, no mes de outubro de 1912, qundo começava nevar esporadicamente, o Dr. Adolfo Valentim recebeu uma carta vinda do Chile, remetida pelo seu paciente, Sr. Carlos Quejada, rico comerciante e proprietario de terras, que fora operado de um carcinoma na boca, ha um ano, e agora, desesperadamente, pedia que seu médico fosse ao Chile pois seu mal recidivara. Junto cheques para a viagem e outras despesas. Ainda com a carta na mão, entrou na sala seu filho, Dr. Francis Valentim, tambem otorrino e estudara e se aperfeiçoara com o famoso Adam Politzer de Viena. Quando mostrou a carta de Quejada ao seu filho disse-lhe: tens vontade de ir ao Chile ver e tratar o Sr. Quejada? Em meados de dezembro Francis embarcava em Genova no "Regina Margheritta" para Buenos Aires. encontraria o emissário do Sr. Quejada para leva-lo ao Chile. Depois das paradas em Marselha e Lisboa, chegaram ao Rio de Janeiro. Haveria troca de navio e os passageiros foram para o Hotel dos Estrangeiros. O Dr. Valentim recebeu a correspondencia e um telegrama comunicando que o Sr Quejada falecera. No hotel Francis encontrou o Dr. Edmond Berchon des Essars, clinico e cirurgião famoso de Pelotas. A historia foi contada e comentada entre os dois médicos. Berchon convidou-o para clinicar em Pelotas no RGS. Disse-lhe que era amigo do provedor o Barão de Arroio Grande, Francisco Antunes Gomes da Costa. A Santa Casa de Pelotas fndada em 19 de março de 1848, somente em 1890, por iniciativa de Miguel Rodrigues Barcellos (Barão de Itapitocay),que era seu provedor, criou o serviço de olhos, ouvidos e nariz. O dr. Ribeiro Tacques foi o primeiro medico, e anunciava seus serviços nos jornais da cidade. Dois anos depois o Dr. Victor de Britto criava o mesmo serviço na Santa Casa de Porto Alegre. Foi nesta época, chegou a Pelotas o Dr. Francis Valentim, desembarcando da corveta "Pernambuco". Os primeiros meses foram de grande sucesso para o medico suiço, fez as primeiras amigdalectomias e adenoides, operava polipos nasais, e realizava sinusotomias. Conhecia e tratava adequadamente as otites agudas e cronicas. Sua fama espalhou-se rapidamente e em maio e junho excursionou a Bagé e Rio Grande , em diligencia, onde operou e tratou pacientes que esperavam ha muito tempo um especialista. Esteve em Porto Alegre, na Casa de Correção visitando o trabalho relalizado pelo Dr. Sebastião Leão, que ja falecera, mas
o estudo realizado por aquele médico foi apreciado e estava acompanhado pelo Dr. Protasio Alves, este estudo do "facies" do criminose foi tese de uma historiadora mostrando que Sebastião Leão não concordava com as teses dos criminologistas Ferri e outros. Tempos depois conheceu no Clube Comercial de Bagé uma linda moça, Lia Sá e confraternizou com os pais e sua familia. E dançaram e casaram em outubro de 1913. Mas em 1914 -1915 voltou para suiça chamado pelo Serviço Militar. Na sua volta nasceu sua única filha . Trouxe da Europa uma grande qnatidade de material cirugico e continou trabalhando em consultorio e na Santa Casa. Em plena atividade no ano de 1918, foi afetado pela gripe espanhola e faleceu, em plena idade e vigor ao trabalho. Mas sem duvida foi o primeiro otorrino do RGS com formação completa executando seu trabalho com as adiantamentos completos daquela época. Nos anos setenta, quando colhi estes dados, sua filha morava no Rio e trocamos correspondencia e forneceu-nos os dados do relato e nos remeteu sua fotografia. Nicanor Letti Site: nicanor.letti@terra.com.br

O Professor Victor de Britto

Quando um vulto de grandes méritos se eleva ao fastigio do saber, curva-se em respeitosa homenagem a historia para lhe traçar um esboço biografico. É ele Victor de Britto, famoso oftalmologista, esplendoroso espirito, cheio de erudição não somente médica mas também literária e politico-social. O que segue bem dira da sua estatura intelectual e moral. Nasceu em Valença, pequena cidade da Bahia, a 15 de outubro de 1856. Seu pai, Victor Marcolino da Silva Britto, era farmaceutico da Armada, e sua mãe chamava-se Maria Angélica da Silva Britto. Teve dois irmãos e duas irmãs. Destas, a mais moça, de nome Ursula, casou-se com Joaquim da Costa Lage, que foi, durante quarenta anos, funcionário da Cia Sul América. A outra Maria, casou-se com o médico Dr. Domingos de Azevedo, por longos anos em Campinas, estado de São Paulo. Os irmãos faleceram na infancia, deixando-lhe grande saudade, pois os estimava imensamente. Muito afetuoso e precocemente austero, tomou na mocidade, a si, os encargos da familia, visto que seu pai viajava com frequencia, permanecendo pouco tempo na Bahia. No estudo de humanidades, particularmente do Latim, e do Portugues, materias a que dedicava maior atenção, e no estudo da Medicina, na Faculdade da Bahia, onde se doutorou em 1878, adquiriu foros de eximio estudante, conseguindo facilmente, um dos primeirtos lugares, entre os mais distintos condiscipulos. Naquela Faculdade, conquistou amizade dos mestres, especialmente do Dr. Domingos Carlos da Silva, professor de Patoloiga Externa, e do Dr. Almeida Couto, lente substituto da Secção Medica. Defendeu a tese sobre "Pustula Maligna", assunto inspirado em caso dessa molestia que acometera o seu, então, futuro sogro. Logo apos a formatura, casou-se com Maria Eufrosina da Cunha, irmã do Almirante Antonio Alves Camara, que residia no Rio de Janeiro e aí faleceu. Começoou Victor de Britto o exercicio da profissão em seu estado natal, onde clinicou por espaço de dois anos. Mudou-se então, para o Rio Grande do Sul, fixando residencia em Pelotas, aí exercendo a clinica geral até o começo de 1884, época que embarcou para a Europa, para estudar oftalmologia em Paris. Nesse centro da especialidade com os célebres professores Wecker e Panas, cuja simpatia grangeou rapidamente pela dedicação ao curso e pelas manifestações de grande inteligencia. Alem da amizade desses dois mestres, adquiriu intimas relações com os Drs. Lapersonne e Terrien, posteriormente lentes da Faculdade de Paris, na catedra de Oftalmologia. Em tão elevada conta tinha o Prof. Wecker a Victor de Britto, que o convidou a ficar em Paris, como seu assistente, lamentando, profundamente, ao sabe-lo casado. Alem desse impedimento, outro obstava a que aceitasse o convite: o grande desejo de trabalhar para os seus conterraneos. Voltando ao Rio Grande permaneceu alguns meses em Pelotas, seguindo depois para Porto Alegre, onde fixou residencia definitiva, aqui encontrando campo vasto para o exercicio da especialidade, ate então atendida por um clinico geral o Dr. Joaquim Pedro Soares. Logo apos sua radicação em Porto Alegre, criou um serviço de molestias dos olhos e mais tarde na Santa Casa de Misericordia, onde trabalhou com dedicação ate antes de morrer, dirigindo, assim, por cerca de quarenta anos, o ambulatório e a enfermaria de doença dos olhos. Foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, ocupando a catedra de Oftalmologia que tanto ilustrou. Era membro da Academia Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, na qual teve ingresso com excelente memoria sobre o Tracoma. Foi, tambem membro Societé Française d"Oftalmologie e de outras corporações cientificas estrangeiras. Por tres vezes, interrompeu sua estada em Porto Alegre. Primeiramente de 1893 a 1895, durante a Revolução de 1893, quando de injusta perseguição politica de que foi vitima, não se consumando a tragedia do seu fuzilamento, graças à intervenção de nosso parente o oficial da marinha Alves Camara, comandante da flotilha do Rio Grande do Sul, o qual exigiu sua libertação, sob pena de bombardeio de Porto Alegre. Livre, então, seguiu até o Rio de Janeiro, onde permaneceu ate a pacificação. Em 1904, ausentou-se do Rio Grande, em nova viagem a Europa, a fim de estudar Otorrinolaringologia em Viena e doenças nervosas em Paris. Nesta cidade frequentou o serviço do professor Raymond e, na capital da Austria os serviços dos Professores Politzer, Landsteiner, Wintersteiner, Obersteiner, Wiesel e Gohn. Enfim, afastou-se., pela terceira vez. quando deputado federal pelo Rio Grande do Sul na oitava legislatura. Desde a juventude, manifestou tendencias para as lutas politicas, Em Pelotas, ao tempo da monarquia, conseguiu triunfar na chapa de vereadores. Foi propagandista da Republica, ao lado de Julio de Castilhos, Homero Batista, Ernesto Alves, Demetrio Ribeiro, Antão de Faria e outros. Fez parte do corpo de redatores da "A Federação" de Porto Alegre, dirigida , então, por Gonçalves de Almeida. Como deputado federal, foi uma das figuras de maior relevo, pronunciando muitos e brilhantes discursos sobre questões economicas e financeiras, publicando, alem disso, importante trabalho sobre o sufragio universal. Deu, ainda, atenção a reforma do ensino, a proposito, erudita conferencia na Biblioteca Nacional. Entretanto, dedicou o melhor de sua atividade ao hospital de caridade, onde permanecia diariamente das 8 as 12 horas. Foi tres anos provedor da Santa Casa de Misericordia. Cargo que prestou assinaldos serviços, introduzindo reformas dignas de nota. Foi a grande primeira reforma da area medica, no trienio 1919 a 1921 criou apos de um grande estudo a situação ds enfermarias, numerando-as e nomeando chefias e colocou em mais de vinte enfermarias sob a tutela medica da Faculdade de Medicina, criando o Primeiro "Regulamento do Serviço Sanitario da Santa Casa" nele disciplinou as funções e obrigações do Diretor Geral do Serviço Sanitario, dos medicos internos, e das diretorias das Enfermarias, regulamentou a admissão dos enfermos, e seu comportamento no Hospital. Foi o grande regimento que ate hoje funciona com aqueles principios. Na catedra, em que seu zelo apostolico pela ciencia foi tão manifesto pronunciou brilhantes e profundas lições , recordaddas sempre pelos seus alunos. Era orador fluente e magnifico expositor, revelando, em todos os postos ocupados, dons invulgares de pensamento e cultura geral. O interesse que tinha pela formação dos discipulos Assim que muitas vezes realizou na propria residencia. Espirito Altivo, não perdoava os atentados a dignidade de sua profissão, que sempre defendeu galhardamente Foi polemista de vigor, quer no terreno medico, quer no politico, Na Ata 96 (24.07.1911) relata que Victos de Britto relatou os novos estatutos da Faculdade de Medicina que foram aprovados e na Ata 98 foi mandado imprimir. No ano que deixou de existir, havia sido escolhido para paraninfar a turma dos doutorandos de Medicina, e terminara o texto do discurso que faria na solenidade. Faleceu em 24 de outubro de 1924. Deixou um acervo enorme de trabalhos cientificos, médicos, politicos e monografias a principal e famosa foi seu livro sobre"Gaspar Martins e Julio de Castilhos" que teve critica brilhante do literato Osorio Duque Estrada. NicanorLetti. site: nicanor.letti@terra.com.br






Faculdade de Medicina de Porto Alegre em 1919

A Faculdade de Medicina de Porto Alegre esta de parabens, pois vai ter em breve um auxilio expressivo para finalizar seu prédio junto ao Campo da Redenção. Iniciado em 1913, logo apos a doação do terreno pelo Presidente do Estado Dr. Carlos Barbosa. Mas as obras estavam paradas desde 1913. Na ultima sessão da Congregação o Prof. Sarmento Leite comunicou, ter visitado o Dr.Borges de Medeiros, recebeu a comunicação de verba expressiva para concluir o prédio. O primeiro e mais antigo instituto livre do Brasil. fundado em 25 de julho de 1898, equiparada as congeneres oficiais pelo decreto numero 3758 de 1 de setembro de 1900, assinado por Campos Sales e Epitacio Pessoa então ministro do Inteior e Justiça, sendo nomeado delegado fiscal federal o Dr. Balduino Nascimento. Ao Dr. Protasio Alves. seguiram-se na diretoria os drs. Dioclecio Pereira como vice-diretor, Serapião Mariante, Olinto de Oliveira, Carlos Wallau, Octavio de Sousa, e Sarmento Leite. Ocupando o cargo de delegado fiscal, sucessivamente os Drs. Dias de Castro e Candido Reis, este ate 1911, ano em que, a 5 de abril foi promulgada a chamada Lei Rivadavia em substituição ao Codigo de Ensino Epitacio, ficando extinto o cargo de Delegado Fiscal da União. E assim pautando sempre todos os seus atos pela mais rigorosa austeridade, este Instituto impoz-se a consideração publica, captando confiança dos poderes publicos. Para tornar mais eficiente a instrução ministrada a seus alunos fez construir na Varzea, em terrreno cedido pela Santa Casa seu Instituto Anatomico, um dos melhores do Brasil e em casa alugada na rua General Vitorino esquina Floriano Peixoto instalou seu Laboratorio Clinico (Osvaldo Cruz) e onde se fazem todas as pesquisas clinicas , serologia, microscropia histologia e se preparam vacinas autogenas. Com a nova reforma do ensino superior e fundamental de 18 de março de 1915 (Lei Maximiliano). Na sessão extraodinaria do Conselho de Ensino Superior de Ensino a 20 de maio de 1915, sendo nomeado Inspetor Federal o Sr. Dr. Eduardo Emiliano Pereira dos Santos. Apos a mais rigorosa e minuciosa inspeção, alcançando aulas, laboratorios, exames, toda a escrituração e todos os atos da Faculdade, desde sua Fundação, foi o relatorio do referido Inspetor unanimente aprovado pelo Conselho Superior de Ensino, em sessão de 5 de fevereiro de 1916, com o parecer elogioso da respectiva comissão composta pelos Profs. Aloisio de Castro, Reynaldo Porchat e Paulo Frontin, referencias que muito lisongearam a Faculdade. A primeiro de março do mesmo ano em portaria do Ministerio do Interior e Justiça, era de novo a Faculdade equiparada as congeneres oficiais e esta vez coube-lhe a gloria de ser o primeiro Instituto de Ensino Superior considerado idoneo e a primeira faculdade livre de Medicina do Brasil e gozar das regalias da equiparação. Em 1917, não querendo ser reconduzido ao cargo foi o Dr. Eduardo Emiliano susbuido pelo Dr Jacintho L. Gomes, o qual pelo mesmo motivo foi substituido em 1918 pelo Dr. Ricardo Machado que ainda esta no cargo. Tem assim a Faculdade se desenvolvido, lentamente é verdade, mas de um modo firme e bem orientado, sempre fiel ao lema - conservar melhorando- e o progresso se observou em todos os seus departamentos. O numero de alunos de 60 subiu a 250, seus laboratorios, de 30 contos elevaram-se a 111 contos, sua receita de 45 contos alcançou no ano findo 104 contos, seu patrimonio de 54 contos passou a 556 contos. No dia 15 de dezembro realisou-se a eleição para Diretor e vice-diretor. Foram reeleitos os Prof. Sarmento Leite e Serapião Mariante. Podemos noticiar que o inicio dos trabalhos do predio da Faculdade no campo da Redenção será reiniciado brevemente. O corpo docente da Faculdade compõe-se atualmente dos seguintes professores: Phisica Medica: Ney Cabral, Chimica medica; Christiano Fischer Historia natural medica: Sarmento Barata, Histologia e Embriologia: João Marques Pereira, Anatomia Descritiva 1) Moyses Menezes, Fisiologia: Fabio de Barros., Anatomia Descritiva 2) Samento Leite. Microbiolobia: Pereira Filho, Clinica Propedeutica Medica: Plinio Gama, Clinica Propedeutica Cirurgica: Guerra Blessmann, Patologia Geral: Mario Totta, Anatomia e Patologia Fisiologicas: Gonçalves Vianna, Farmacologia e arte de formular : Paula Esteves. Patologia cirurgica Diogo Ferraz. Clinica Dermatologica e sifiligrafica: Ulysses Nonohay, Clinica oftalmologica: Victor de Britto, Clinica Cirurgica: Frederico Falk Clinica Cirurgica: Arthur Franco, Anatomia medico-cirurgica e operações: Froes da Fonseca, Terapeutica: Dias Campos, Clinica Medica: Thomaz Mariante, Clinica Medica: Aurelio Py, Clinica Medica: Octavio de Souza, Clinica pediatrica e higiene infantil: Gonçalves Carneiro, Clinica pediatrica cirurgica e ortopedica: Nogueira Flores, Clinica otorrinolaringologica: Julio Velho (interino), Patologia Medica: Alberto de Sousa. Higiene: Velho Py. Medicina Legal: Annes Dias, Clinica Obstetrica: Freire Figueiredo, Clinica ginecologica: Serapião Mariante, Clinica neurologica: Raul Moreira(substituto), Clinica psiquiatrica: Luiz Guedes, Clinica analitica: Waldemar Castro, Farmacologia 1}parte -Ivo Corseuil (interino), Farmacologia 2: Argemiro Galvão (interino), Clinica de protese: Fontoura Trindade, Clinica Estomalogica:Jose Paranhos, Patologia, terapeutica e higiene Dental: Cirne Lima, Substituto da Secção quinta: Octacilio Rosa, Substituto da 7 secção: Freitas e Castro, Substituto da decima secção: Martim Gomes, Substituto da 12 secçao: Guerra Blessmann, Substituto da 16 secção: Raul Moreira. Prof. Jubilado: Carvalho Freitas, Professores honorarios: Carlso Barbosa e Olinto de Oliveira./ Nicanor Letti - site: nicanor.letti@terra.com.br

Dr. Reynaldo Frederico Geyer

Reynaldo Frederico Geyer, filho mais velho de Inacio Guilherme Geyer, estudava medicina, e tinha quatro irmãos: Leopoldo Geyer, Carlos Geyer, Giorgina Geyer Costa e Olga Geyer Mundt. O pai dos Geyer unira-se com Leopoldo Masson (1845-1927) e fundaram a Casa Masson.Durante muitas décadas foi a grande Ourivesaria. Leopoldo Masson teve dois filhos, Ricardo e Luiz Masson, médicos, formados no Rio de Janeiro e foram professores da Faculdade de Medicina e Farmacia de Porto Alegre. A historia de Reynaldo liga-se intimamente a estas duas familias. Reynaldo Frederico Geyer ingressara na Faculdade de Medicina e Farmacia de Porto Alegre em 1901 e logo tornou-se grande amigo do jovem professsor de Anatomia, um dos fundadores da Faculdade, Eduardo Sarmento Leite Fonseca. O ano de 1901 foi dramático para a nova faculdade, necessitava a carta de aprovação do Ministerio da Justiça e Educação e a Equiparação as da Bahia e do Rio, fundadas por Dom João VI em 1808.Eram faculdades oficiais. Mas a Faculdade de Medicina e Farmacia de Porto Alegre era particular. A primeira do Brasil neste regime mas a terceira em funcionamento. Dois politicos famosos gauchos eram os coringas para agir junto ao Governo Federal. Nesta época, até 1924, ela funcionou na rua da Alegria (Gen.Vitorino) numero 55. O principal politico era o Dr. Jose Gomes Pinheiro Machado, e deputado Alberto Correa, finalmente chegou o telegrama e os estudantes desfilaram pela rua da Praia, dando vivas a Pinheiro Machado e ao Deputado . Entrevistei o Sr. Leopoldo Geyer, irmão de Reynaldo no dia 17.11.1979, na sua residencia da rua Padre Reus em Porto Alegre, estava com 90 anos. Mas lúcido e tudo sabia sobre o irmão. Revelou que ainda moço Reynaldo trabalhava em uma loja de ferragens e era estudioso e inteligente. Aprendera facilmente o esperanto e falava frances. Disse ao seu pai que estudaria medicina. Apresentou-se ao liceu e passou facilmente nos preparatorios. Afirmou tambem que gostava muito dos necessitados e para se manter dava aulas particulares. Ele foi lider estudantil e tomou parte ativa no movimento na Faculdade em 1906, necessitando terminar seus estudos de medicina no Rio de Janeiro. Este fato foi o da reprovação da tese de doutoramento do aluno Eduardo Soares Barcellos em 1906, este estudante era sobrinho da famoso e perpetuo provedor da Santa Casa Antonio Barcellos e morava com ele. O doutorando criticou os professores que não operavam as hernias cerebrais e deixavam as crianças falecerem sem qualquer auxilio. Os estudantes revoltaram-se contra a reprovação e tiveram o apoio do Prof. Sarmento Leite que desfilou abraçado com Reynaldo Geyer numa passeata de desagravo até na frente da Santa Casa. Mas a Congregação da Faculdade no dia seguinte reuniu-se e resolveu suspender 101 alunos e uma aluna da Escola de Enfermagem por um ano. Sarmento Leite discutiu intensamente e votou contra a suspensão, desde este fato Sarmento apoiado nos alunos iniciou sua liderança terminando em 1915 como diretor. Onde permaneceria até o ano de 1934. A maioria dos estudantes, e que tinham recursos foram para o Rio de Janeiro e terminaran o curso de medicina. Sarmento Leite acompanhou ate o porto a partida dos alunos para o Rio e principalmente de Reynaldo Geyer. No Rio cursou o ultimo ano e defendeu uma tese polemica "A medicina e os pobres", que foi aprovada. E foi trabalhar, por um tempo como médico, no fim da linha do trem, era onde moravam os pobres. Tinha o seguinte pensamento "é necessário terminar a miseria para terminar as doenças" disse-me Leopoldo Geyer na sua entrevista. Aproveitou tambem para aprender no Rio o trabalho em laboratorio, principalmente a reação de Wassermann para diagnosticar a sifilis e outras novidades. Quando voltou para Porto Alegre, em 1911, a Faculdade, isto é, Sarmento Leite soube que Reynaldo Geyer sabia realizar o teste de Wassermann conseguiu criar o Instituto Oswaldo Cruz, da Faculdade de Medicina. Foi o primeiro laboratorio de analises de Porto Alegre, fundado em 6 de maio de 1911, instalado em 25 de julho de 1911. "para pesquisas quimicas, serologicas e bacteriologicas etc. Os exames eram gratuitos para os doentes da Santa Casa, da "Casa de Correção" e para o pessoal da Faculdade. Reynaldo continuava estudioso e desejava fazer concurso para a Faculdade na cadeira de Patologia. Ao mesmo tempo militava no movimento anarquista, e esperantista, foi um dos fundadores da Escola "Elyseu Reclus" nome de um grande geografo anarquista frances. A escola funcionava a noite e nos feriados para os filhos dos operarios. Ensinava-se: esperanto, frances, portugues, aritmetica,, historia universal, desenho, ginastica sueca, mecanica, fisica e quimica. E palestras de Anatomia. Tambem fundaram o jornal "A Luta", e Reynaldo escrevia com os pseudonimos de "refrega", "alcaime' "FR" e outros. Mas nunca foi um anarquista violento era pacifico e acreditava no convencimento politico. Dois anos depois de trabalhar no Laboratorio de analises, a Faculdade abriu concurso para Patologia, um dos defensores do concurso era Sarmento Leite prevendo o canditado indicado seria Reynaldo Geyer. Mas nas vesperas da data de inscrição, surgiu um médico de Santa Maria, vindo do Rio de Janeiro para servir no exercito, um homem alto, jovem e charmoso. E casou com a filha do homem mais poderoso de Santa Maria O Eng. Gustave Vauthier, diretor das estradas de ferro pertencentes ao capitalista americano Percival Farqhuar. Este medico era o Dr. Alberto de Sousa, mais tarde conhecido como "cavalão". No dia do concurso estavam presentes todas as autoridades, e o concurso foi roubado escandolosamente pelo Dr. Alberto. Nas declarações do irmão e dos jornais todos achavam que o concurso deveria ser aprovado o Dr. Reynaldo, inclusive Ricardo Masson cortara relações com seu irmão Luiz, examinador do concurso que dera notas mais elevadas ao Dr. Alberto de Sousa. Este foi o inicio da carreira do Alberto, anos depois professor de Otorrinolarigologia. O concurso destruiu psicologicamente Reynaldo Geyer, com crises de esquizofrenia, tentou suicidio, e seu pai salvou-o arrombando a porta do quarto, no andar de cima da Casa Masson. Desde então começou passar as noites no famoso "Clube dos Caçadores",mas como piorou, Leopoldo levou-o para o Rio e internou-o no Hospital durante 10 anos. Como estava calmo voltou para Porto Alegre e ficou mais alguns anos na Chacara da Familia,na Cavalhada. Mais tarde vendida ao Dr. Alberto Pasqualini. E levaram-no para o Sanatorio Kempf em Santa Cruz onde permaneceu por muitos anos até sua morte. Foi enterrado por Carlos Geyer e seu filho Helio, e seus ossos trazidos para o jazigo da familia na entrada do Cemiterio São Miguel e Almas . Uma das ideias do Reynaldo Frederico Geyer é lembrar que ele convenceu seu irmão Leopoldo a vender joias a prazo, pois os pobres, quando podem compram joias, esta fato foi tão positivo que a Casa Masson alugou na Gen.Floriano salas para este tipo de vendas. As vendas em prestações rendiam mais que os do balcão da loja. Portanto, Reynaldo Geyer foi o inspirador do crediario no Brasil. E provocou a demissão de um dos seus gerentes o Sr Scarpini, que fundou sua loja. Nicanor Letti - site: nicanor.letti@terra.com.br.

A Formatura de 1936

Sarmento Leite falecera em 1935. O Prof. Frederico Falk o substituira como interino. O Gen. Flores da Cunha, presidia o Estado. O Professsor Blessmann eleito deputado estadual, presidia Assembléia. Vários médicos e professores eram deputados, inclusive o Dr. Oswaldo Hampe, clinicando em Antonio Prado, formado em 1915, era membro da assembléia. Flores em 1936 preparava algo, comprava armamento, e Vargas ja tinha na retina o Estado Novo. Os formandos de 1936 da Faculdade de Medicina, Odontologia e Pharmacia e a solenidade da formatura, onde muitos falavam, tanto representantes dos formandos, como os paraninfos. Flores era o convidado especial. Mas os formandos sofreram uma dissidencia, dividiram-se em dois grupos: não conseguimos saber exatamente o que aconteceu pela ruptura, os dissidentes alegaram não ter dinheiro para o smoking oficial, e se formariam pela manhã com um traje branco. Os outros a noite. Mas os paraninfos e os homenageados seriam os mesmos para os dois atos.A formatura pela manhã foi reservada aos parentes. O Prof.Frederico Falk aceitou a situação e presidiu as duas solenidades. Sabia-se que um dos dissidentes o doutorando Adolpho Pfeir Krebs, fora preso e torturado pelo governo estadual por motivos politicos. Os dissidentes eram: Alvarino Fontoura Marques, Arthur Ignacio do Prado, Adolpho Pfeir Krebs, Aristoteles Waltrick, Aparicio Almeida Maciel, Carlos Candal dos Santos, Carlos Osorio Lopes, Clovis Bopp, Darcy Farias Lima, Darcilio Garcia, Ernani Carvalho da Costa, Edmndo Olzewesky, Eugenio Adams, Flavio Pinheiro de Freitas, João da Silva Silveira Neto, Jose de Barros Falcão, Josue Pereira de Souza, Lesy Caravantes, Lauro Muller, Luiz Magalhães Vieira, Miguel Riet Correa, Mauricio Seligmann, Newton Azevedo, Pedro Falci, Romeu Mucillo, Saul Saldanha, Salvador Petrucci, Telmo Snell, Thomas Pereira, Ulrico Ambros, Vicente Martins Real, Victorio Velloso e Milton Costa (pharmacolando). Na cerimonia à noite, revestiu-se de toda a imponencia, o salão nobre da Faculdade de Medicina tornou-se pequeno pelo publico, parentes dos formandos, autoridades e os alunos que fizeram uma entrada vestidos com smokings. A mesa foi ocupada pelo Gen. Flores da Cunha, pelo diretor, pelo gen. Emilio Lucio Esteves cmt.da Região Militar e de varios professores, inclusive os tres paraninfos: Os professores Paula Esteves pelos doutorandos, Adalberto Pereira da Camara pelos odontolandos e Henrique de Oliveira pelos pharmacolandos. Tambem presentes os prof. Thomaz Mariante, Raymundo Vianna, Adayr Eiras de Araujo e Sarmento Barata. Tomou logo a palavra o Dr. Frederico Falk, diretor interino, explicando a solenidade daquele ato da formatura de jovens medicos, odondolandos e um pharmacolando. Foi chamado em seguida o Luiz Assumpção Osorio que havia defendido tese, embora não fosse mais obrigatoria como alguns anos se fazia. doutorando leu o "Juramento de Hipocrates" e os demais chamados repetiam "eu prometo" e recebiam anel do diretor e o diploma: Abrahão Carpilowsky, Aldo Silveiro Chaves, Alvaro B. Sant'Anna, Antonio F.S. Acioli, Antonio H.S.Luderitz, Apollo Correa Gomes, Antonio F. Casagrande, Armando Abreu Pinto, Caio Fontoura Escobar, Carlos Nunes Tiebohl, Ceciliano R. Teixeira, Cyro Soares Leães, Carson Teixeira Netto, Darcy G. Nogueira, Decio Pinto de Oliveira, Dinarte Ribeiro Netto, Edgardo Pereira Velho, Eurico S.P. Pinheiro, Floriano P. Machado, Francisco D. Ferreira Filho, Gabriel Tabbal, Gabriel M.T. de Moraes, Gaston Festugato, Gilberto Mangeon, Guilherme A.S. Soares, Helio B. Ferreira, Hermes Rodrigues, Homero de Macedo, Jairo Leandro, João Carlos Boeira, João Vargas Amaral, Jose Caldas Rodrigues, Jose F.P. de Moraes, Jose Moacyr Rib de Martins, Jose S. Antunes Filho, Lindolpho J. Dornelles, Luiz F. Assumpção Osorio, Luiz Matins Bastos, Luiz Muller Piracelli, Manoel Luiz Soares Pitrez, Mario Garrastazu Medici, Mario Jacinto Salis, Newton C,P. Degrazia, Nicolau F. Celiberto, Olavo Meira, Olecio Cavedini, Osmar Pilla, Oscar Vasconcellos Borges, Paulo Carvalho Ribeiro, Ruy Fortini, Rui dos Santos Lisboa, Saturnino J. Reis Velho, Syrio Martins Trois, Theodomiro A. Ferreira, Umberto Torelly Lubisco, Vanius Genio Lubisco, Viginio M. da Silveira, Walter Fernandes, Zeferino Bittencourt. Pharmacolandos: Erna M. Doehe, Ildefonso Trois Motta, Ruy Marques, Ruben Green R. Dantas. Odontolandos: Ney Rosa Brasil, Francisco Molinaro, Evandro Cintra Vidal. Apos foram entregues os premios Raul Leite e Carlos Chagas para o doutorando Gabriel Taball. Em seguida discursaram o doutorando Cicero Leães , e os paraninfos das tres categorias.
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